Consciência Negra é dia de lutas e reverências aos antepassados
Coordenadora de Políticas de Promoção Igualdade Racial de Diadema lembra necessidade de aquilombamento contemporâneo
- Data: 18/11/2022 15:11
- Alterado: 15/08/2023 18:08
- Autor: Redação
- Fonte: PMD
Consciência Negra é dia de lutas e reverências aos antepassados
Crédito:Reprodução Internet
O Brasil inteiro celebra, no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. Apesar de não ser feriado em todas as cidades do País – em Diadema, a data é feriado municipal desde 2006 – o 20 de novembro é um dia de lutas e de reverências aos antepassados negros que chegaram no Brasil após serem escravizados, destaca a coordenadora de Políticas de Promoção Igualdade Racial de Diadema, Marcia Damaceno.
O Dia da Consciência Negra passou a ser celebrado em 1971, pela juventude negra de Porto Alegre que se organizava no Grupo Palmares. Os encontros do grupo eram promovidos para estudos sobre a história e cultura negra e para contrapor a data de 13 de maio, celebrada pela elite brasileira por ter sido o dia da assinatura da Lei Áurea e que ressaltava a Princesa Isabel como heroína, o grupo escolheu o 20 de novembro, data que remonta à morte de Zumbi dos Palmares, para ser o dia da Consciência Negra.
“A abolição no Brasil foi um processo incompleto, que nunca se concretizou. Pessoas que até então eram escravizadas e que depois da Lei Áurea foram entregues à própria sorte, sem emprego, sem direitos, sem condições que garantissem uma vida digna”, explicou Marcia. “Por isso essa data de 13 de maio nunca nos representou”, completou.
Marcia destaca que a partir dessa decisão, a data de 20 de novembro passou a ter mais visibilidade e foi sendo adotada pelos diferentes movimentos negros brasileiros como marco na luta contra o racismo. “Dessa forma, Zumbi e Dandara, pessoas que lideraram importantes quilombos no Brasil e foram forças de resistência à escravidão, se tornam símbolos dessa data, Zumbi, inclusive, entrou no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, em 1997”, pontuou. O livro fica guardado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
A coordenadora chama a atenção para a necessidade de compreensão do que foram os quilombos e do que significa a expressão “aquilombar” na contemporaneidade. “A ‘quilombagem’ foi um movimento de rebeldia dos africanos escravizados contra o sistema que os oprimia”, explica. “O historiador Decio de Freitas cita que o Quilombo dos Palmares exercia atração não apenas dos negros, mas também sobre a população indígena e até dos brancos pobres, estes últimos refugiados dos maus tratos e da fome a eles reservados pelo sistema colonial.”
A República de Palmares ficava na Serra da Barriga, território à época pertencente a Pernambuco, hoje Estado de Alagoas, uma região onde havia grandes plantações de cana de açúcar. O Quilombo de Palmares recebeu diversos grupos étnicos da África Central e Ocidental (Angola, Congo Brazaville, República Democrática de Congo, Camarões e Moçambique) de tradição bantu e que recriou as estratégias de lutas nativas ancestrais. O Quilombo de Palmares começou a enfrentar os ataques do Reino Português desde 1612 e teria resistido até 1695.
Estudiosos como Maria Beatriz Nascimento e Abdias Nascimento afirmam que o termo “quilombo”, ao longo do processo histórico, social e político, teve vários significados. Começou como lugar de comunidades de escravizados fugidos, lugar de reunião fraterna, livre, solidariedade, convivência, comunhão existencial, lugar das comunidades negras rurais e por fim, lugar das comunidades de remanescentes de quilombos.
Em todos os países da América Latina, no Haiti, Cuba, nas Guianas e nos Estados Unidos, que receberam populações africanas escravizadas, foram constituídos quilombos. Alguns eram chamados de palenques, cimarrons e marrons, sempre como o formado de um projeto político e não simplesmente como resultado de uma fuga desordenada da opressão.
“Portanto, vamos nos aquilombar a partir do legado de organização dos nossos ancestrais, construindo resistência aos problemas estruturais do racismo por meio das políticas públicas de igualdade racial.
É o que a gente tem buscado fazer na cidade nesta gestão do prefeito José de Filippi Júnior, afirmando como prática ancestral a solidariedade entre os oprimidos”, afirmou Marcia.
“Aqui em Diadema, o Dia da Consciência Negra, Dia Nacional de Zumbi e Dandara é feriado municipal desde 2006, como data de reflexão e ao mesmo tempo de comemoração, de reabastecimento de energia nossos corpos e espíritos dando força para continuar resistindo para existir”, finalizou.