Teste da picape Ford Ranger Black – Aposta no escuro

Lançada há um ano para diversificar a oferta da Ford Ranger, a versão Black tem no custo-benefício um dos seus maiores atrativos

  • Data: 01/04/2022 09:04
  • Alterado: 01/04/2022 09:04
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix
Teste da picape Ford Ranger Black – Aposta no escuro

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Em janeiro do ano passado, quando anunciou que encerraria suas atividades industriais no território brasileiro, a Ford colocou um fim em uma história secular como fabricante de veículos no Brasil – e iniciou um novo capítulo, agora como importadora. De lá para cá, atende ao mercado brasileiro com veículos bem mais caros e requintados que os compactos Ka e o EcoSport que produzia por aqui – modelos de maior valor agregado e com mais lucratividade. Atualmente, a líder de vendas da marca é a Ranger. Com as 1.990 unidades emplacadas em janeiro e fevereiro, a picape média importada da Argentina respondeu por 81% dos emplacamentos da Ford este ano, muitíssimo à frente dos “colegas de vitrine” – os utilitários esportivos Territory (importado da China) e Bronco Sport (México), o cupê esportivo Mustang (Estados Unidos), a picape Maverick (México) e o furgão Transit (Uruguai). A Ranger é a terceira picape média mais vendida do Brasil – superada por Toyota Hilux e Chevrolet S10 –, e a estratégia da marca para ela é criar versões específicas para atender a diferentes nichos do segmento. Há nove configurações disponíveis para a Ranger e uma das mais populares é a Black. Apresentada no Brasil há um ano, foi o primeiro lançamento da Ford após o fim da produção local e trouxe uma opção inédita no segmento: motor a diesel e tração traseira. Combina o motor Duratorq 2.2, a transmissão automática, a tonalidade preta na carroceria e nos detalhes com um preço competitivo em relação à concorrência.

Mais do que um mero argumento de vendas, a competitividade do preço da versão pode ser comprovada nos próprios sites das marcas que lideram o segmento de picapes. No da Ford, o preço sugerido para a Ranger Black é de R$ 218.240 (o valor é mais elevado na Região Norte e no Estado de São Paulo em decorrência da tributação local). Trata-se da segunda versão mais barata da Ranger com cabine dupla – abaixo dela, há apenas a despojada XLS 2.2 Diesel 4×2 AT, com o mesmo “powertrain” e preço de R$ 209.320. No site da Chevrolet, como a concorrente S10 equipada com o motor 2.5 flex e tração 4×2 saiu de linha no início deste ano, o que decretou o fim das picapes médias com motor bicombustível no mercado brasileiro, o modelo mais acessível é a S10 LS 2.8 Diesel 4×4 – começa em R$ 231.340. Já no da Toyota, a Hilux parte de R$ 268.520 na versão mais básica de cabine dupla com câmbio automático, a SR. Ou seja, a faixa de preços mais ampliada (para baixo) ajuda a Ranger a se posicionar bem e explica porque suas vendas têm crescido gradativamente nos últimos tempos.

Dentro da proposta da Ford de atacar os diversos nichos do segmento de picapes médias, a Black busca atender ao cliente que roda predominantemente na cidade e aprecia um design robusto e um estilo elegante. O visual monocromático negro tanto na carroceria (em cor perolizada Preto Gales) quanto na cabine, com detalhes foscos e brilhantes, realça a sofisticação. O santantônio é o mesmo da versão Limited e se harmoniza com o rack de teto, estribos, maçanetas e grade dianteira em preto fosco. Faróis e lanternas ganharam uma máscara escura e as rodas de 18 polegadas têm design exclusivo. A praticidade no uso urbano pode ser reforçada pela capota elétrica para a caçamba, um acessório exclusivo dessa versão dentro da Ford – custa R$ 10 mil e inclui protetor de caçamba e rede para guardar compras.

O interior também adota o visual “dark”. A lista de equipamentos inclui bancos de couro, volante e descansa-braço central com revestimento refinado, sete airbags, ar-condicionado de dupla zona, piloto automático, controle de tração e estabilidade, controle adaptativo de carga, sistemas anticapotamento e de controle de reboque e assistente de partida em rampa. A central multimídia é a Sync 3 com tela “touch” de 8 polegadas, comandos de voz e acesso a Apple CarPlay e Android Auto. O sistema FordPass Connect marca presença na versão.

O conjunto mecânico é o mais “manso” da Ranger, formado por motor Duratorq 2.2 Diesel de quatro cilindros, com 160 cavalos, 39,3 kgfm de torque e tração 4×2 – nas configurações “top” (Limited, FX4, XLT e Storm), o propulsor é o Duratorq turbodiesel 3.2 de cinco cilindros, com 200 cavalos de potência, 47,9 kgfm de torque e a tração 4×4. Segundo a Ford, a escolha da tração simples para a versão Black atende à proposta de uso urbano – além de contribuir para melhorar o custo-benefício. O motor trabalha acoplado à transmissão automática de 6 velocidades. A configuração oferece 23,5 centímetros de altura livre em relação ao solo, com capacidade de imersão de 80 centímetros – a maior da categoria – e pode ser útil em uma condição de alagamento na cidade, algo tristemente corriqueiro em muitas metrópoles brasileiras.

