Síndrome do irmão mais novo
Como Youtubers e Streamers se tornaram o "go-to" canal para vender jogos
- Data: 19/10/2017 12:10
- Alterado: 22/08/2023 21:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Eric Araki/Trianons
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Mark Plier é o exemplo do Entertainer dos games. Carismático e bem humorado, a voz agradável, sustos hilários e ações beneficentes do Youtuber conquistaram mais de sete bilhões de views e dezoito milhões de inscritos. Foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso de Five Nights at Freddies e Subnautica, dois Indies que não passariam de rostos na multidão se dependessem de suas campanhas de marketing.
Não é de hoje que youtubers são usados para vender coisas. Nos idos de 2010, quando PC Siqueira e Felipe Neto lançavam a onda no Brasil, empresas lá fora começavam a perceber o valor dos influenciadores na venda de seus jogos – graças a um game chamado Minecraft.
FENÔMENO
Você já ouviu o nome, claro. De três anos para cá ele está em todos os lugares: nas bancas de jornal, nas lojas de brinquedo, nos rankings dos livros mais vendidos e nos PCs de mais de 121 milhões de jogadores em todo o mundo – número que lhe rendeu a nobre posição de segundo jogo mais vendido de todos os tempos, atrás apenas de Tetris.
Você sabe, aquele aquele game com gráficos horrorosos e jogabilidade simples. Um título 100% na contramão de toda a corrida pelo fotorrealismo dos games, mas que alcançou sucesso tamanho a ponto de virar caso de estudo em milhares de instituições financeiras, sob o nome de “Fenômeno Minecraft”.
O que talvez não tenham lhe contado é como Minecraft começou como o projeto cabeceira de um homem só, que chegou ao seu primeiro milhão em seis meses sem nenhuma verba de marketing, sendo totalmente divulgado por entusiastas no Youtube.
As palavras-chave aqui são “1 milhão de vendas”, “seis meses” e “zero investimento em marketing”.
ALÇANDO VOO
Minecraft chamou a atenção dos marketeiros naquela época, mas os mais céticos colocaram os influenciadores de lado e creditaram a natureza “Lego” do jogo pela viralização. Ledo engano. Anos depois, Flappybird confirmou o papel do ecossistema do Youtube e mostrou que um raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar.
Este era um jogo mobile medíocre que sequer se esforçava em não ser. Programado num único final de semana usando ilegalmente assets recoloridos de Super Mario, ele lhe colocava no comando de um pássaro roliço que deveria vencer obstáculos saltando a cada toque na tela. A premissa simples o permitiu (sabe-se lá como) passar pelo crivo das duas maiores lojas de aplicativos… E viver seus primeiros seis meses na mais completa obscuridade. Note que “mais completa” não é uma hipérbole: de seu lançamento, em maio de 2013, até seu primeiro meio ano de vida, Flappy Bird teve 0 downloads.
Eis que um sujeito chamado Pewdiepie baixou, jogou e disse: “não joguem este jogo, ele é muito ruim”.
Acontece que Pewdiepie era um Youtuber, o maior de todos eles. Na época, seu canal tinha mais de 19 milhões de inscritos – e crescia na impressionante velocidade de 1.037 inscritos a cada segundo. No início de 2014, o vlogueiro sueco experimentou (e odiou) Flappy Bird. No mesmo mês, o game se tornou o app mais baixado tanto da App Store quanto do Google Play Store, com mais de seis bilhões de downloads e – mesmo sendo um game gratuito – fazendo 50 mil dólares ao dia em anúncios dentro do jogo.
E as portas do fabuloso negócio dos Youtubers foi aberta.
BROS
Se você tem filhos, sobrinhos ou irmãos muito mais novos, evidentemente conhece Minecraft. Provavelmente sabe também da natureza quase hipnótica que ele e seus streamers têm sobre o público. E, definitivamente, já perguntou “qual a graça de ficar horas vendo um cara jogando aquilo!?”. A razão básica é a mesma que nos leva a fazer qualquer coisa em nosso tempo livre, o entretenimento. Agora, por que o Youtube, no lugar de entrar no game e jogar? Esta é uma pergunta um pouco mais complexa.
O melhor nome para isso é a Síndrome do irmão Mais Novo. O público assiste ao Caster como a um irmão mais velho – e não aquele que briga com eles quando algo dá errado, mas o idealizado, cool, engraçado, que conversa sobre assuntos legais, os faz rir e faz o que todos sonham em fazer: viver de jogar videogame. Com a vantagem de que, se o espectador quiser jogar enquanto assiste, pode fazer isso sem brigar pelo controle.
Youtubers são entertainers de qualidade. Fazem com que você se sinta jogando com seu melhor amigo, um cara tão legal que vai aonde precisar para lhe tratar bem. E “tratar bem” é o que fazer de melhor, muito mais que celebridades que povoam as manchetes do Ego.
VAMOS JOGAR UM JOGO…
Os números divulgados no último estudo do Google <https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/advertising-channels/v%C3%ADdeo/pesquisa-video-viewers-2017-cinco-insights-sobre-consumo-de-videos-no-brasil/> celebravam o crescimento do YouTube sobre a TV. Metade dos brasileiros na plataforma acessam para se entreter com algo que amam; cinco entre dez desses o fazem por se sentirem como parte de uma comunidade – exatamente como faziam com a antiga caixa mágica ao assistirem à novela, ao seriado ou ao jogo para não ficarem de fora dos comentários no dia seguinte.
É sinal dos tempos, como a atualização do sinal digital para o analógico ou do MP3 para o serviço de música streaming. Não que um tenha decretado a extinção do outro, longe disso. Mas, eventualmente, pode ocorrer.
Por isso, não é difícil entender por que as empresas consideram esses caras peças essenciais em suas estratégias de marketing. Afinal, todo mundo quer a chance de fazer do seu jogo os próximos Minecraft ou Flappy Bird.