Vitórias no RS dão sobrevida a plano do PSDB de lançar Eduardo Leite à Presidência em 2026
Governador, por outro lado, também enfrentou dificuldades no estado, sem candidato próprio na capital e com derrota de correligionário em Pelotas
- Data: 31/10/2024 14:10
- Alterado: 31/10/2024 14:10
- Autor: Redação
- Fonte: Carlos Villela/Folhapress
Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB)
Crédito:Divulgação/PSDB
Na contramão de um saldo nacional bastante negativo, o PSDB conquistou resultados relevantes nas eleições municipais deste ano no Rio Grande do Sul. Vitórias em Gravataí e Viamão no primeiro turno e viradas em Caxias do Sul e Santa Maria no segundo turno garantiram ao partido o comando de 4 das 10 maiores cidades gaúchas.
O crescimento de 29 para 35 prefeituras no estado dá sobrevida à ambição da legenda de lançar o governador Eduardo Leite à Presidência em 2026. Por outro lado, não aplaca a dificuldade de fazer uma campanha de terceira via após uma sucessão de crises internas e em meio à polarização nacional entre o PT de Lula e o PL de Jair Bolsonaro.
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo na terça (29), o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, mais uma vez reafirmou a intenção de lançar o governador gaúcho à Presidência da República daqui a dois anos.
“Eu vejo hoje o Eduardo Leite maior do que o PSDB”, diz o prefeito Adiló Didomenico, reeleito em Caxias do Sul, maior cidade da serra gaúcha, com 463 mil habitantes.
No domingo (27), ele derrotou Maurício Scalco (PL) por 51,4% a 48,6%, recebendo o apoio crítico do PT contra um candidato ligado ao bolsonarismo, hoje a maior força política da região. Esse endosso virou munição para a oposição à direita. “Tentaram me colocar um carimbo de esquerda durante um bom tempo, não pegou”, afirma.
O prefeito, que se identifica como de centro-direita, diz acreditar que o PSDB ainda sofre as consequências da estratégia adotada em 2022, quando abriu mão de lançar candidato a presidente após a desistência de João Doria e apoiou Simone Tebet (MDB).
“Começou errado fazendo aquelas prévias, depois não lançando o candidato. Abriu espaço para outros partidos crescerem e hoje está bastante fragilizado”, diz. “Na eleição para prefeitos, se não fosse a liderança do governador, seguramente nós teríamos tido mais problemas”.
Para ele, Leite é o nome tucano à Presidência, mas os próximos meses serão fundamentais para definir o futuro político do governador e a sobrevivência do partido.
O PSDB conquistou 273 prefeituras, nenhuma delas de capital, em 2024. O número representa uma queda de quase 50% em comparação com as 523 vitórias em 2020.
Os resultados foram obtidos graças ao desempenho no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul e Pernambuco, os três estados com governadores do partido.
Em São Paulo, a sigla foi engolida por rivais como o PSD e não conseguiu eleger nenhum vereador para a Câmara Municipal da capital.
Para sonhar com 2026, Adiló sugere uma federação maior com outros partidos -hoje, está apenas com o Cidadania- ou a fusão com outras siglas. “Na estrutura nacional, o PSDB vai ter que se reinventar, e se reinventar muito rápido.”
Se, em Caxias do Sul, o PSDB contou com o voto útil do PT, em Santa Maria a união das direitas em torno de Rodrigo Decimo garantiu o terceiro mandato consecutivo para os tucanos.
O político saiu atrás no primeiro turno, mas derrotou o deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) por 54,5% a 45,5%, com declaração de apoio crítico de candidatos do PL e do Novo e engajamento do governador na campanha.
Decimo diz que só será possível projetar o futuro do partido em 2025. “Vamos ter mais clareza a partir do início desse novo ciclo, dessas novas gestões que o PSDB estará à frente no estado”, diz.
A vitória do grupo de Leite em Santa Maria também foi uma derrota para o ministro petista Paulo Pimenta, natural da cidade, que chefiou no governo federal a Secretaria Emergencial criada para a resposta à tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul. Pimenta é cotado para disputar o governo estadual ou o Senado em 2026.
A popularidade de Leite, por outro lado, foi posta em xeque em sua base eleitoral. Seu candidato foi derrotado no primeiro turno, interrompendo uma sequência de três mandatos do PSDB em Pelotas, onde o governador já foi vereador e prefeito.
A cidade hoje é governada por Paula Mascarenhas, presidente do partido no estado e uma das aliadas mais fiéis do governador –foi vice dele na prefeitura.
Com a derrota de Fernando Estima, que ficou em terceiro lugar, o segundo turno na cidade ficou entre o ex-prefeito Fernando Marroni (PT) e o empresário Marciano Perondi (PL).
Parte do PSDB apoiou o candidato do PL, mas Leite e Paula abriram voto crítico para Marroni. Foi a primeira vez que o governador gaúcho declarou voto em um candidato do PT em 16 anos de vida pública.
Em uma disputa acirrada, Marroni venceu com 50,36% dos votos válidos -menos de 1.300 votos de diferença para Perondi.
A vitória selou o bom resultado do PT nas maiores cidades do extremo sul do Brasil, após vencer no primeiro turno em Rio Grande, Bagé e São Lourenço do Sul. Somados, os quatro municípios têm cerca de 675 mil habitantes.
Leite também enfrentou dificuldades na capital Porto Alegre, onde o PSDB não conseguiu consenso para lançar uma candidatura competitiva a tempo. Em cima da hora, acabou apoiando Juliana Brizola (PDT), que terminou o pleito em terceiro lugar.
No segundo turno, Leite declarou apoio para o candidato à reeleição Sebastião Melo (MDB) contra Maria do Rosário (PT).
Apesar da proximidade ideológica maior entre Leite e Melo, vitorioso no domingo, o apoio foi criticado por setores do PT como uma ingratidão.
Em 2022, Rosário e outros nomes da esquerda deram apoio crítico a Leite no segundo turno da disputa ao governo. Já Melo apoiou o ex-ministro bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), apesar de o MDB compor a chapa de Leite com o vice Gabriel Souza.