“Não queremos subsídios, queremos competitividade”, diz o presidente de Anfavea
Sem citar o nome do presidente, Luiz Carlos Moraes rebateu Bolsonaro, que atribuiu o anúncio do fim da produção da Ford no Brasil à retirada de incentivos
- Data: 13/01/2021 16:01
- Alterado: 13/01/2021 16:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Presidente da Anfavea rebate fala de Bolsonaro e diz que o setor não quer subsídios
Crédito:Reprodução
Dois dias após a Ford anunciar o fim da produção no Brasil, a Anfavea, entidade que representa as montadoras no País, cobrou medidas que melhorem a competitividade do setor e rebateu, embora sem citar nome, o presidente Jair Bolsonaro, que atribuiu o anúncio da multinacional americana à retirada de subsídios.
“Em nenhum momento falamos de subsídio. Todas as nossas propostas visam à redução do custo país. Não queremos subsídios, queremos competitividade“, afirmou nesta quarta-feira, 13, durante entrevista a um grupo pequeno de jornalistas, o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes.
Após considerar que o debate sobre o fechamento da Ford tem sido politizado, o executivo defendeu os incentivos fiscais que permitiram atualizar tecnologias dos carros produzidos no Brasil e, referindo-se a medidas estruturais necessárias no País – em especial a reforma tributária -, pediu que o timing político seja determinado pelas prioridades econômicas, e não pelo calendário eleitoral.
Segundo Moraes, os desligamentos da Ford, incluindo a operação de caminhões encerrada em 2019 e da fábrica de carros de luxo da Mercedes-Benz, reduzem de 5 milhões para algo por volta de 4,5 milhões a 4,7 milhões de veículos a capacidade técnica anual da indústria automotiva no Brasil.
A forma de evitar que mais montadoras deixem o País, continuou, é estimulando a economia e a competitividade, de modo a permitir a retomada do mercado e a inserção brasileira no mercado internacional, hoje restrita, sobretudo, a negócios com vizinhos da América do Sul.
“Uma chance de resolver é estimulando a economia, reduzindo o custo. Outra alternativa é fechar fabricas”, disse o principal porta-voz da indústria de veículos.
Considerada urgente, a reforma tributária, com simplificação do sistema e resolução de créditos tributários represados, está entre as prioridades da agenda de competitividade reivindicada pelas montadoras. Moraes citou ainda a restituição de impostos residuais nas exportações, corte de taxas da marinha mercante e uma série de outras medidas que vão desde pequenas ações, que dependem apenas de portarias, a grandes propostas, que passam pela aprovação de maioria qualificada no Congresso.
Segundo o presidente da Anfavea, as sugestões vêm sendo encaminhadas ao governo nas reuniões quinzenais entre representantes do setor privado com a Secretaria Especial de Produtividade, do Ministério da Economia.
Chamando atenção para a elevada carga tributária do País, o executivo comparou os benefícios fiscais a um comerciante que aumenta preços antes de dar descontos na Black Friday. “Já que provocaram, vou provocar também”, disse Moraes, numa declaração que segue as explicações dadas por Bolsonaro ao fechamento da Ford. Na terça-feira, 12, o presidente disse que a montadora queria subsídios para seguir produzindo carros no Brasil.
O presidente da Anfavea – sem mencionar o nome do presidente, mas numa resposta clara a ele – afirmou que os subsídios não seriam necessários se a carga tributária no Brasil estivesse em linha com a de outros países competidores.
Citando um estudo encomendado em maio de 2019 pela Anfavea, Moraes disse que produzir carros no Brasil é 18% mais caro do que no México. Segundo ele, a indústria brasileira tem custo R$ 1,5 trilhão superior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).