Todos os dias para lembrar – Mas um só para não esquecer!

Ok. Em todos os dias devo sempre me lembrar. Mas que eu siga tendo um só para não esquecer!

  • Data: 09/03/2017 11:03
  • Alterado: 09/03/2017 11:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Paulo Porto é roqueiro do ABC. Músico, Compositor, Pesquisador Cultural e Advogado
Todos os dias para lembrar – Mas um só para não esquecer!

 

Você está em:

Ontem, o antológico Joseval Peixoto (Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan), durante os momentos em que teve alguma oportunidade (parou na primeira), tentou homenagear as mulheres pelo seu dia. O mulherio que cerca e faz o bom jornal, no entanto, agradecendo com referências (porque vinha dele), meio que dispensou sua, digamos, garbosidade… E por várias, salutares e ponderáveis razões.

Porque a mulher se cansou das flores… Até no dia mundialmente dedicado a ela. Nesses dias difíceis, tudo é motivo para que se mostrem os dentes e para que se coloquem a faca entre eles. Mas, Joseval não tinha faca nenhuma entre seus dentes, quando estes foram vistos por elas em seu semblante. E o que ele queria receber de volta, ele ofereceu. Ele apenas sorria…

Até os grandes homens são vítimas das gentilezas que construíram a sua cultura… E quase sempre pelos jovens que se acotovelam na busca de seu espaço nesse mundo produtivo… Que não se culpem o inexorável tempo. Que não se culpem as novas culturas que se enraízam sobre nossos pés. Nem suas folhas que caem, insistindo cobrir nosso tronco pela promessa de ser adubo aos novos frutos, mas também para que sejamos inteiramente raízes…

E Joseval, em seu destaque final (que fecha diariamente o jornal), cuidou de falar do porquê da mulher querer mostrar para o mundo que chega de flores! E falou… No entanto, recolhido na leveza que o requinta, ele disse mais… E pôde ser, ainda, o discreto homem de outrora, que faz questão de apresentar o seu respeito e a sua admiração. Que manteve o costume de tirar o seu impecável chapéu e fazer as sempre justas deferências às mulheres em seu dia…

Eu reproduzi aqui, muito do que ele falou; do meu jeito. Acho que é porque queria eu ter dito o que ele disse…

Recomendo a leitura. Foi lindo e sublime o que ouvi. Você encontra no Youtube. Ele foi a Roma, parafraseou “Santa”, soneto de Hermeto Lima (nascido no século XIX), citou Karl Mark e Paulinho da Viola… Bom… A partir daqui, é contigo, meu caro e estimado Joseval:

A Folha de SP mostrou hoje o sofrimento da mulher proporcionado pelo homem por todas as épocas. Não apenas no violento campo do relacionamento ou do sexo, mas também da economia… A mulher apta para o emprego, preenchendo todos requisitos para a vaga com excelência, a perdeu quando informou ter um filho de 11 meses… Pois é… Ok. Importantíssimo relatar todos os casos e causas desse sofrimento desigual. Pauta recorrente e necessária…

Mas como fica aquilo que os romanos chamaram de “rerum natura”? A natureza das coisas? Porque a mulher é a irmã, é a mãe, a filha, a prima, a tia, a avó… É a namorada… É a esposa e, portanto, a mãe de família. Os romanos tinham muito respeito pela mulher… Só a mulher era certa. Eles diziam: “mater certa” – a mãe era certa. “Pater incertus est” – o pai é incerto. Nunca se sabe quem é realmente o pai. Sempre se sabe quem é a mãe…

E como é que fica? Acabam os sonetos? Acabam os versos? Acabam as novelas da Globo? O amor vai pra onde?

“Dizem que em certa noite de esplendores, a essa que esmaga o coração mais forte, salmos cantaram e atiraram flores às estrelas, em mágico transporte. Você dirá que é fantasia e eu te direi que não! Em certo dia, quando ela entrava na triunfal capela, cantaram hinos e atiraram flores às estrelas, nesse mágico transporte… Eu vi a Virgem desfazer-se em pranto e o Cristo de Marfim fitá-la tanto, que parecia namorado dela!”

E tudo isso acaba? E qual é a finalidade da vida? O que viemos fazer aqui neste mundo? Só produzir parafusos, galochas e máquinas de desentortar bananas? Porque essa era a tese de Marx: a história dos povos e a história econômica dos povos…

Então acaba aquele cruzamento de olhar do jovem e da jovenzinha? Onde nasce – por acaso, pelo cruzamento simples do olhar, um amor que vai florescer num lar? E, portanto, na compra de uma geladeira, de uma cama de casal, de um guarda-roupa, da construção de uma família… No nascimento de uma criança?

Ou vale o princípio metafísico de que há um princípio e uma finalidade na vida? Porque, segundo a metafísica, o fim é o princípio de todas as coisas… E como faremos? Acaba tudo? Vamos só produzir parafusos, garrafas, galochas e máquinas de desentortar bananas? Vamos só disputar produção? Homens e mulheres tornar-se-ão mão e boca! Acaba então a essência da vida e nós mandamos para o espaço, inclusive, a poesia de Paulinho da Viola:

Tá certo. Eu aceito o argumento!
Mas não destrua o samba tanto assim…
Olha que a rapaziada está achando falta de um cavaco,
De um pandeiro e de um tamborim…
(…)

Nesta data, que não é sua, parabéns também a você, Joseval. Parabéns e obrigado por me fazer sentir ser um pouco do que és… E enquanto as folhas ainda não cubram meu tronco, permita-me, humildemente, que este “jovem” aqui (que também acotovela) reproduza o que alguém importante da minha geração andou dizendo: A gente não quer só comida… A gente quer comida, diversão e arte…

Compartilhar:
1
Crédito:Courtesy of The Mona Lisa Foundation NULL
1
Crédito:NULL NULL

  • Data: 09/03/2017 11:03
  • Alterado:09/03/2017 11:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Paulo Porto é roqueiro do ABC. Músico, Compositor, Pesquisador Cultural e Advogado









Copyright © 2024 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados