ENERGIA ELÉTRICA: IPCA pode ir a 6,5% na bandeira vermelha, projetam economistas
Reajuste da bandeira vermelha na conta de luz que deve ser definido este mês pela Aneel e pode ser maior que os 21% propostos em consulta pública, elevará inflação acima do teto da meta
- Data: 24/06/2021 10:06
- Alterado: 24/06/2021 10:06
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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Mesmo que ainda indefinido, o reajuste dos valores das bandeiras tarifárias de energia elétrica já tem provocado elevações nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que chegam a 6,5%, mais de 1 ponto acima do teto da meta (5,25%).
A bandeira vermelha patamar 2 pode vigorar até dezembro em meio à maior crise hídrica dos últimos 90 anos. Novos valores das bandeiras devem ser anunciados este mês, segundo o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone.
Ele indicou que o reajuste da faixa vermelha 2, a mais cara do sistema criado em 2015, poderia superar o aumento de 21% proposto em consulta pública, em março. O mercado cogita uma alta de até 60%, o que levaria a cobrança extra para R$ 10 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos.
A bandeira vermelha 2, que tem custo adicional de R$ 6,243, iria a R$ 7,571 caso adotada a proposta da consulta pública. A bandeira vermelha 1 subiria 10,3%, de R$ 4,169 para R$ 4,599. Em relação à bandeira amarela, a proposta era de redução, de R$ 1 343 a cada 100 kWh para R$ 0,996 – queda de 25,8%.
O economista João Fernandes, sócio da Quantitas Asset, passou a considerar o aumento de 60% da bandeira vermelha 2, mas com uma probabilidade de 70% de ser essa faixa em dezembro e de 30% de ser a bandeira vermelha 1. Sua projeção para o IPCA subiu de 6 40% para 6,50%. Nas contas dele, o impacto de um aumento a R$ 7 57 sobre o IPCA seria de 0,10 ponto porcentual. Caso chegue a R$ 10, o efeito seria de 0,27 ponto porcentual.
Na LCA Consultores, o economista Fábio Romão trabalha com um aumento da taxa extra da bandeira vermelha 2 para R$ 7,57, com impacto de 0,10 ponto sobre o IPCA, o que elevou de 6,13% para 6 23% sua estimativa para 2021.
O economista Leonardo França Costa, do ASA Investments, cogita 21% sobre a bandeira vermelha 2, com impacto de 0,07 ponto sobre o IPCA de julho. Caso o aumento seja de 60%, o efeito seria de 0,21 ponto no sétimo mês.
A meta para a inflação deste ano é de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). Para 2022, a meta foi fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3,50%, também com margem de tolerância de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%).
ALÍVIO
França Costa pondera que, mesmo se a Aneel anunciar um reajuste de 60% da bandeira vermelha 2, há chance de a projeção para 2021 ficar inalterada em 6%, uma vez que os preços de alimentos mostram algum alívio, com a reversão das commodities no mercado internacional e também taxas mais brandas no atacado. “E o clima mais seco pode estar favorecendo os (produtos) in natura. Não é um grande alívio, mas pode ajudar a compensar a parte da bandeira.”
Segundo o economista, o cenário de curto prazo está bastante pressionado. Os riscos para cima em 2021 são veículos, em industriais, e os serviços ligados à reabertura econômica, além de combustíveis. Para baixo, plano de saúde pode ajudar com a chance de reajuste negativo.
Para 2022, Romão, da LCA, explica que manteve a estimativa em 3,80% depois de incorporar o aumento da bandeira vermelha 2 a R$ 7,57, já que a inércia maior deste ano compensaria o alívio com a bandeira amarela projetada para o encerramento do próximo ano.
ESTIMATIVAS PARA 2022
“Contudo, a coisa muda de figura se o diferencial entre a bandeira vermelha 2, na hipótese de R$ 10,00 por 100 kWh, e a amarela ficar bem maior. Ou seja, nesse caso, e ainda mantendo bandeira amarela ao final de 2022, a LCA teria que retirar alguns pontos-base da expectativa de IPCA para 2022. A princípio, mudaria de 3,8% para perto de 3,6%“, explica.
Na Quantitas, a estimativa para 2022 também não sofreu mudanças. “Eu já tenho um viés para cima para o ano que vem, então preferi manter a projeção em 4,0%”, diz Fernandes, acrescentando que considera probabilidade de 50% para bandeira vermelha 1 no fim de 2022 e de 50% para amarela. Segundo o economista, a projeção de Selic a 8,25% no ano que vem também ajuda a deixar a projeção estável.
O economista afirma que há também preocupação com a energia no ano que vem. “Se não chover o suficiente no período úmido (novembro a abril), teremos um ponto de partida muito ruim para os reservatórios no ano que vem, mantendo as pressões sobre as bandeiras. Mas temos que aguardar o desenrolar das chuvas para ter mais clareza sobre esse risco.”