Um de cada cinco imóveis do centro de SP está desocupado, mostra o Censo
Os dados do IBGE mostram que a cidade de São Paulo está distante de alcançar um dos principais objetivos da seu planejamento urbanístico, que é o adensamento populacional do centro
- Data: 21/03/2024 10:03
- Alterado: 21/03/2024 10:03
- Autor: Redação
- Fonte: NATÁLIA SANTOS, CLAYTON CASTELANI, AUGUSTO CONCONI, NICHOLAS PRETTO E TULIO KRUSE - FOLHAPRESS
Predios
Crédito:Arquivo - Agência Brasil
A região central de São Paulo tem a maior proporção de imóveis residenciais desocupados da cidade, segundo dados do Censo 2022 divulgados nesta quinta-feira (21) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
São 58,7 mil domicílios particulares sem uso, o que equivale a 20,7% do universo de 283,2 mil unidades habitacionais dos dez distritos que compõem a região central da capital paulista. Na prática, um a cada cinco domicílios dessa área está desocupado.
O percentual da vacância imobiliária no centro também é significativamente maior em relação à média geral de 13,5% na cidade existem 675,8 mil imóveis sem ocupação permanente entre as mais de 4,9 milhões de unidades registradas em toda a cidade.
Embora tenha a maior taxa de desocupação, o centro possui o menor número de residências da cidade. Situação inversa ocorre na zona leste, que concentra o maior número de domicílios e a menor proporção de unidades vazias 12,6% (205,3 mil) dos seus 1,63 milhão domicílios foram considerados vagos pelo IBGE.
Em números absolutos, é a zona sul que lidera o ranking de domicílios sem ocupação permanente, com 209,9 mil das suas 1,61 milhão de unidades desocupadas. Nessa área do município, 13% dos domicílios estão desocupados.
Quando comparados a evolução entre os Censos de 2010 e de 2022, é possível verificar o aumento de imóveis vazios no centro cresceu em relação ao total da capital.
Em 2010, a região possuía 7,5% do total de habitações vazias da cidade. Doze anos depois, essa participação avançou para 8,7%. É um fenômeno que destoa da maior parte das demais regiões.
Somente a zona sul também aumentou significativamente sua participação no total de imóveis desocupados, indo de 29,4% para 31,1% no período.
As regiões que tiveram diminuição foram leste (de 30,7% para 30,4% do total do município), norte (17% para 16,4%) e oeste (15,5% para 13,5%).
Entre os distritos centrais, a República foi o que mais viu o número de imóveis vagos crescer em relação a todas as moradias disponíveis na região. Em 2010, esses domicílios representavam 11,6% de todas as unidades locais. Em 12 anos, essa proporção aumentou para 26,8%. A República tem 11,4 mil imóveis particulares sem ocupantes, segundo o retrato feito pelo IBGE em 2022.
A Consolação vivenciou fenômeno semelhante da República, com sua taxa de desocupação passando de 9% para 23,2%. A região possui 8,3 mil domicílios desocupados.
O terceiro distrito central com maior crescimento da desocupação de imóveis residenciais foi a Bela Vista, passando de 9,8% para 23,5% no período.
Os dados do Censo também mostram que os dez distritos centrais tiveram significativa expansão da oferta de unidades residenciais. Entre 2010 e 2022, o total de imóveis na região central passou de 228 mil para cerca de 283,2 mil, um crescimento de 24%.
Esse aumento na produção habitacional, porém, não resultou em aumento significativo da quantidade de moradores. A população da região central cresceu apenas 0,4% no intervalo de 12 anos, passando de 477,7 mil, em 2010, para 479,6 mil, em 2022. São 1.900 pessoas a mais vivendo na área.
As análises específicas de cada distrito da cidade passaram a ser possíveis porque nesta nova divulgação o IBGE apresentou os dados preliminares dos setores censitários, que são pequenos recortes das cidades onde recenseadores realizaram entrevistas do Censo. Uma divulgação mais detalhada dessas informações ocorrerá no segundo semestre.
Os dados do IBGE mostram que a cidade de São Paulo está distante de alcançar um dos principais objetivos da seu planejamento urbanístico, que é o adensamento populacional do centro. A ideia, materializada nas leis que buscam ordenar o crescimento da capital, é colocar o maior número de moradores nas áreas onde há maior infraestrutura.
Além de evitar a expansão do município para áreas de mananciais e de mata, a compactação economiza dinheiro que seria necessário para levar transporte e outros equipamentos públicos para regiões distantes.
Entre essas regras urbanísticas está o PIU (Projeto de Intervenção Urbana) do Setor Central, com uma série de incentivos para que o mercado imobiliário construa unidades habitacionais em alguns dos distritos da região central, como Sé, República, Brás, Belém, Pari, Bom Retiro e Santa Cecília. A expectativa anunciada pela prefeitura é atrair mais de 220 mil novos moradores para a região.
Especialmente voltada ao centro, há na cidade um programa municipal específico para retrofits, como são chamadas as reformas que modernizam edifícios antigos para que fiquem como novos.
O Requalifica Centro prevê isenções de IPTU e desconto de outros impostos nos distritos República e Sé, assim como na cracolândia, como é conhecia a área na qual se concentram usuários de drogas no centro.
Desde a aprovação do Plano Diretor, em 2014, urbanistas avaliam com ceticismo a capacidade desse regramento urbanístico para atrair moradores em larga escala para o centro.
A principal crítica é que a política baseada em fomento ao mercado imobiliário não resulta na produção de habitação para famílias com renda de 1 a 3 salários mínimos, camada da população que concentra o déficit habitacional.