Setembro Amarelo: mês de prevenção ao suicídio
Psicóloga esclarece aspectos psicológicos e sinais de alerta sobre o tema
- Data: 02/09/2022 12:09
- Alterado: 15/08/2023 23:08
- Autor: Redação
- Fonte: Uninter
Setembro Amarelo
Crédito:Freepik
“A vida é a melhor escolha!”. Este é o tema da campanha Setembro Amarelo de 2022, que tem como objetivo promover ações de prevenção ao suicídio. Segundo a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, isso sem contabilizar os casos subnotificados. No Brasil, são aproximadamente 14 mil casos por ano, uma média de 38 suicídios por dia. Uma triste realidade que atinge o mundo todo.
Outra comparação revela que em uma sala de 30 pessoas, cinco delas já pensaram em tirar a própria vida. Na grande maioria dos casos, o suicídio está relacionado a doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Por outro lado, existe o aspecto social, que é a ausência de uma rede de apoio, falta de políticas públicas de proteção, amparo, renda, oportunidades, educação, acesso a tratamentos de saúde física e mental.
4Ds
O Ministério da Saúde identificou alguns pontos semelhantes entre os casos de tentativas de morte em prontos-socorros denominados de 4Ds. Em geral os pacientes atribuem o comportamento às situações difíceis na vida, como: divórcio, doença, depressão, desesperança, desonra, desemprego, dor e outras coisas difíceis. Quando quatro dessas situações (que começam com D) acontecem simultaneamente, o risco de a pessoa tentar suicídio aumenta.
“Todos nós passamos por situações como estas, mas não ao mesmo tempo. O que muda é a simultaneidade e a intensidade. Por isso, ouvimos pessoas dizendo: “mas se matou só porque perdeu o emprego?”. Porém, o que não sabem é que esta pode ter sido a gota d’água. Suicídio não tem uma causa única e sim várias”, explica a psicóloga e coordenadora do curso de Psicanálise da Uninter, Giseli Cipriano Rodacoski.
Para entender mais sobre o assunto, confira abaixo a entrevista com a psicóloga e professora do curso de Psicanálise da Uninter, Raquel Berg.
Quais os aspectos psicológicos que podem levar uma pessoa ao suicídio?
Os aspectos podem variar muito de pessoa para pessoa, pois o suicídio é um transtorno multidimensional. Transtornos psiquiátricos e tentativas anteriores de suicídio são fatores que aumentam os riscos de suicídio. Pessoas que tiveram suicídios ou tentativas de suicídio na família, abuso sexual na infância, existência de comportamentos impulsivos e agressivos, isolamento social e doenças incapacitantes também são fatores predisponentes; a combinação dos 4D (depressão, desesperança, desamparo e desespero) com características individuais como ambivalência, impulsividade e rigidez (ou constrição) também são aspectos psicológicos que aumentam o risco de suicídio.
Quais os sinais de alerta que a pessoa pode dar?
Uso de frases de alerta, como por exemplo: “Essa é a última vez que você me vê”, “Eu preferia estar morto(a)”, “Eu sou um empecilho e um peso para os outros”, “Os outros serão mais felizes sem mim”, ou ameaças de suicídio frequentes; falta de sensibilidade ou despreocupação logo após a ocorrência de situações impactantes negativamente como desilusão amorosa, perda de emprego, desonra; tristeza excessiva, combinada com a falta de vontade de estar com outras pessoas; alteração repentina e inexplicada de comportamentos ou hábitos, juntamente com a vontade de tratar de vários assuntos pendentes ou fazer testamento.
Como lidar com os sentimentos e pensamentos de suicídio?
Quando há o desejo de suicídio, é importante encontrar pessoas (como amigos e familiares) que possam conversar com calma e sem julgamentos, e manter contato com essa pessoa que se dispôs a conversar para contar como está se sentindo. Também é fundamental buscar ajuda profissional, nunca ficar sozinho e buscar conversar com alguém de confiança antes de tomar qualquer decisão. Acessar canais como disque saúde SUS (136), CVV (188) ou ir a um hospital ou UBS para atendimento médico ou psicológico é uma excelente alternativa. Outras formas para ajudar a lidar com o desejo iminente de suicídio, além de falar com outras pessoas, é exercitar a respiração e a automassagem no pescoço, que diminuem a sensação de tensão e ansiedade.
O que familiares e amigos podem fazer para ajudar?
O suicídio é um transtorno, não um problema de cunho espiritual ou “desvio de personalidade”. Portanto, tanto os familiares quanto os amigos precisam estar atentos quando há uma pessoa com ideação suicida: ouvir atentamente e com calma, demonstrar empatia (ou seja, se colocar no lugar da pessoa), dar mensagens não-verbais de aceitação e respeito, respeitar os valores e as opiniões da pessoa, mostrar preocupação, conversar honestamente e com autenticidade e focar nos sentimentos da pessoa são a melhor forma de comunicação.
Interromper a pessoa, demonstrar choque ou emoção alterada, dizer que está ocupado ou minimizar o sentimento do outro, colocar o outro em situação de inferioridade, emitir julgamentos e dizer simplesmente que “vai ficar tudo bem” ou “tudo vai dar certo” são atitudes inadequadas e que pioram o quadro do paciente com desejo suicida. Além disso, tratar desse assunto com sensacionalismo, mostrando notícias e mencionando artistas famosos que se mataram ou falar do suicídio como se fosse algo glamoroso, artístico ou em nome de um bem maior podem apenas piorar os riscos, pois se cria uma identificação desajustada entre a pessoa que deseja se suicidar e aquele (ou aquela) artista que se suicidou. Acompanhar a pessoa em consultas e mostrar interesse pelo tratamento psíquico da pessoa também são atitudes positivas e que auxiliam na prevenção.
PROCURE AJUDA
136 – Disque Saúde SUS
188 – CVV
Hospitais, UBS e CAPS
Psicoterapia
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