Eduardo Kobra transforma cilindro inativo em obra de arte em prol da vida

Os recursos obtidos com a venda da peça serão aplicados integralmente na construção de duas usinas de oxigênio no Amazonas

  • Data: 05/02/2021 20:02
  • Alterado: 05/02/2021 20:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria
Eduardo Kobra transforma cilindro inativo em obra de arte em prol da vida

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Na primeira ação do recém-criado Instituto Kobra, que tem como base a premissa de que a arte é um instrumento de transformação, o conhecido muralista brasileiro Eduardo Kobra transformou um cilindro de oxigênio, em desuso, de 1m30, em uma obra de arte, exemplar único, chamada “Respirar”.  Kobra pintou o cilindro como se fosse um recipiente transparente, com uma árvore plantada dentro. Inicialmente o artista colocaria a obra em um leilão e doaria 100% do valor a instituições que estão sofrendo com a falta de oxigênio. “A mensagem central é a importância da vida. Que o sopro da minha arte ajude a levar um pouco de oxigênio para os hospitais mais necessitados e, ao mesmo tempo, provoque a reflexão sobre a importância de usar máscaras, lavar as mãos constantemente, manter o isolamento social e, claro, de preservar a natureza, que é um patrimônio de toda a humanidade”, diz o artista.

Através da ONE, do Grupo VG, parceiro para onde Kobra desenvolve todas as peças do Grafite Garden, o movimento UniãoBR tomou conhecimento da iniciativa e resolveu adquirir a obra “Respirar’, unindo cotas de seis famílias. A obra foi adquirida por 700 mil reais. Os recursos obtidos com a venda da peça serão aplicados integralmente na construção de duas usinas de oxigênio, que na próxima segunda-feira, 8 de fevereiro, começam a operar em duas cidades do Amazonas.

Na prática, isso significa que serão 20 leitos de UTI’s beneficiados 24h por dia, numa ação perene, que ficará como legado para a cidade. Em um dia, a usina vai gerar 480 horas de oxigênio. Em um mês, serão 14.400 horas. “A título de comparação, um cilindro abastece um leito de UTI com oxigênio por até 10 horas. Ou seja, para fazer uma entrega equivalente à usina, seriam necessários mais de 1.400 cilindros por mês. Com 700 mil conseguiríamos comprar 350 cilindros, o que equivaleria a 3.500 horas”, conta o muralista.

“Ficamos sensibilizados com a delicadeza do Kobra em desenvolver uma obra especialmente para essa situação tão delicada que estamos passando. Ele é um artista por quem temos carinho, e está sempre conectado às causas sociais e ambientais.  O cilindro deverá ser colocado no Shopping Iguatemi (data indefinida), em São Paulo, para que o público possa ver e se engajar”, conta Gabriela Marques Conti, diretora de Operações da UniãoBR. Após a exposição, a obra deverá ser levada para o Hospital Israelita Albert Einstein, também em São Paulo.

Bruno Watanabe, CEO do Grupo VG, destaca o envolvimento do parceiro Kobra nessa ação, bem como valoriza a receptividade da UniãoBR. “Foi um encontro feliz, de dois lados que estão comprometidos com uma causa maior, que é cuidar das pessoas”, diz Watanabe.

Campanhas em 2020

No ano passado, Kobra utilizou seu talento para uma campanha que ajudava famílias desassistidas, com situação de vulnerabilidade ainda mais agravada pela pandemia do Covid-19. Fez o painel “Coexistência”, onde mostrava crianças de cinco religiões – budismo, cristianismo, islamismo judaísmo e hinduísmo – em oração e vestindo máscaras. Uma Serigrafia da obra foi sorteada entre as pessoas que fizeram doações. Com o valor arrecadado, R$ 450 mil, foram produzidos e distribuídos 20 mil kits.

Pouco depois, com o leilão da tela “Ao Líbano com Carinho”, conseguiu arrecadar 50 mil dólares para as vítimas da explosão ocorrida na zona portuária de Beirute, capital libanesa. “A obra mostra duas mãos, que simbolizam as mãos da humanidade, levantando o cedro do Líbano, que é um símbolo de paz, de fraternidade, de união e respeito”, disse o artista, que utilizou a bandeira do Líbano como a base para a pintura. “O vermelho representa o sangue derramado pelas pessoas que se feriram ou morreram nas lutas para livrar o país das forças externas; o branco representa a permanente busca pela paz e a beleza das montanhas cobertas pela neve; e o cedro, árvore presente em boa parte do país, é um símbolo de força e eternidade”, explicou Kobra.

