Escolas de elite de SP suspendem parte das aulas presenciais após infecções pela covid-19

Procedimento é o recomendado por autoridades e especialistas para evitar novas contaminações; colégios dizem que não houve transmissão dentro da escola

  • Data: 10/02/2021 20:02
  • Alterado: 10/02/2021 20:02
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Escolas de elite de SP suspendem parte das aulas presenciais após infecções pela covid-19

Escola Móbile é uma das escolas que apresentaram alunos infectados

Crédito:Reprodução

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Dez dias após reabrirem para aulas presenciais na capital paulista, escolas de elite suspendem a presença de grupos de estudantes por contaminações pelo coronavírus. O procedimento adotado é o recomendado pelas autoridades sanitárias para evitar novas infecções. Os registros ocorreram na Escola Móbile, Colégio Santa Cruz, São Luís e Santa Marcelina. As escolas informam que não houve transmissão dentro do colégio.

Pesquisas científicas já indicaram que o nível de contágio em sala de aula não é grande, desde que sejam seguidos os protocolos de ventilação, higiene e distanciamento. O isolamento de grupos de estudantes faz parte da rotina, para evitar surtos. Educadores têm defendido priorizar a retomada de aulas presenciais, após longo período de quarentena, em que os colégios ficaram fechados. O procedimento de suspender parte das turmas também vem sendo adotado por outros países que autorizaram a reabertura da escolas.

Na Escola Móbile, na zona sul de São Paulo, uma professora e um aluno tiveram diagnóstico positivo para a covid-19 no último fim de semana. Desde segunda-feira, o grupo de estudantes para o qual a professora leciona foi afastado, assim como a turma que frequentava as aulas com o aluno infectado. A escola diz que os dois casos não têm relação entre si – a professora contaminada não lecionava para o aluno infectado – e foram registrados em prédios diferentes.

O colégio segue as recomendações do Hospital Albert Einstein, contratado para orientar o retorno à escola. “As bolhas afastadas desde segunda estão sendo monitoradas diariamente pela equipe do Einstein, e até o presente momento não houve nenhum caso detectado”, informou a escola.

A Móbile diz ainda que a professora respeitou todos os protocolos estabelecidos, “ou seja, usou máscaras, manteve distanciamento físico e não utilizou a sala de professores”. Também foram registrados dois casos de contaminação – um estudante e um funcionário administrativo – no Colégio Santa Cruz, na zona oeste. A escola, que tem 2,6 mil estudantes, suspendeu as aulas de uma turma do 9.º ano por dez dias.

No Colégio São Luís, na zona sul, três grupos foram afastados das aulas presenciais após a detecção de caso de covid-19. Em um dos casos, a contaminação do estudante foi informada pela família na segunda-feira  à noite. A turma, com dez estudantes, retornaria à escola nesta quarta, mas foi avisada sobre a suspensão das aulas. A volta será apenas após o carnaval. “A contaminação não aconteceu na escola”, informou o colégio.

As escolas particulares na capital foram autorizadas a reabrir com apenas 35% dos estudantes a partir do dia 1º de fevereiro. Para este retorno, os colégios separaram os estudantes em grupos, que não têm contatos entre si, chamados de “bolhas”. Dessa forma, quando há detecção de infecção, apenas os alunos que pertencem ao grupo que teve contato com o estudante ou professor infectado deixam de ir à escola. O esquema favorece o rastreio da doença – para isso, é preciso que os pais comuniquem à escola sobre sintomas ou diagnóstico.

No Colégio Santa Marcelina, na zona oeste, as aulas presenciais também foram suspensas para um grupo de alunos e colaboradores. “Recebemos da família, orientada pelo pediatra do estudante que, de acordo com os exames realizados, a recomendação foi de suspensão das aulas”, informou a escola, por meio de nota.

