Sesc SP apresenta exposição inédita sobre o músico e compositor Gilberto Mendes
A exposição "Gilberto Mendes - 100", no Sesc Santos, convida a um passeio sobre a vida e obra do compositor santista
- Data: 02/11/2022 14:11
- Alterado: 15/08/2023 19:08
- Autor: Redação
- Fonte: SESC
Sesc São Paulo apresenta exposição inédita sobre o músico e compositor Gilberto Mendes
Crédito:Divulgação
No ano em que Gilberto Mendes completaria seu centenário, o Sesc Santos recebe a exposição Gilberto Mendes – 100, com curadoria do professor Lorenzo Mammi e consultoria do compositor Lívio Tragtenberg. A mostra contempla a memória do compositor erudito brasileiro mais conhecido e influente da segunda metade do século XX, Gilberto Ambrosio Garcia Mendes (1922-2016). De 4 de novembro de 2022 a 30 de abril de 2023, o público poderá visitar e conhecer a história desse ilustre santista.
Dividida em “ilhas”, a exposição busca mostrar as execuções musicais em sua integridade, sempre que possível evidenciando a relação das peças com as respectivas notações ou instruções, muitas delas de grande beleza gráfica, e relacionando-as ao contexto em que as obras foram produzidas pelo compositor.
A pluralidade de Gilberto Mendes
Músico, compositor, pioneiro da Música Concreta, professor…
Na exposição, a primeira “ilha” mostra Santos Football Music (1969), uma de suas composições experimentais mais complexas e ambiciosas, feita para grande orquestra, com fitas magnéticas e participação do público. É construída a partir da estrutura de uma partida de futebol. As partes instrumentais são bastante complexas e demandam uma notação específica. Foi apresentada pela primeira vez em 1973 pelo maestro Eleazar de Carvalho, no 17º Festival de Música Contemporânea em Varsóvia, na Polônia. Através da apresentação de uma gravação com locução esportiva, a peça consegue transportar o espectador para o estádio, com todas as vozes dos torcedores. Com Santos Football Music, música em homenagem ao Santos e ao futebol de Pelé, Gilberto Mendes arrebatou plateias do Brasil e do Mundo.
O segundo núcleo aborda sua relação com a cidade de Santos. Gilberto Mendes passou praticamente a vida inteira na cidade e fez várias referências a ela e seu entorno em suas composições. Estas citações podem ser ouvidas em Saudades do Parque Balneário Hotel para saxofone e piano (1980), composta para lembrar o grande complexo albergueiro construído em 1914 e demolido em 1973, que por várias décadas foi um marco arquitetônico e um ponto de referência da vida musical da cidade, e em Vila Socó meu amor, para coro feminino a três vozes, escrito sob o impacto da tragédia da favela de Vila Socó, em Cubatão, em 26 de fevereiro de 1984, quando mais de trezentas pessoas morreram pela explosão de um gasoduto.
Nunca alheio ao seu redor, Gilberto compôs músicas que registraram os momentos político-sociais do Brasil. Na década de 1960, em plena ditadura civil-militar no país, compôs Moteto em Ré Menor ou Beba Coca-Cola para piano e orquestra, considerada a mais popular música erudita brasileira. Inspirado pelo poema concreto de Décio Pignatari (1927-2012), o compositor criou uma espécie de antijingle numa crítica ao consumo da sociedade moderna.
A terceira “ilha” enfoca as composições experimentais da década de 1960, o uso de grafismos musicais e o diálogo com a poesia concreta. Na esteira do movimento internacional conhecido como Nova Música, Gilberto foi um dos pioneiros na América Latina. Em 1963, foi signatário do Manifesto Música Nova e, logo em seguida, fundou o Festival Música Nova em Santos. Gilberto Mendes teve uma intensa atividade como divulgador e incentivador da música contemporânea no Brasil, organizando cursos, encontros e concertos – que muitas vezes despertavam reações vivas do público e da crítica. O Festival, ativo até hoje, já em sua 56ª edição, é um dos mais duradouros e importantes eventos internacionais de música contemporânea da América Latina. São dessa época, também, composições marcantes como Nascemorre, Blirium C9, Moteto em Ré menor e Santos Football Music.
No quarto núcleo, encontramos sua relação com o teatro, antes como compositor de música de cena, depois como criador daquilo que ele próprio gostava de definir como Música-Teatro, em que uma ação teatral é planejada como se fosse uma peça musical. As décadas de 1950 e 1960 foram de intensa atividade teatral em Santos, principalmente graças aos movimentos do Teatro Amador e do Teatro dos Estudantes, que contaram com o apoio de intelectuais como Patrícia Galvão (Pagu), Paschoal Carlos Magno e Miroel Silveira e revelaram talentos como Plínio Marcos e Sérgio Mamberti.
Gilberto Mendes compôs várias músicas para teatro nesse período – especialmente para as encenações de Plínio Marcos –, muitas delas para fita magnética, mais um recurso de que Gilberto foi pioneiro no Brasil. Nessa linha, uma de suas principais composições é Último tango em Vila Parisi, em que um acorde e uma única frase repetida pela orquestra servem de suporte a uma ação envolvendo o regente e dois músicos. Além de ser um exemplo especialmente complexo de Música-Teatro, Último tango lembra, desde o título, o grande interesse de Gilberto pela montagem cinematográfica, enquanto a referência à Vila Parisi (favela de Cubatão) nos lembra do engajamento do compositor com os problemas sociais de sua cidade.