Instituto Kobra: a arte como instrumento de transformação social

Nasce agora, em fevereiro de 2021, o Instituto Kobra, entidade que acredita na arte como instrumento de transformação social de adolescentes e jovens em estado de vulnerabilidade no Brasil. Fundada e presidida pelo artista Eduardo Kobra, a instituição parte da própria biografia de seu criador para fundamentar a importância e o papel da cultura como agente transformador de vidas e realidades.

O Instituto Kobra deverá promover ações, prioritariamente em comunidades periféricas, levando manifestações artísticas — não só das artes plásticas e do grafite, mas também da música, do teatro e da literatura — àqueles que costumam ter menos acesso a museus e centros culturais.

Uma experiência embrionária foi o projeto Galeria Circular, realizado em 2019. Transformado em galeria itinerante de arte, um ônibus adaptado percorreu 12 bairros da região metropolitana de São Paulo apresentando 14 obras de Kobra que estiveram ou ainda estão expostas em diversos locais pelo mundo. O artista idealizou e participou de todos os dias do projeto, interagindo muito com o público.

O Instituto Kobra surge também para funcionar como um espaço para promoção de causas por meio da arte — principalmente aquelas que fazem parte dos princípios do muralista, como a defesa do meio ambiente, o discurso pacifista, a pauta antirracista, o respeito entre os povos e a luta pela liberdade.

Neste sentido e considerando o momento sensível atravessado pelo País no combate à pandemia de covid-19, a primeira ação concreta da instituição foi usar sua arte para levar oxigênio para hospitais de Manaus. Eduardo Kobra transformou um cilindro inutilizado em uma obra de arte.

Mas o Instituto Kobra não se resumirá a ações desse tipo. No projeto estão previstas outras maneiras de promover a cultura, com palestras e oficinas e realização de pinturas públicas em comunidades mais vulneráveis.

Além do próprio Eduardo Kobra, a entidade viabilizará a presença de outros muralistas e grafiteiros, brasileiros e estrangeiros, que, por meio de intercâmbios culturais, irão levar sua arte, seu conhecimento e suas histórias de vida a esses jovens de periferia.

A sensibilidade do muralista para o tema vem do berço. Kobra nasceu em 1975, no Jardim Martinica, bairro pobre da zona sul paulistana. Da mesma maneira como a arte mudou sua vida, ele acredita que a cultura em geral pode ser uma ferramenta de transformação social para muitos jovens brasileiros.

Para viabilizar esses projetos, o Instituto Kobra está aberto a firmar parcerias com empresas e outras entidades que queiram promover ações culturais junto a adolescentes e jovens de periferia.

Por conta do estado de pandemia, o Instituto Kobra definiu que, neste primeiro momento, todas as suas atividades devem ser estruturadas online. Quando — espera-se que em um futuro próximo — a situação atual for superada e eventos públicos puderem tornar a ocorrer com segurança, atividades presenciais serão divulgadas.

Trabalhos recentes e outros murais

Mural Escadateca!

O muralista brasileiro Eduardo Kobra, 45 anos, volta a Sorocaba, interior de São Paulo, na próxima quinta-feira, 11 de fevereiro, para pintar a parte final do grande mural Escadateca, que fez em uma empena do Colégio Ser! (à rua Doutor José Aleixo Irmão, 301, no Alto da Boa Vista). Com 22 metros de altura por 11 de largura, o mural, que pode ser visto também, inteiro, por quem está fora da escola, na rua mostra um menino subindo uma estante em uma biblioteca à procura de um livro. Para o mural, Kobra, que pintou acompanhado por dois artistas de sua equipe, Agnaldo Brito e Marcos Rafael, utilizou 350 latas de spray e 20 galões de esmalte.

É o 17º. trabalho do conhecido artista urbano Kobra com temáticas ligadas à literatura e livros em geral. “Não tive uma educação acadêmica, mas sou autodidata e os livros me ajudaram desde sempre. Pesquiso muito as biografias dos ‘personagens’ que destaco em minhas obras e, também, sobre as cidades que visito: busco imagens, fotografias e textos. Por isso, tenho procurado trazer nos murais a importância dos livros para a cultura do País e à formação e crescimento das pessoas”, conta o muralista.

