99 mantém viagens com motos apesar de proibição em São Paulo
A prefeitura de São Paulo informou que, até as 11h30, já havia apreendido nove mototáxis
- Data: 16/01/2025 13:01
- Alterado: 16/01/2025 13:01
- Autor: Redação
- Fonte: Demétrio Vecchioli (FOLHAPRESS)
Crédito:Reprodução
A 99 segue oferecendo o serviço de caronas em motocicletas em São Paulo apesar de portaria da prefeitura proibir o uso delas para “transporte individual remunerado de passageiros por meio de aplicativos”.
O serviço começou a ser oferecido na terça-feira (14), na modalidade 99Moto, e no fim da manhã desta quinta-feira (16) a prefeitura de São Paulo informou que, até as 11h30, já havia apreendido nove mototáxis, sendo quatro na zona leste, três na norte, um na oeste e outro na sul, todos oferecendo “serviço irregular por meio do aplicativo da empresa 99”. Na quarta, três motos haviam sido apreendidas.
A operação envolve o Departamento de Transportes Públicos (DTP), com auxílio da Guarda Civil Metropolitana. A 99 disse à Folha de S.Paulo que o serviço é plenamente amparado pela legislação federal e, por isso, continuará operando normalmente na cidade.
Na quarta, a Justiça de São Paulo recusou o pedido da empresa 99 para acabar com a proibição do serviço de caronas em motocicletas na capital. O juiz Josué Vilela Pimentel, da 8ª Vara da Fazenda Pública, decidiu na tarde desta quarta-feira (15) que o decreto da prefeitura seguirá em vigor.
Na véspera, a empresa havia entrado com um mandado de segurança pedindo que a Justiça garantisse o direito de oferecer o serviço na cidade. O argumento era que a proibição era inconstitucional, uma vez que os serviços de mototáxi e de transporte por aplicativo estão previstos numa lei federal, a Política Nacional de Mobilidade Urbana.
A decisão é liminar, ou seja, provisória. Ela analisou principalmente a urgência da decisão de cancelar, ou não, uma determinação da prefeitura para que a empresa suspenda imediatamente o serviço. A 99 informou que irá recorrer à segunda instância do Tribunal de Justiça de São Paulo.
De acordo com a 99, só no primeiro dia de operação, na terça, foram realizadas 10 mil viagens de moto. Nesta quinta, a empresa disse que o serviço só está sendo oferecido na periferia. Pelo aplicativo, quem procura uma viagem chegando ou saindo do centro expandido não tem a opção de contratar o 99Moto. A 99 diz que o lançamento está sendo feito de forma gradual.
Para embasar a decisão de quarta, o juiz citou relatório do grupo de trabalho criado pela prefeitura para avaliar o serviço de carona em motocicletas. Redigido por técnicos da administração municipal e publicado em julho de 2024, o documento conclui que a modalidade não é segura, e que a exploração comercial das caronas em motos “é um grande risco de saúde pública”.
A análise leva em conta, por exemplo, que os motociclistas fariam um grande número de viagens ao longo do dia, e que o risco de acidentes aumentaria. O relatório também considera um risco o fato de passageiros utilizarem o condutor como seu apoio na motocicleta, o que altera o ponto de equilíbrio do motociclista a cada viagem, o que aumentaria a probabilidade de acidentes.
O texto foi redigido após 13 reuniões entre técnicos da prefeitura e representantes das empresas.
Pimentel afirma que o Ministério Público e a prefeitura devem ter a oportunidade de serem ouvidos antes de uma decisão, “de modo a garantir a estrita legalidade e resguardar, preventivamente, a segurança dos potenciais usuários dessa modalidade de transporte diante das peculiaridades do trânsito de veículos no Município de São Paulo”.
Após a 99 anunciar na terça que passaria a oferecer o serviço, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) reagiu chamando os responsáveis pela empresa de “assassinos“.
“Nós não vamos permitir que essa empresa venha para cá e faça uma carnificina. São assassinos”, ele disse.
A cidade de São Paulo teve 935 mortes de janeiro a novembro deste ano -em média, mais de duas mortes por dia-, um crescimento de quase 13%.
Os motociclistas e passageiros em motos são aqueles que mais morrem em acidentes de trânsito. Segundo o Infosiga, a quantidade de motociclistas mortos cresceu de 318 para 384 no período entre janeiro e novembro, na comparação do ano passado com 2023.
Um total de 2.390 motociclistas morreram no trânsito em todo o estado, ou mais de 40% do total de mortes.
Após o anúncio da 99, o SindimotoSP (sindicato de motociclistas do estado) divulgou uma nota de repúdio contra o serviço. O sindicato afirma que a iniciativa desrespeita leis e que “a insistência da 99 com esse serviço de transportes de passageiros com moto só aumentará o número de vítimas”.