Médicos Sem Fronteiras: “Espanha precisa melhorar atendimento a idosos com COVID-19”
MSF pede que todos os pacientes de COVID-19 em estado terminal recebam tratamento para aliviar a dor e ressalta importância do apoio à saúde mental de profissionais, familiares e pacientes
- Data: 10/04/2020 12:04
- Alterado: 10/04/2020 12:04
- Autor: Redação
- Fonte: MSF
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A organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou nesta quinta-feira (09/04) que está extremamente preocupada com a situação de pessoas idosas na Espanha, diante da pandemia de COVID-19. A organização faz um apelo às autoridades de saúde espanholas para que o atendimento a pacientes idosos seja compassivo e que haja despedidas dignas entre eles e familiares, tanto nas horas finais de vida quanto logo após a morte. MSF observa que a medida deve ser feita com devido respeito pelas normas de distância e proteção.
“Há idosos morrendo sozinhos, sem a família, em lares e hospitais, o que não deve acontecer. Temos que encontrar uma maneira segura de todos nós oferecermos a essas pessoas uma despedida digna”, diz David Noguera, médico, presidente de MSF na Espanha e coordenador das atividades de MSF na Catalunha. “Sabemos que eles são o grupo mais vulnerável, cuja saúde é mais ameaçada pelo coronavírus. Portanto, são eles que merecem urgentemente mais atenção“.
Parte dos regulamentos espanhóis desenvolvidos em resposta à COVID-19, o ‘Procedimento para lidar com cadáveres de casos COVID-19’ afirma que “antes de prosseguir com a transferência do cadáver, a família e os amigos devem ter acesso ao corpo para se despedirem, restrito apenas aos mais próximos do falecido.” Na mesma linha, as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) aplicáveis a este tipo de pandemia estabelecem o direito essencial do paciente de receber visitas.
Nesse contexto, os lares de idosos devem ser uma parte essencial da resposta do sistema de saúde e devem ser capazes de fornecer todos os cuidados médicos apropriados para seus residentes, sempre fornecendo encaminhamentos hospitalares rápidos, quando necessário.
“É vital que o gerenciamento da situação nos lares seja incorporado ao gerenciamento abrangente e unificado desse surto, como parte essencial da resposta do sistema de saúde. Temos que ir além das fronteiras jurisdicionais entre os departamentos do governo local e nacional. Como outras divisões administrativas, elas são úteis em uma situação normal, mas são um obstáculo quando as medidas necessárias precisam ser agilizadas“, diz Noguera.
Centros de atendimento especializado
MSF também defende que pacientes terminais recebam tratamento para dor, seguindo os protocolos usuais. “É essencial que essas pessoas tenham acesso a profissionais especializados em cuidados paliativos, seja em casa, no hospital, em uma unidade de saúde externa, em uma casa de repouso ou no que chamamos de ‘pavilhão do conforto’. Esta última opção é uma instalação temporária equipada com medicamentos analgésicos para pacientes terminais, projetada para oferecer cuidados paliativos de maneira digna durante suas horas finais“, explica o dr. Noguera. “Sabemos que estão sendo feitos esforços. MSF quer ajudar os idosos da Espanha a se despedirem dignamente de suas famílias. Por esse motivo, iniciamos um projeto nessa frente em Barcelona e estamos replicando em todo o país.”
Atualmente, MSF vem aconselhando autoridades e profissionais de casas de repouso e asilos sobre cuidados paliativos, manuseio de equipamentos de proteção individual, medidas de higiene e desenho dos fluxos de pacientes para reduzir o risco de disseminação do novo coronavírus.
O apoio psicossocial e à saúde mental é outro elemento-chave nesse processo. Noguera ressalta que essa atividade é fundamental “não apenas para idosos, mas também para suas famílias. E para os profissionais e equipes médicas e sanitárias, que trabalham dias longos, exaustivos e extremamente difíceis, vendo seus pacientes morrerem sozinhos, sem nenhum contato com a família. ”
“MSF e a sociedade espanhola exigem que os pacientes tenham o direito de viver e morrer com dignidade. Somente juntos venceremos essa pandemia. E somente trabalhando juntos encontraremos uma maneira de nossos idosos e suas famílias receberem os cuidados dos quais merecem”, concluiu o médico.