‘Coringa’ sai na frente para o Oscar
Nas últimas edições, o Festival de Veneza voltou a ganhar força na briga com Toronto para estrear os futuros vencedores do Oscar
- Data: 09/09/2019 15:09
- Alterado: 09/09/2019 15:09
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
Em 2018, Roma saiu com o Leão de Ouro e terminou com três estatuetas, inclusive direção. No ano anterior, A Forma da Água levou o Leão e depois quatro Oscars, inclusive filme e direção. Pois Veneza tem a chance de dominar novamente a conversa sobre a premiação mais importante do cinema americano ao dar o Leão de Ouro para Coringa, de Todd Phillips, uma decisão até surpreendente, mesmo com todo o barulho que o filme fez no festival. Primeiro porque, sendo um longa que se passa no universo de HQs da DC, não é o típico “filme de festival”, pelo menos não no caso dos três grandes, Berlim, Cannes e Veneza – Toronto sempre foi chegado a uma produção mais comercial. Segundo, porque o júri era presidido pela cineasta argentina Lucrecia Martel, que faz filmes bem distantes do cinema hollywoodiano.
E, a bem da verdade, nem a Academia de Hollywood costuma levar a sério as produções inspiradas nos universos da Marvel e da DC que têm dominado os cinemas, indicando-os apenas em categorias técnicas. Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan, considerado um marco, não concorreu nem como melhor filme do ano, nem como direção. Apenas Heath Ledger levou o Oscar de ator coadjuvante, coincidentemente por sua interpretação do Coringa. Somente no ano passado um longa saído do universo das HQs competiu como melhor produção: Pantera Negra, de Ryan Coogler, que, independentemente da qualidade que possa ter, veio com uma importância cultural grande, com seu elenco majoritariamente negro.
Por derrubar tabus, a vitória põe Coringa como candidato sério para o Oscar, descolando-o das “produções de quadrinhos”. Até porque Coringa não é um filme derivado dos quadrinhos como os outros. O longa quase não tem ação e é um drama duro e triste sobre a transformação de um homem de classe social baixa, com problemas mentais e sonhos irrealizáveis em um assassino cruel, com uma das melhores atuações da carreira de Joaquin Phoenix. Levanta questões relevantes para a sociedade hoje.
Lucrecia Martel justificou a escolha na coletiva após a cerimônia de entrega do Leão de Ouro, no sábado. “É incrível que uma indústria cujo principal foco é o negócio tenha corrido tamanho risco com Coringa. Fazer para esse público um filme que é uma reflexão sobre os anti-heróis, mostrando que talvez o inimigo não seja o homem, mas o sistema, me parece bom para os Estados Unidos e para o mundo todo.”
Todd Phillips não quis “definir o filme”. “A visão de Lucrecia Martel está correta e compartilho dela. Fico feliz que as pessoas tenham entendido o que estávamos tentando fazer. Mas não quero delimitar as interpretações.”
Coringa ainda vai gerar muita discussão – algumas pessoas acusaram o filme de defender um “incel”, o jovem branco que não consegue lidar com suas frustrações e comete atos de violência. Mas, sem dúvida, são debates bem-vindos. A vitória em Veneza, com presença inclusive de Joaquin Phoenix, é um sinal de que a campanha pelo Oscar começou e bem.