A nova geração da Ranger foi apresentada em novembro do ano passado na Inglaterra e traz uma assinatura luminosa dianteira semelhante à da F-150, com uma linha que contorna o conjunto óptico na parte externa, formando um “C”. A produção da nova geração na Argentina, de onde vem o modelo vendido no Brasil, deve ser iniciada em 2023. Até lá, tudo indica que a Ford continuará investindo em diferentes nichos das picapes médias para ganhar competitividade. A última versão apresentada foi a lameira FX4, lançada no início de março.

EXPERIÊNCIA A BORDO
Máscara negra
Como ocorre com a maioria das picapes médias atuais, a cabine da Ranger Black tem o conforto similar ao de um automóvel. Todavia, a idade da atual geração da Ranger já transparece no estilo interior. Há plástico duro espalhado nos painéis das portas e no console, embora o acabamento siga o bom padrão da fábrica argentina da Ford –, e a onipresença do negro reforça a elegância. O painel de instrumentos tem duas pequenas telas nas laterais, uma para a multimídia e outra para o computador de bordo. O ar-condicionado é de duas zonas e a chave é comum, sem modernidades do tipo “presencial com partida por botão”.

A central multimídia Sync 3 usa uma tela tátil de 8 polegadas e é compatível com Android Auto e Apple CarPlay. O sistema FordPass Connect, com modem embarcado, permite controlar pelo celular funções como travamento e abertura, partida remota com climatização da cabine, hodômetro, autonomia e localização do veículo. Fazem falta na versão Black o ajuste de profundidade do volante – há apenas regulagem de altura – e vidros um-toque para todos – só o do motorista tem esse privilégio. Outro ponto a rever é o encosto do banco traseiro, um tanto verticalizado e pouco confortável.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Noturno à luz do sol
Nas arrancadas, a Ranger Black não esbanja força do jeito abusado das versões com motor 3.2 turbodiesel. O comportamento dinâmico é mais comedido e as retomadas não são tão ligeiras. Em compensação, as visitas aos postos de combustíveis se tornam bem mais eventuais com o motor 2.2. Pela autonomia indicada pelo computador de bordo, daria para rodar mais de 800 quilômetros com um tanque cheio de diesel – no caso, são generosos 80 litros. No uso urbano, que é a proposta do modelo, o motor 2.2 parece até melhor ajustado em relação ao “nervoso” 3.2. Na Ranger com o 2.2, o torque surge na medida certa e a potência aparece sem exageros.

Por adotar uma suspensão de eixo rígido e feixe de molas na traseira, a Ranger tende a “pular” um pouco quando a caçamba está vazia. A carroceria balança nas curvas e frenagens, mas preserva uma reconfortante estabilidade. A direção elétrica é bem ajustada, com a desejável progressividade. Controle de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas e controles de cruzeiro e adaptativo de carga ajudam a tornar o manejo da picape mais cordial. Se não oferece um comportamento arrebatador, o 2.2 entrega força quando solicitado. O câmbio automático de 6 marchas tem trocas sequenciais e administra bem os atributos do motor. Se a alavanca do câmbio for colocada na posição Sport, as trocas ocorrem em rotação mais elevada. Nas frenagens, é prudente reservar uma distância um pouco maior do que o normal em um carro de passeio – afinal, mesmo vazia, a picape pesa mais de duas toneladas.

Nas trilhas, que não são o “habitat” da versão Black, a falta de tração integral se traduz em eventuais “escapadas” em piso de terra ou cascalho. Em condições adversas de aderência, a tração traseira normalmente se revela mais vantajosa que a dianteira – em caminhos enlameados, facilita a tarefa de empurrar o veículo, em vez de puxá-lo. A tração 4×2 não inviabiliza trilhas menos radicais, mas a Black é uma opção para quem não tem pretensão de usar a picape em terrenos tão acidentados e não vê razão em pagar a mais por um sistema 4×4. De volta à cidade, o porte avantajado da Black impõe respeito nas ruas. Todavia, os 5,35 metros de comprimento nem sempre se harmonizam com os espaços exíguos de alguns estacionamentos. A câmera de ré e o sensor de estacionamento ajudam na tarefa.

FICHA TÉCNICA
Ford Ranger Black
Motor: dianteiro, longitudinal, quatro cilindros, turbodiesel, 2.198 cm³ de cilindrada, duplo comando e injeção direta
Potência: 160 cavalos a 3.200 rpm
Torque: 39,2 kgfm de 1.600 a 2.500 rpm
Tração: 4×2 traseira
Câmbio: automático de 6 marchas
Direção: elétrica
Suspensão: Independente, braços sobrepostos (dianteira) e eixo rígido (traseira)
Freios: discos ventilados (dianteira) e tambores (traseira)
Pneus: 265/60 R18
Dimensões: 5,35 metros de comprimento, 1,97 metro de largura, 1,84 metro de altura e 3,22 metros de entre-eixos
Tanque: 80 litros
Caçamba: 1.180 litros
Peso: 2.032 kg
Fabricação: Coronel Pacheco (Argentina)
Preço: R$ 218.240 (na Região Norte e no Estado de São Paulo, o preço é maior em decorrência da tributação local)

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