A quinta “ilha” trata de sua relação com a música de cinema a partir de uma das composições mais importantes da sua última fase: Ulysses em Copacabana surfando com James Joyce e Dorothy Lamour (1988). Encomendada pelo Festival de Patras, na Grécia, a peça começa com a citação de um hino a Apolo, que remonta à Grécia antiga, executado pelo clarinete, de maneira a lembrar o estilo do primeiro Stravinsky, e procede por associações de ideias até desembocar num foxtrot nos moldes das orquestras de salão e dos conjuntos dos cafés ao ar livre, típicos das cidades mediterrâneas. Tudo é construído a partir da colagem de frases repetidas, mas constantemente ampliadas ou modificadas, segundo o uso bastante peculiar que o compositor fazia dos procedimentos minimalistas. Gilberto reconhecia que sua maneira de compor devia algo à técnica da montagem cinematográfica, tanto que deu o título de Música, cinema do som a uma antologia dos seus artigos e ensaios. Assim concebida, a peça é uma espécie de sobrevoo por seu imaginário e um resumo (desde o título) de suas paixões: a literatura, o cinema, a música de salão, o mar. E o Ulysses do título remete provavelmente não apenas à Grécia e a Joyce, mas também a seu próprio nomadismo musical e cultural: Ulysses é Gilberto.
Sobre o músico e compositor
Gilberto Mendes nasceu em 13 de outubro de 1922, compositor natural de Santos, onde sempre viveu e faleceu em 1 de janeiro de 2016. Foi aluno de Savino de Benedictis, Antonieta Rudge, Cláudio Santoro e Olivier Toni. Frequentou os Cursos de Darmstadt, entre 1962 e 1968. Fundador do Festival Música Nova (1962), o mais antigo do gênero em toda a América Latina e desde então seu diretor artístico, foi também signatário do Manifesto Música Nova (1963), publicado pela revista Invenção.
Doutor em música pela ECA-USP, onde foi professor até se aposentar. Atuou ainda como professor visitante da Universidade de Wisconsin-Milwaukee (1978- 1979) e da Universidade do Texas em Austin (1983), ambas nos EUA. Sua obra musical contempla três fases. A primeira delas dedicadas ao neofolclorismo e à canção brasileira (anos 1950). Já a sua segunda fase se caracteriza pelo experimento radical de novas possibilidades sonoras dos materiais musicais. A partir de fortes relações com a poesia concreta paulista do grupo Noigandres, tornou-se um dos pioneiros no Brasil da música concreta aleatória, serial integral, mixed media, experimentando ainda novos grafismos e a incorporação da ação musical à composição, com a invenção do teatro musical e do happening (anos 1960 e 1970).
Por fim, sua terceira fase se caracteriza pela maturidade de uma síntese, não só revisitando suas duas fases anteriores, como adotando novas linguagens abertas pós-vanguarda (desde os anos 1980). Recebeu a Ordem do Mérito Cultural, na classe de comendador, do Ministério da Cultura, das mãos do ex-presidente Lula. Verbetes com seu nome constam nas principais enciclopédias e dicionários mundiais, como GROVE (Inglaterra), RIEMANN (Alemanha), Dictionary of Contemporary Music de John Vinton (EUA) e inúmeros outros. Suas obras já foram apresentadas nos cinco continentes, principalmente na Europa e EUA. Seus dois livros, Uma Odisseia Musical (1994) e Viver Sua Música – Com Stravinsky em Meus Ouvidos, Rumo à Avenida Nevskiy (2009), foram publicados pela EDUSP. Foi membro da Academia Brasileira de Música e do Colégio de Compositores Latino-americanos de Música de Arte, com sede no México.
Com direção e produção musical do compositor e regente americano Jack Fortner, o Selo Sesc tem dois álbuns dedicados a obra de Gilberto Mendes. O CD A Música de Gilberto Mendes (2010), com obras inéditas instrumentais do compositor e algumas obras antigas. Além do CD duplo Festival Música Nova (2016), cujo repertório traz a história do Festival criado em 1962 e idealizado por Gilberto.
Sobre a Curadoria
Lorenzo Mammi possui graduação em Matérie Letterarie pela Università degli Studi di Firenze (1984), doutorado e livre docência em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1998, 2009). É professor da Universidade de São Paulo desde 1989. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Música e Artes Plásticas, atuando principalmente nos seguintes temas: música, arte contemporânea, filosofia patrística. Foi Diretor e Administrador do Centro Universitário Maria Antônia, foi também diretor artístico e consultor do Instituto Moreira Salles.
Sobre a pesquisa e desenvolvimento de conteúdo
Livio Tragtenberg é compositor, escritor e orientador de projetos de educação ligados à criatividade e inclusão cultural no Brasil, Alemanha e Estados Unidos. Criou as Orquestras de Músicos das Ruas de São Paulo, Miami, Berlim e Rio de Janeiro. Tem vários projetos como o SOUND BRIDGES EXPERIENCE, realizado com músicos refugiados em Frankfurt, Alemanha.
Serviço:
Exposição Gilberto Mendes – 100
Abertura: 3 de novembro de 2022, às 19h
Período expositivo: de 4 de novembro de 2022 a 30 de abril de 2023
Horário de visitação: Terça a sexta, das 10h às 21h30, e aos sábados, domingos e feriados das 10h às 18h30
Acessibilidade: mapa e piso táteis; vídeos com audiodescrição e tradução em libras; acessibilidade física; cães-guia e cães de serviço acompanhantes de pessoas com deficiência são bem-vindos aos espaços do Sesc.
Classificação Livre | Entrada gratuita
Visitas agendadas para grupos: [email protected]