Estudantes da USP criam robô que aproxima universitários em meio à pandemia
Approxima é o nome da iniciativa que foi desenvolvida especialmente para o Telegram, aplicativo de mensagens que é uma alternativa ao WhatsApp
- Data: 30/11/2020 16:11
- Alterado: 30/11/2020 16:11
- Autor: Redação
- Fonte: ICMC
Crédito:ICMC - USP
Nutrir a nossa sociabilidade é um jeito saudável de manter a saúde mental”. A sábia frase foi escrita por um dos estudantes consultados na fase de desenvolvimento do Approxima bot, uma ferramenta criada para fortalecer a amizade e os vínculos entre estudantes universitários que possuem interesses comuns. Apelidado de “Tinder da amizade”, o Approxima é um robô interativo que funciona como um pequeno aplicativo dentro do Telegram, uma das principais alternativas ao WhatsApp.
O papel desse robô ou bot – abreviação do termo em inglês robot – é identificar estudantes que possuem interesses em comum e apresentá-los um ao outro. Por isso, um dos primeiros passos para se cadastrar no Approxima é definir suas preferências. Depois, o bot sugere potenciais amigos para cada estudante, de acordo com essas preferências.
Então, a sorte é lançada: os usuários têm total liberdade para decidir se querem acatar as sugestões. Se os estudantes acreditarem que a amizade tem futuro, podemos dizer que “deu match”, ou seja, um par foi formado, similar ao que acontece no famoso aplicativo de relacionamento Tinder, e a dupla pode iniciar um bate-papo. A diferença é que, no Approxima, o objetivo não é encontrar um parceiro romântico, mas alguém com quem possamos trocar ideias e compartilhar experiências, uma amizade. Nada mais indicado, para isso, do que começar a se relacionar com alguém que possua interesses comuns com você, ou seja, que curta os mesmos jogos, filmes, séries e músicas, por exemplo.
Resultado: cerca de 100 pessoas já se cadastraram no Approxima. E se você é um estudante universitário e quer fazer novos amigos, basta acessar https://t.me/approxima_bot. “Todo usuário novo no bot também deveria entrar no https://t.me/approxima_avisos, nosso canal para avisos sobre atualizações, novas funcionalidades e feedbacks. Essa é a nossa ponte de contato com os usuários”, explica Vitor Santana Cordeiro, que cursa Ciências de Computação e faz parte da equipe desenvolvedora do Approxima.
Composta por estudantes do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, a equipe começou a trabalhar na criação da ferramenta logo depois do início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, que obrigou o cancelamento das aulas presenciais, mantendo os universitários afastados de seus amigos e isolados. “Preocupados com essa situação, a direção do ICMC entrou em contato com nosso Grupo de Apoio Psicopedagógico (GAPsi) e sugeriu que pensássemos em alternativas para reduzir o isolamento dos estudantes e prevenir problemas de saúde mental”, revela a professora Simone Souza, coordenadora do GAPsi. Esse grupo é formado por professores, alunos, funcionários e conta com o apoio de estagiários da área de psicologia, tendo como finalidade informar e promover ações e reflexões sobre saúde e bem-estar psicossocial.
Lançada a demanda, uma das participantes do grupo, a professora Sarita Bruschi, sugeriu que fosse criada uma solução em parceria com o grupo de extensão USPCodeLab Sanca, do qual é coordenadora. Então, a equipe de alunos do ICMC deu início ao projeto em conjunto com o GAPsi. Para identificar as necessidades dos estudantes em quarentena, o primeiro passo foi realizar uma pesquisa com estudantes universitários de diversas instituições.
“Adorei o projeto! Assim que cheguei em São Carlos, já pensei que seria legal se houvesse algum aplicativo ou outro meio que ajudasse pessoas com interesses em comum a fazer amizade. Durante a pandemia, me senti privado de socializar e conhecer pessoas novas, portanto, acho que o projeto ajudaria muito a mim e outras pessoas que também se sentem assim. Dou todo apoio que puder”, escreveu no formulário online da pesquisa um dos estudantes que ingressou no ICMC este ano.
