Ex-secretário de Janot diz que declaração ‘é página triste para história do MP’
Ex-secretário-geral do Ministério Público na gestão de Janot, Blal Dalloul disse que as declarações de Janot representam "uma das páginas tristes para a história do Ministério Público"
- Data: 27/09/2019 14:09
- Alterado: 27/09/2019 14:09
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Divulgação/ANPR
Janot disse ao jornal O Estado de S. Paulo que, no momento mais tenso de sua passagem pelo cargo, ingressou armado no Supremo Tribunal Federal (STF) com a intenção de matar a tiros o ministro Gilmar Mendes. “Não ia ser ameaça não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele e depois me suicidar”, afirmou Janot.
A declaração do ex-chefe chocou não apenas Blal Dalloul, como também outros ex-auxiliares ouvidos pela reportagem, que engrossaram críticas, mas preferiram manter-se no anonimato.
“Estou realmente chocado com essa revelação. Não imaginava que tal situação tivesse acontecido e minha formação não admitiria conhecimento sem veemente discordância”, disse Dalloul ao Estado/Broadcast Político.
Blal ficou em terceiro lugar na lista tríplice da categoria para a escolha do novo procurador-geral – ignorada pelo presidente Jair Bolsonaro, que indicou Augusto Aras.
“O evento é mais uma das páginas tristes para a história do Ministério Público e sua revelação nada traz de positivo. É preciso perdoar e amar muito mais. Inclusive por e pela instituição tão maior do que qualquer das suas pessoas”, completou Blal.
Outros auxiliares de Janot na época em que chefiou a PGR manifestaram “perplexidade” pela revelação feita. A reação entre as pessoas que compuseram a equipe do ex-procurador-geral e até de quem permaneceu como amigo após a gestão é péssima. O fato está sendo tratado como indigno e inaceitável.
Um desses integrantes disse à reportagem que já havia escutado um comentário de Janot de que tinha apenas pensado em matar Gilmar Mendes, mas entendeu que era uma bravata – e nunca que se chegou perto à consumação.
Para esse membro do MPF, o fato de a declaração ter vindo no contexto de venda de livro é ainda pior, mais vergonhoso. Até o motivo, crítica à filha, foi citado como ridículo.
Um outro ex-auxiliar de Janot, que pediu para não ser identificado nesta reportagem, disse estar preocupado com os reflexos das declarações do ex-procurador-geral da República sobre a “institucionalidade” do MP.
Para esse ex-auxiliar de Janot, o ex-PGR agiu “de forma incompatível com o estágio civilizacional” e o “desequilíbrio demonstrado tem sido repudiado em todos os ambientes internos”.