Manto Assojaba Tupinambá chega à mostra Um século de agora
Glicéria Tupinambá teceu essa nova peça com a força ancestral do povo de sua terra de origem na Bahia, a aldeia Tupinambá de Olivença, na Serra do Padeiro, em 2021
- Data: 05/12/2022 09:12
- Alterado: 15/08/2023 14:08
- Autor: Redação
- Fonte: Itaú Cultural
Manto Assojaba Tupinambá chega à mostra Um século de agora entre cânticos de sua autora
Crédito:Divulgação
No dia 6 de dezembro, terça-feira às 11h, a exposição Um século de agora será completada por mais uma obra, o manto Assojaba Tupinambá. Entre cânticos, a indumentária tradicional daquele povo será colocada em seu lugar na mostra pelas mãos de Glicéria Jesus da Silva, também conhecida como Célia Tupinambá. Foi ela quem, em 2021, teceu a peça com cordão encerado com cera de abelha jataí e variedade de penas de pássaros do bioma mata atlântica, pássaro da região amazônica como araras, azuis e vermelhas.
De acordo com Glicéria, o manto é cura, assim como a cerâmica, as flautas e o canto do seu povo Tupinambá da Serra do Padeiro. Ela conta que tudo faz parte de um processo de pertencimento que se fortalece. Elaborado em 2021, mais do que uma peça finalizada, ele é uma instalação que demonstra o processo do seu feitio.
“O manto se faz, ele é uma personalidade. Entendi o que estava guardado pelas anciãs da nossa comunidade, os artefatos de uma arte milenar trazida pelo cosmo, como um ritual que está se concretizando, se formando”, conta Glicéria. “Resolvi mostrar isso para que as pessoas conheçam a complexidade do manto para além do capuz, da malha e das camadas de penas que o compõe, com uma estrutura que representa a transformação e resistência do nosso povo em todas as etapas que vivemos”, explica.
A artista defende o resgate, a volta ao início de uma identidade cada vez mais ameaçada. Representante de seu povo junto à Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), ela só teve o primeiro contato com o manto em 2006, por fotografias. Isso porque a indumentária emplumada tradicional dos Tupinambás, encontrada pelos colonizadores no século XVI, foi levada para museus da Europa e ficou inacessível à maioria dos brasileiros. Decidida a revitalizar esse símbolo de memória e resistência, Glicéria resolveu confeccionar uma réplica, que hoje faz parte da coleção Os primeiros brasileiros, do Museu Nacional (RJ). A peça não foi atingida pelo incêndio que destruiu grande parte do acervo da instituição em 2018 porque, naquele momento, estava no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília.
Um século de agora
Três curadoras assinam a exposição Um século de agora, que permanece em cartaz no Itaú Cultural até 2 de abril de 2023. A sergipana Júlia Rebouças, a baiana Luciara Ribeiro e a matogrossense Naine Terena de Jesus foram chamadas pela instituição para curar esta mostra, que se insere nas discussões de 2022 sobre a Semana de Arte Moderna. Para puxar este legado em uma releitura que desemboca na prática artística na atualidade no país, elas pesquisaram o que está sendo produzido em algumas regiões do território nacional, a partir de uma multiplicidade de idades, geografias e vivências sociais e políticas.
Idealizada e realizada pelo Núcleo de Artes Visuais do Itaú Cultural, com expografia da arquiteta Isa Gebara, Um século de agora procura abrir terreno para ideias que atravessam a experiência de viver o ano de 22 do século XXI. Nos três andares do espaço expositivo da instituição, a mostra apresenta mais de 70 obras em variados suportes, assinadas por 25 artistas e coletivos de 11 estados brasileiros, cuja produção artística converge na construção de “agoras” e compõe um mosaico da cultura brasileira.
SERVIÇO
Cantos para o Manto Tupinambá na exposição Um século de agora
Com Glicéria Tupinambá
6 de dezembro (terça-feira), às 11h
Entrada gratuita
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, próxima à estação Brigadeiro do metrô
De terça-feira a domingo, das 10h às 18h