Dos 174 respondentes da pergunta “Você acha a ideia do aplicativo interessante? Acha que será útil?”, 88,5% responderam afirmativamente. “Nesse momento de quarentena, principalmente, é essencial ter meios que facilitem conhecer novas pessoas. Muitas pessoas se sentem sozinhas, ou pararam de falar com vários amigos”, justifica um dos estudantes. “Acho que ajudaria a facilitar conversas entre pessoas com histórico de fobia social, no sentido de promover uma aproximação com variáveis mais controladas que ajudariam no processo de desenvolvimento de vínculos”, pondera outro participante da pesquisa.
Nasce um robô – Com base na pesquisa realizada, Vitor e mais quatro alunos do ICMC se tornaram responsáveis por desenvolver o aplicativo: Carolina Arenas Okawa, Lui Franco Rocha, Victor Reis e Nelson Oliveira. Tal como Vitor, os três primeiros cursam Ciências de Computação; já Nelson é aluno de Sistemas de Informação.
Mas em junho, quando começaram de fato a trabalhar na criação do novo aplicativo, os primeiros desafios surgiram: ao realizar o projeto concomitantemente com outras tantas demandas da vida universitária, o time percebeu que não estava conseguindo progredir de forma significativa. Então no fim de julho, surgiu a ideia de criar uma versão de teste do produto, mais simples e rápida do que um aplicativo, seguindo uma metodologia bastante difundida na área de tecnologia, a do Produto Mínimo Viável – ou Minimum Viable Product (MVP). Foi assim, depois de uma sessão de brainstorming (a famosa tempestade de ideias), que surgiu a proposta de criar um robô para o Telegram, com a vantagem de que essa ferramenta é autogerenciável.
Apesar de não ter a popularidade do WhatsApp, o Telegram é amplamente utilizado e tem o diferencial de oferecer diferentes recursos e funções exclusivas aos usuários, tal como os bots interativos, que podem ser programados para desempenhar as mais diferentes funções, desde jogos ao auxílio com notícias e tarefas do dia-a-dia. Essas aplicações são gratuitas, bastando adicioná-las por meio de uma barra de pesquisas e, em seguida, interagir com os comandos listados. São inúmeras opções e o Approxima tornou-se uma delas.
“Os bots são uma tendência na área de computação porque possibilitam que os desenvolvedores criem soluções a partir de algo que já existe, baseados em produtos que já estão disponíveis e foram testados. Isso agiliza e facilita o processo”, explica a professora Simone Souza.
Desde setembro, quando começaram a testar o protótipo do Approxima, diversas novas funcionalidades foram implementadas pela equipe para aprimorar a experiência dos usuários. Por meio do canal de avisos, os desenvolvedores fazem constantes pesquisas com esses usuários. Segue o exemplo de uma pergunta lançada no canal dia 13 de outubro: “Na sua opinião, ajudaria se mostrássemos os interesses em comum que você tem com cada uma de suas conexões?”
Dos 23 jovens que responderam a questão, 91% disseram que “sim”. Por isso, em 8 de novembro, a novidade é comunicada no canal de avisos: “Vocês pediram e nós atendemos! Agora, para saber os interesses em comum com uma conexão da sua lista, é só utilizar o comando /prefs @username_do_amigo.”
Próximos passos – Vitor destaca que a equipe do projeto está procurando pessoas que queiram contribuir com desenvolvimento do Approxima, assim, talvez, seja possível no futuro até mesmo criar um aplicativo que não fique restrito ao Telegram. Além disso, qualquer pessoa que queira contribuir com novas funcionalidades, pode acessar o código do bot, que está aberto no GitHub. A linguagem de programação utilizada é a TypeScript.
“A ideia surgiu no contexto da pandemia, mas não pensamos em descontinuar o projeto após voltarmos às aulas presenciais. Na verdade, acreditamos que o Approxima é uma ótima oportunidade para os estudantes conhecerem outros estudantes que, de outra forma, não conheceriam. Botamos muita fé no potencial dessa iniciativa no pós-pandemia também”, diz Vitor.
Levando em conta os depoimentos que a equipe tem coletado ao longo dessa jornada de aprendizado, a história do Approxima está mesmo só começando: “É muito nobre a mobilização de vocês em um período como esse. Sinto que muitas pessoas, assim como eu, estão sentindo muita falta desse contato social e da oportunidade de conhecer novas pessoas”.
Se depender da motivação do time de desenvolvedores, o Approxima terá uma vida bastante longa. “Fazer coisas que impactam a vida das pessoas é meu projeto de vida e o que me motiva neste projeto”, finaliza Vitor.