Brasil dá continuidade à sua tradição em Le Mans
História do país na famosa prova de resistência mescla heroísmo, tradição e tragédia
- Data: 17/08/2021 14:08
- Alterado: 17/08/2021 14:08
- Autor: Redação
- Fonte: BestPR
36 Negrao André (bra), Lapierre Nicolas (fra), Vaxivière Matthieu (fra), Alpine Elf Matmut, Alpine A480 - Gibson, action during the Le Mans test day prior the 4th round of the 2021 FIA World Endurance Championship, FIA WEC, on the Circuit de la Sarthe, on August 15, 2021 in Le Mans, France - Photo Joao Filipe / DPPI
Crédito:João Filipe / DPPI
Com uma relevante lista de talentos, o Brasil escreveu seu nome nas 24 Horas de Le Mans de diversas formas. Deste a estreia, em 1935, o país já contou com 34 pilotos na corrida, incluindo diversos jovens promissores e pilotos consagrados. Prova disso é que sua imensa maioria é formada por profissionais contratados por fábricas e equipes para tentar a vitória, e não por gentleman drivers – pilotos com verba pessoal para adquirir uma vaga em equipes subfinanciadas.
No próximo sábado, a partir das 11h (de Brasília), a famosa corrida francesa dá a largada para a sua 89ª edição e terá entre os inscritos cinco brasileiros, dois deles tentando a vitória na categoria principal – feito inédito para o país. A prova valerá pela quarta etapa do Campeonato Mundial de Endurance (WEC).
Entre os representantes do Brasil, o mais graduado é André Negrão, piloto da equipe Alpine, na qual divide o cockpit com os franceses Nicolas Lapierre e Matthieu Vaxivière. Bicampeão da prova em 2018 e 2019 na categoria LMP2, a segunda da hierarquia do WEC, André tentará vencer na classificação geral, mesmo objetivo de Pipo Derani, que estará a bordo de um novo carro, o americano Glickenhaus SCG 007, ao lado dos pilotos os franceses Franck Mailleux e Olivier Pla. Ambos disputam a categoria principal, a Hypercars, criada para atrair as fábricas em uma bem-sucedida jogada do WEC.
”Le Mans é o troféu máximo”
“É curioso como a minha carreira me trouxe até aqui, até esta prova. Eu, como todo brasileiro, sonhava com a Fórmula 1, mas foi aqui, no campeonato de endurance, que eu me achei. E por isso Le Mans, nossa prova mais difícil, é o troféu máximo que eu poderia almejar”, diz André Negrão. “Durante o ano, todo o nosso trabalho é voltado para essas 24 horas. Aqui é o tudo ou nada. Só de estar lá já é um grande momento na vida de um piloto. Já vi muita gente chorando como criança só por completar a prova. Isso diz muito sobre Le Mans”, completa Negrão, que foi campeão mundial de endurance na supertemporada 2018/2019.
Os campeões de Stock Car Daniel Serra, Felipe Fraga e Marcos Gomes foram contratados para tentar a vitória por equipes das categorias GT, ou seja, que utilizam os mais sofisticados super esportivos encontrados nas lojas – mas com preparação especial. Serra utilizará uma Ferrari 488 GTE EVO da equipe oficial da marca italiana, a Ferrari AF Corse. Felipe Fraga estará ao volante de um Aston Martin Vantage AMR da TF Sport. E Gomes pilotará o Aston Martin Vantage AMR da equipe oficial Aston Martin Racing.
Serra venceu Le Mans duas vezes, em 2017 e 2019, ambas na categoria LMGTE-Pro. Já Fraga foi campeão em 2019 na LMGTE-Pro, mas perdeu o título por um erro da equipe no reabastecimento do carro. Gomes é a segunda geração da família a disputar uma prova em Le Mans. Em 1978, seu pai, o também campeão de Stock Car Paulo Gomes, dividiu a pilotagem de um Porsche 935/77 com outros dois brasileiros lendários e no auge de seus talentos: Alfredo Guaraná Menezes e Marinho Amaral. O trio terminou em segundo na categoria Grupo 5, sendo o sétimo carro na classificação geral.
Desde 1935, com a estreia de Bernardo Souza Dantas, o melhor resultado de um brasileiro na classificação geral em Le Mans foi o segundo lugar, com José Carlos Pace (Ferrari, edição de 1973), Raul Boesel (Jaguar, 1991), Lucas Di Grassi (Audi, 2014) e Bruno Senna (protótipo LMP1, 2020). Com três pódios na categoria principal, Di Grassi é o mais bem sucedido.
Riscos na pista de rua
Mas houve momentos de tristeza também. Por utilizar ruas comuns em seu traçado, Le Mans sempre ofereceu riscos extras devido aos obstáculos urbanos, como muros e postes. Em 1960, Fritz D’Orey foi contratado pela Ferrari para disputar a prova, mas sofreu um sério acidente. Seu carro partiu-se no meio depois de bater contra uma árvore, causando lesões graves, incluindo traumatismo craniano. Depois de oito meses recuperação, o jovem de 22 anos teve sua carreira interrompida.
Três anos mais tarde, Christian Heinz, o “Bino”, liderava sua categoria e estava em terceiro na classificação geral com um Alpine M63 quando seu carro chocou-se contra um poste, causando um incêndio. Heinz faleceu na hora, ainda aos 28 anos de idade. Em 2006, um outro Christian representaria o Brasil em Le Mans. Filho de Wilsinho e sobrinho de Emerson Fittipaldi, Christian Fittipaldi foi batizado em homenagem a Bino, um piloto reconhecido pelo talento e pioneirismo pelos colegas de pista que havia deixado no Brasil.