Antes de iniciar o mural Escadateca, que foi realizado em cerca de 30 dias, com muitas dificuldades devido às chuvas intensas durante o período, Kobra utilizou as redes sociais e pediu para que as pessoas sugerissem livros. “De acordo com a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil”, o Pai´s perdeu 4,6 milho~es de leitores nos u´ltimos quatro anos. Isso na~o e´ nada bom: ja´ somos um povo que le^ pouco e os nu´meros indicam que esse ha´bito esta´ diminuindo. Atualmente, apenas 52% da populaça~o brasileira te^m o costume de ler. Estou preparando um painel para destacar a importa^ncia dos livros, das obras da literatura brasileira. Quero sua ajuda para saber quais livros devo destacar. Comente aqui: qual seu livro brasileiro favorito? Qual obra mais marcou sua infa^ncia? Vamos fazer esse mural juntos?”, escreveu o artista no instagram.

O muralista recebeu cerca 4.000 mil sugestões de títulos nacionais. Os 100 livros mais indicados, além de cerca de 50 escolhidos pelo próprio artista, serão colocados no mural. “O mural já foi entregue, mas estamos voltando para escrever os nomes dos livros que faltam”, conta o artista, que acrescenta: “o menino subindo a escala, à procura do livro, também simboliza a ascensão que a busca do conhecimento possibilita nos mais diversos sentidos. Não é fácil, mas é uma viagem fascinante que podemos buscar e alcançar”, afirma.

Cerca de 100 títulos já estão pintados na obra, como “Os Sertões”, de Euclides da Cunha; “Vidas Secas” e “Angústia” de Graciliano Ramos; “Dom Casmurro”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Quincas Borba” e “O Alienista”, de Machado de Assis; “Iracema” e “Luciola”, de José de Alencar; “O Quinze”, de Rachel de Queiroz;  “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo; “A Hora da Estrela” e “A Paixão Segundo G.H”, de Clarice Lispector; “Capitães de Areia”, de Jorge Amado; “Sagarana” e “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa; “Nova Reunião”, com 23 livros de Carlos Drummond de Andrade;  “200 Crônicas Escolhidas”, de Rubem Braga; “Eu Passarinho”, de Mário Quintana; “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna; “Estorvo e Budapeste”, de Chico Buarque”; e “Flicts” e “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo.  

Entre outros livros que entrarão na obra, Kobra destaca “Marcelo, marmelo, martelo”, de Ruth Rocha; “O fantástico mistério de feiurinha”, de Pedro Bandeira; “Raul da Ferrugem Azul”, de Ana Maria Machado;; “histórias mal-assombradas do tempo de um espírito da floresta” e “histórias mal-assombradas do tempo da escravidão”, com texto de Adriano Messias e com ilustração de Andréa Corbani; “Felicidade Crônica”, de Martha Medeiros; “Becos da memória”, de Conceição Evaristo; “Contos Negreiros”, de Marcelino Freire; Opisanie Swiata”, de Veronica Stigger. “O Centauro no Jardim”, de Moacyr Scliar; “Millôr Definitivo – A Bíblia do Caos”, de Millôr Fernandes, “A Terra dos Mil Povos – História indígena contada por um índio”, de Kaká Werá Jecupé; “O Karaíba – Uma história do Pré-Brasil”, de Daniel Munduruku; “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, de Ailton Krenak; “Fiel”, de Jessé Andarilho; “Capão Pecado”, de Ferréz; “Flores de Alvenaria”, de Sérgio Vaz; “Canto dos Malditos”, de Austregésilo Carrano Bueno; e Cem dias entre céu e mar” e “Paratii – Entre Dois Polos”, de Amyr Klink. “Ainda estou escolhendo algumas biografias, que são livros fundamentais para meu trabalho e alguns cronistas, como Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Luís Fernando Veríssimo, que lemos tanto na escola” diz. 

  Esse mural é o primeiro de Kobra em 2021. No final do ano passado, pintou na altura do km 44 da rodovia Presidente Castelo Branco o mural “A Linha da Vida”, com 600 metros quadrados. A obra traz oito personagens. Começa com uma criança e termina com uma senhora de cerca de 80 anos de idade.

