Roda Viva Toffoli critica “notinhas públicas” e diz que Bolsonaro dialoga com extremos
No programa Roda Viva, Toffoli diz que não haverá unidade no país com divulgação de "notinhas públicas" e minimizou a interação do presidente Jair Bolsonaro a atos antidemocráticos
- Data: 12/05/2020 10:05
- Alterado: 22/08/2023 21:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:
Para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, a democracia deve ser defendida “permanentemente”. Ao ser perguntado em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, se a democracia no Brasil está em risco, ele afirmou: “A democracia é fruto da cultura humana e não é natural em toda sociedade humana, então deve ser defendida permanentemente”. Em seguida, Toffoli completou: “o que está em jogo hoje não é democracia em si, é democracia representativa. Hoje, há ‘uberização’ da política. Querem fazer política diretamente.”
Ao ser questionado sobre as atitudes dos apoiadores do presidente, Toffoli afirmou que não se podem admitir manifestações contra a democracia. “Jair Bolsonaro foi eleito pela direita, com proposta liberal na economia e conservadora nos costumes. Ele dialoga com esse eleitor falando com os extremos para puxar o centro para lá. É uma linha política centrífuga,” afirmou, ressaltando que esse fenômeno também acontece em outros países. Com isso, diz Toffoli, Bolsonaro tem uma base de extremistas que defendem posições antidemocráticas, como o fechamento do Supremo – embora o presidente do STF ressalte que nunca ouviu esses posicionamentos diretamente de Bolsonaro.
“Nós não vamos construir unidades e solução de problemas através de notinhas públicas. Não é soltando notas que se resolve problemas tão graves como os que nós temos no nosso país. Temos que resolver isso, primeiro, na política. E a política é aqueles que são governos eleitos pelo povo”, disse.
PRESSÃO
Dias Toffoli afirma na entrevista que não sente que a reunião entre ele, o presidente Jair Bolsonaro e empresários tenha sido uma maneira de o Executivo pressionar a Corte
Covid-19
Para o presidente do Supremo, os setores público e privado da área de saúde devem discutir formas de lidar com o tratamento a pacientes de covid-19. Mesmo assim, ele afirmou que o direito à saúde é universal e que “o Judiciário não vai falhar em dar a garantia constitucional necessária para o atendimento à saúde”.
O ministro não entrou em detalhes sobre ser favorável a fila única para pacientes do novo coronavírus – com o objetivo de possibilitar que pessoas atendidas pelo sistema público possam ter acesso a leitos de hospitais privados – porque há a possibilidade de o Supremo julgar casos ligados a esse tema.
Ele disse que o correto seria “setor público e privado dialogarem e criarem protocolos”. De acordo com Toffoli, só se procura o Judiciário quando os outros meios de resolver conflitos falharem. “A Itália passou pela escolha de Sofia – quem entra e sai da UTI. Isso, quem deve resolver são as autoridades competentes da área de saúde”.
Exame de Bolsonaro
Em relação aos exames de covid-19 do presidente da Jair Bolsonaro, Toffoli também não quis entrar em detalhes e disse que se manifestará nos autos. O jornal O Estado de S. Paulo recorreu ao Supremo após o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, desobrigar o presidente de apresentar os exames feitos para detectar a doença.
O presidente do Supremo disse, no entanto, que “todos os cidadãos devem ter cuidados com o covid-19”, até mesmo quem já fez os exames e até quem já contraiu o vírus. “Se alguém que já pegou sair por aí cumprimentando pessoas e depois abraçar outra que não tenha, pode fazer a transmissão”, afirmou.