Sem perder o rebolado
Na reta final para as Olimpíadas do Rio, Caio Bonfim ultrapassa até as gozações com a marcha atlética
- Data: 04/02/2016 10:02
- Alterado: 04/02/2016 10:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Jogos Cariocas
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Na marcha atlética, o atleta tem que estar sempre com pelo menos um pé no chão. Ao tirar ambos os pés do chão, o atleta é desclassificado, já que está correndo. No momento em que encosta o calcanhar no chão, a perna deve estar toda estendida. Como a perna de apoio tem que estar esticada ao tocar no chão, é necessário jogar o quadril para frente para ganhar velocidade. Esse movimento gera o característico “rebolado” que rende indefectíveis provocações aos praticantes da marcha atlética. Como Caio Bonfim, que representará o Brasil na modalidade em duas provas olímpicas no Rio de Janeiro, nas distâncias de 20 km e 50 km. “Todos os dias, durante os treinos, escuto ofensas, xingamentos e gozações. Mas, hoje em dia, ouço mais estímulos e a gritos de apoio do que coisas negativas. Quanto mais a gente compete e traz resultados, mais conhecido a gente vai ficando”, pondera o brasiliense de 24 anos, filho de uma campeã de marcha atlética e de um treinador de atletismo, que é patrocinado pela marca de tênis Skechers e pela Caixa.
Jogos Cariocas – A sua mãe, Gianetti Bonfim, foi heptacampeã brasileira de marcha atlética. E seu pai, João Bonfim, é professor de Educação Física e treinador de atletismo. Quando percebeu que poderia ser uma atleta de excelência?
Caio Bonfim – Com a convivência, era inevitável essa influência. Com dez anos de idade, já sabia marchar e fui campeão brasiliense. Na adolescência, resolvi me dedicar ao futebol e passei três anos longe da marcha. Em 2007, a pedido de meu pai, me inscrevi na Copa Brasil de Marcha Atlética e fui o segundo na categoria Menor. Isso sem treino nenhum. Com um mês de treino, fiz o índice para poder participar do Campeonato Mundial de Menores em Ostrava, na República Tcheca. Foi nessa competição que eu entrei no mundo da marcha atlética e vi que estava na hora de largar o futebol. Então comecei a treinar duro para ser o melhor possível.
Jogos Cariocas – Como é sua rotina de treinos?
Caio Bonfim – Treino em Sobradinho, cidade serrana do Distrito Federal, que fica a 1.100 metros de altitude. Acordo e vou para o treino mais forte, que é pela manhã. Treino uma média de 30 km por dia. À tarde tem o treino secundário, uma média de 10 km com ginástica, musculação, pilates e alongamento. Terças e quintas, treino velocidade. No sábado, faço um treino mais forte, com distâncias entre 30 a 40 km. E no domingo eu tiro folga.
Jogos Cariocas – Qual foi seu momento mais emocionante no esporte?
Caio Bonfim – A medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em julho de 2015, foi muito legal. Mas foi o sexto lugar no Mundial de Atletismo de Pequim, no mês seguinte, que me deu a sensação de que posso ir mais longe.
Jogos Cariocas – Você participou das Olimpíadas de Londres, em 2012, e terminou entre os 40 primeiros. Quais são as chances do Brasil na marcha atlética nas Olimpíadas do Rio?
Caio Bonfim – No feminino, a Érica de Sena tem chances de medalha por ter sido a sexta no Mundial de Pequim, em 2015. Como também fui sexto no Mundial, eu tenho o direito de pensar o mesmo sobre a minha possível performance… Correr “em casa” não é vantagem, é mais pressão. O bom é que agora a pressão não me incomoda. Supero várias pressões por dia. Quem é focado não pode ter medo de pressão.
Jogos Cariocas – O que poderia ser feito para popularizar mais a marcha atlética no Brasil?
Caio Bonfim – Quando o Brasil ganhar uma medalha em Mundial ou nas Olimpíadas, a marcha irá atropelar a corrida de rua. Basta só um pouco mais de divulgação e investimento e a marcha vai “bombar” por aqui!
Jogos Cariocas – Nos Jogos do Rio, você vai correr duas provas – os 20 km e os 50 km. O esforço em uma disputa não pode atrapalhar o desempenho na seguinte?
Caio Bonfim – Vou dar tudo nos 20 km, que é a minha melhor prova – meu melhor tempo é 1:20:28. Os 50 km serão para o que der e vier, mas vou melhorar a minha marca, que é 4:1:42. A marcha atlética vai proporcionar muitas alegrias para o Brasil. Infelizmente só há pouco tempo as instituições brasileiras estão tendo a visão de que a marcha pode render uma medalha nas Olimpíadas do Rio. Se houvesse apoio desde 2012, hoje estaríamos entre os melhores do mundo. Somos teimosos e vamos continuar treinando mais ainda. Infelizmente, eu e a Érica de Sena não estamos sequer na lista dos atletas que recebem a Bolsa Pódio, do Ministério dos Esportes. Acho isto uma tremenda injustiça.