   Também em dezembro, Kobra fez em Coxim, na região norte do Mato Grosso do Sul um novo projeto, ainda sem nome definido, de resgate, manutenção e valorização das culturas regionais. Ele fez o mural do compositor Zacarias Mourão, de 6 metros por 19,60 metros, na praça “Zacarias Mourão”. O mural virou atração da cidade.  De acordo com o artista, o mural sobre Zacarias Mourão dá início a um antigo sonho de realizar um projeto de valorização das culturas regionais. “Dizia o escritor russo Leon Tolstói (Lev Tolstoi) que ‘universal é o homem que escreve sobre a própria aldeia’. Por isso, ao mesmo tempo em que faço murais para destacar grandes nomes que contribuíram para a história do País, como o arquiteto Oscar Niemeyer e os compositores Chico Buarque e Adoniran Barbosa; e nomes que contribuíram para a paz, liberdade, arte e humanismo no mundo, como Nelson Mandela, Martin Luther King, Malala Yousafzai, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e John Lennon, sempre quis criar um projeto que falasse sobre nomes que contribuíram para a cultura das próprias regiões”, conta o artista urbano, que complementa: “além disso, já pintei em cinco continentes mas não conheço a maioria dos estados do meu próprio país. Será uma grande realização conseguir pintar em cada estado do Brasil”, diz Kobra, que já fez obras em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pará, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Maranhão, Pernambuco e Mato Grosso do Sul.

A Arte de Conservar

Também em dezembro de 2020, Kobra entregou em São Paulo a revitalização de seu mural “A Lenda do Brasil”, de 41 metros por 17,5 metros, feito em homenagem ao piloto Ayrton Senna, na empena de um prédio na rua da Consolação, 2608 (esquina com a av. Paulista, em frente à Praça José Molina), em São Paulo. O trabalho inaugurou o projeto “A Arte de Conservar”.  De acordo com o artista, as próximas obras a serem restauradas são “Oscar Niemeyer”, na região da av. Paulista, também em São Paulo, e “Etnias – Todos Somos Um”, no Boulevard Olímpico, no Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.

O mural “A Lenda do Brasil”, que mostra o piloto de capacete e olhar expressivo, é uma das principais obras de Kobra, que tem Senna como uma de suas grandes referências. “Embora eu não seja ligado aos esportes, Senna sempre foi um dos meus maiores ídolos e uma inspiração para mim, com seu exemplo de determinação e superação. Além disso, transformou o ato de dirigir carros de corrida em, além de um esporte, uma verdadeira arte, que encantava e inspirava a todos”, afirma Kobra, que já pintou 12 murais, além de uma tela, sobre o tricampeão mundial de F-1 (nascido em 21 de março de 1960, em São Paulo).  Em setembro de 2019, Kobra realizou um mural. no autódromo de Ímola, Itália, onde o piloto morreu ao bater sua Williams nos muros da curva Tamburello, no GP de San Marino no dia 1º.  de maio de 1994. Em março de 2020, inaugurou o mural “Superação” no autódromo de Interlagos, em São Paulo.

 “Este é um dos primeiros movimentos de restauração, revitalização e preservação de murais, que já são patrimônios das cidades e merecem receber os mesmos cuidados que os prédios, os monumentos públicos e qualquer obra de arte”, afirma o artista, que acrescenta: “a velha ideia de que a arte de rua é descartável e efêmera deve ser mudada.”

O artista urbano revela que com as novas técnicas, os murais podem resistir bem mais à passagem do tempo. “A durabilidade de um mural depende de fatores como as condições climáticas – calor, frio, chuva -, a poluição e se foi realizado em uma parede nova ou mais antiga. Agora podem ser tomados cuidados essenciais para que os murais durem mais, como um melhor preparo da parede, o uso de seladora e de tintas acrílicas como base e a aplicação de verniz ao final do trabalho”, afirma. 

Para a fase inicial do projeto, Kobra procurou pela Audi do Brasil, empresa que tem uma ligação histórica com o tricampeão mundial. Foi Senna que trouxe a marca alemã para o mercado brasileiro, em 1993. A empresa abraçou a ideia, assim como em 2015, ano em que iniciava a operação de sua fábrica no País. “

“A Mão de Deus”

O artista urbano entregou no dia 15 de novembro do ano passado seu primeiro mural, “A Mão de Deus”, na região do Minhocão, em São Paulo. O trabalho tem 33 metros de altura por sete metros de largura, na empena de um prédio situado à rua Traipu, nº. 50.  De acordo com o artista, é a mais autobiográfica de todas as suas obras. “O mural é inspirado em um momento muito difícil para mim, que começou a ser superado quando senti a mão de Deus. Foi algo que me ajudou e que me ampara até hoje”, diz.

Kobra afirma que o mural, é particular, mas também universal. “Serve para todas as pessoas, de qualquer fé, que passam por dificuldades como depressão, solidão, dificuldades econômicas, bebidas e drogas”. E complementa: “espero que nesses tempos de pandemia e mesmo depois que tudo isso terminar, o mural também inspire as pessoas a resgatarem a bondade e serem mais acolhedoras e solidárias uma com as outras”.

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