‘É preciso investir na base da ginástica se quisermos campeões’, diz Arthur Zanetti
Aos 30 anos, atleta vai buscar em Tóquio a sua 3ª medalha olímpica e alerta que o Brasil tem de pensar no futuro. Acompanhe a entrevista do atleta Sul-Caetanense
- Data: 16/02/2020 09:02
- Alterado: 16/02/2020 09:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Oswaldo F/Divulgação
Dono da única medalha de ouro da ginástica brasileira, conquistada em Londres-2012, Arthur Zanetti corre atrás de um feito mundial em Tóquio. Ele pode se tornar o primeiro ginasta com três medalhas olímpicas nas argolas. A outra, de prata, foi obtida nos Jogos do Rio. “Encaro isso como uma motivação, mas não é a prioridade”, garante.
O País já conquistou quatro vagas na ginástica, mas precisa definir os nomes dos atletas. Zanetti certamente será um deles. A busca da terceira medalha é o resultado de uma carreira vitoriosa – e longa. Zanetti vai completar 30 anos em abril. “Não me considero velho. Estou no auge. Acho que ainda dá para pensar no próximo Pan”, diz o atleta referindo-se aos Jogos de 2023.
A idade trouxe serenidade e manteve a simpatia e a simplicidade do ídolo. Quando chegou para a entrevista ao Estado, o campeão olímpico se apresentou: “Prazer, sou o Arthur”. Depois pediu desculpas pela demora – o treino da manhã de quarta-feira foi longo – e não fugiu de perguntas pessoais. Na saída, deixou o ginásio sozinho, com a mochila nas costas, caminhando pelas ruas do bairro de Santa Maria, em São Caetano do Sul.
ACOMPANHE A ENTREVISTA
Você pode se tornar o único do mundo com três medalhas nas argolas. Pensa nisso?
Não. Eu utilizo como motivação. Já coloquei na cabeça que vou entrar para a história da ginástica mundial e uso isso como motivação para vir treinar duro. Nem coloco como prioridade. Eu coloco a força de vontade de disputar uma Olimpíada no Japão. Acho que será a Olimpíada mais perfeita da história. Em organização, tecnologia, ginásios e receptividade. Eu quero ter essa experiência e buscar pelo menos uma final.
Você estará com 30 anos, se considera velho?
Não me considero velho. Estou bem. Consigo fazer os movimentos e estou até aperfeiçoando alguns. Fazemos exames de rotina e posso dizer que estou no auge. A gente tem de se cuidar mais, fazer fisioterapia, descansar e se alimentar melhor. Sucesso é treino, descanso e alimentação. Na final de argolas do ano passado, os mais velhos eram eu, Petrounias (29 anos) e o Samir (30 anos). A gente deu para o gasto. Ficamos lá em cima.
Você sente muitas dores?
Por incrível que pareça, não. Temos as dores normais por causa do início do ano.
Vai se aposentar neste ano?
Não penso em aposentadoria. O esporte olímpico vive de ciclos. Quando acaba, a gente vai pensar no que vai fazer. Não estou pensando em parar.
Dá para pensar no Pan?
Acho que dá para pensar sim. A gente pode planejar. Depois que acabar o ciclo, a gente vai ver o que fazer.
O que mudou nesses seus três ciclos olímpicos?
Eu estou mais experiente. Descobri que, quanto mais eu me pressiono, pior é a minha prova. É só eu estar mais tranquilo e esquecer do resto.
Você já definiu a estratégia para os Jogos de Tóquio?
Conversei com a comissão técnica para saber se vamos competir nas argolas, salto ou solo. Eles ainda não decidiram porque a equipe não está formada. Eles precisam saber os atletas que vão participar da Olimpíada para saber o que cada um vai fazer. Eles vão definir no começo de junho.
Qual é sua opinião pessoal?
Individualmente, eu acredito que o planejamento será como 2016. Estou trabalhando as argolas, mas faço solo e os saltos. Estou focando bastante nas argolas mesmo para conseguir pelo menos uma final.
Do que o Brasil precisa para ter mais campeões na ginástica?
Precisa investir na base. Se você investir na base, consegue ter mais quantidade. A partir da quantidade de atletas, é possível tirar a qualidade.
Temos isso hoje?
Hoje, não temos isso. Nosso Campeonato Brasileiro infantil conta com 200 atletas. Nos Estados Unidos, são 5.000. É mais fácil tirar a qualidade de 5.000 do que de 200. Também é importante investir na parte técnica. Investir nos técnicos é essencial. A aparelhagem ajuda? Sim. Mas não é essencial. Nós não tínhamos aparelhos de marcas importadas, mas fomos campeões olímpicos.
O problema é que a ginástica não é muito popular no Brasil…
Depois de 2016, ela se tornou um pouquinho mais popular. É um esporte que todo mundo quer ver na Olimpíada. A ginástica masculina foi uma das modalidades com maior audiência na tevê. Ela está ganhando seu espaço, mas ainda precisamos trabalhar para ter maior visibilidade e atingir as crianças e as famílias.
E os patrocínios?
O patrocínio estava muito bom até 2016. Foi excelente. A gente sabe que a situação está bem difícil. Tenho apoio da Adidas, Caixa, FAB, Ministério do Esporte, Confederação de Ginástica, o COB e a prefeitura de São Caetano. Não perdi patrocínios. Os atletas que estão começando vão sofrer um pouquinho.
Você projeta a retomada dos investimentos em quanto tempo?
O Brasil precisa melhorar economicamente. Depois, mais um ano e meio ou dois anos para os patrocínios começarem a aparecer.