A suspensão de parte das turmas deve se tornar um procedimento rotineiro com a reabertura das escolas em um cenário em que a pandemia ainda não está controlada. “Vão acontecer em todas as escolas quase todos os dias”, diz Arthur Fonseca Filho, diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar).

Ele ressalta que os registros vêm de fora do colégio e a paralisação de atividades presenciais para turmas específicas só mostra que os protocolos estão sendo seguidos pelas unidades. “Nada aconteceu que os protocolos usuais não tenham dado conta muito bem.”

Para Fonseca, os casos registrados nestas escolas diferem do que ocorreu no Colégio Jaime Kratz, em Campinas, no interior paulista, que registrou 42 infecções – 37 funcionários e cinco alunos. No caso de Campinas, houve um surto e todo o colégio foi fechado até o dia 18 de fevereiro.

Conforme a Vigilância Sanitária de Campinas, o surto entre os professores teve origem na semana anterior à volta às aulas, “em reuniões de treinamento e planejamento onde ocorreram as quebras das medidas de barreira”.

Na rede estadual paulista, sete escolas foram fechadas por casos de infecção por coronavírus antes mesmo de retomarem as aulas presenciais. Houve registros entre professores que participaram das atividades de planejamento na semana anterior.

Um dos colégios fechados é a Escola Estadual Ermelino Matarazzo, na capital paulista, que teve duas infecções confirmadas e outras sete pessoas com sintomas. Esses funcionários estão sendo testados para que a escola seja liberada para reabrir.

No ano passado, um levantamento com 591 escolas particulares que reabriram no Estado de São Paulo apontou que 86% não identificaram nenhum caso de covid-19 entre os alunos. Já entre os professores, o porcentual de colégios que não relataram infecções foi de 73%. A pesquisa, realizada pela Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar) com o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado (Sieeesp).

Rastreamento é fundamental e escola não é foco principal de transmissão, diz especialista

Segundo Marco Aurélio Sáfadi, infectologista pediátrico da Sociedade Brasileira de Pediatria, os procedimentos de fechamento das “bolhas” são comum ao redor do mundo, com diferenças de critérios para determinar a suspensão. Alguns colégios adotam a detecção de um caso como suficiente para suspender as aulas presenciais; outros suspendem após dois ou três registros, por exemplo.

O mais importante nesse processo, segundo Sáfadi, é que o monitoramento de sintomas seja feito pelas escolas e pelas famílias. “Mais importante do que medir temperatura, é uma boa orientação para os pais em relação aos sintomas associados à doença e, uma vez que tenha alguém com sintomas no domicílio, isso deve ser comunicado.”

A abertura de outras atividades econômicas pressiona os colégios, que acabam detectando infecções que ocorreram em outros espaços. “Se por alguma razão percebemos a doença fora de controle na comunidade, muito mais importante do que fechar a escola, é fechar outras atividades não essenciais”, diz o especialista. Ele cita bares, restaurantes, academias e baladas como espaços com maior potencial de contaminação.

Abre-e-fecha traz desafios pedagógicos

Para Alexandre Schneider, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo e presidente do Instituto Singularidades, os colégios terão de conviver com essa situação de “abre-e-fecha”. “Muito provavelmente, vai ser o cenário. É possível que tenham crianças e jovens que se contaminem fora da escola, no caminho, em reuniões familiares”, diz o especialista.

“Isso vai exigir que escolas públicas e privadas mantenham protocolos rígidos, como foi o caso desses colégios.” Para Schneider, do ponto de vista pedagógico, o desafio é lançar mão de um planejamento que preveja quais atividades fazer na modalidade híbrida ou quando uma turma fecha, e o que fazer no remoto.

“Temos um outro significado para o ensino presencial, como aproveitar da melhor forma possível o presencial e, de outro lado, como criar atividades no ensino remoto que não sejam meramente transmissão de aulas ou reprodução do que se faz no presencial. Estamos diante de criar um modelo novo e para o qual não temos ainda resposta muito clara.”

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