Sabesp discute na COP 28 formas de enfrentar escassez latente de água
Papel do recurso natural na crise climática foi debatido por lideranças que ponderaram soluções alternativas em Dubai
- Data: 12/12/2023 21:12
- Alterado: 12/12/2023 21:12
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Sabesp
Crédito:Divulgação
Parceria, trabalho em conjunto, nova regulamentação e um olhar para o futuro são o caminho para enfrentar uma possível escassez de água. Esta foi uma das conclusões do painel “A água é a crise climática”, promovido pela Sabesp e pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) no último domingo (10), durante a COP 28, em Dubai.
O debate apresentou diferentes visões e perspectivas sobre o problema, com exemplos das experiências de Singapura, Emirados Árabes e Brasil trazidos pela Agência Nacional de Águas de Singapura e pelas empresas de água e saneamento básico, TAQA e Sabesp. Singapura e os Emirados já enfrentam a escassez e utilizam o processo de dessalinização como sua principal fonte de geração de água. No Brasil, São Paulo, que já passou por graves crises hídricas, começa a estudar esta e outras alternativas como parte da solução. O consenso, porém, é que a questão precisa ser endereçada considerando uma perspectiva climática de longo prazo.
Como o mundo se encontra no limite da escassez de água, Adrien Portafaix, representante da Science Based Targets Network (SBTN), trouxe uma perspectiva mais teórica ao debate, ressaltando que as grandes corporações e os governos precisam se unir em busca de soluções para o problema. “Reduzir o uso é mais complicado do que parece. Não podemos dizer às pessoas simplesmente não usem. Temos que reduzir onde é possível. Água é um dos direitos humanos e também é importante para a economia, principalmente para a agricultura. Você pode não fazer uso intensivo da água em seu negócio, mas pode ter alguém na sua cadeia que o faça”, observou.
Para evitar a escassez e enfrentar o problema da água, que vem se expandindo rapidamente em função dos efeitos climáticos, Portafaix salientou que as empresas não podem agir sozinhas: é preciso que os governos também se posicionem. “Além da parceria, precisamos de mais: de novas regulamentações de uso, de regras mais restritas para locais de atividade intensiva ou de maior escassez. As parcerias devem vir também dos governos”, acrescentou.
Nesta jornada, contudo, há países que enfrentam dilemas, como o Brasil, observou o mediador do painel, Franck Gbaguidi, diretor de Sustentabilidade do Eurasia Group. “Nem sempre os caminhos são simples e convergem. No Brasil, neste momento eles não convergem porque, primeiro, é preciso dar acesso ao saneamento para grande parte da população que ainda não possui”, afirmou.
Resiliência para a universalização
A escassez hídrica enfrentada em São Paulo pela Sabesp, a segunda maior empresa de gestão de saneamento do mundo de acordo com a GWI*, há alguns anos ajudou no desenvolvimento de um sistema mais resiliente e integrado, além de ter promovido maior conscientização dos clientes em relação ao consumo. Destacando projetos como o Novo Rio Pinheiros e o Integra Tietê, Virginia Ribeiro, superintendente de Sustentabilidade e Governança Corporativa da Sabesp, observou durante o painel que essas iniciativas levam saneamento à população mais carente, mas também reduzem perdas, já que as ligações irregulares aumentam as chances de desperdício.
“Nossos projetos de despoluição dos rios levam saneamento a milhares de pessoas. Distribuímos a mesma água para toda população independentemente de classe. “, afirmou Virgínia. Por meio do Programa de Soluções Sustentáveis de Saneamento (3S), a Sabesp busca parcerias para não só produzir água de reuso, biogás e fertilizantes a partir dos resíduos gerados nas estações de tratamento de esgoto, mas também para desenvolver trabalhos nas áreas mais vulneráveis e proporcionar a melhoria na qualidade de vida desta população.
Para a superintendente, entretanto, o setor não pode prescindir de ter um olhar de negócio. “Estamos trabalhando para que a sustentabilidade gere valor para a companhia porque sabemos que vamos precisar de muito investimento nos próximos anos, tanto para transformá-lo para que gere menos resíduos como para atingir a universalização. Por isso, o aprendizado, o desenvolvimento e a parceria são essenciais”, observou.
Farid Al Awlaqi, diretor de Geração Global e de Água da TAQA, empresa sediada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, que enfrentou problema similar com a escassez, concordou com Virgínia, que apesar de a TAQA, em semelhança com a Sabesp, ser uma empresa que distribui um produto essencial, precisa ser financeiramente sustentável e gerar lucros para seus investidores. “A água é essencial para vida, e enquanto houver humanos na Terra, precisaremos dela. Esta região tem hoje 10% da população do mundo mas menos de 2% da chuva. Construímos 50% da capacidade de dessalinização mundial. Também usamos o calor que sai das nossas usinas de energia para captar água do ar. Na maior parte do planeta, a água produz energia. Aqui energia é importante para produzir água”, disse Awlaqi.
No passado, Singapura importava 50% de sua água da Malásia, lembrou Michael Toh, Diretor do Departamento de Colaboração Industrial e Tecnológica da PUB – Agência Nacional de Águas do país. “Imagina correr o risco de ficar sem metade de seu abastecimento de uma hora para outra. Hoje utilizamos a dessalinização e capturamos toda gota de água que cai do céu”, explicou Toh, observando que “mesmo que tenhamos resolvido este problema, temos que continuar olhando para o futuro. Se o mar subir um metro, por exemplo, teremos um grande problema”.
Para todos, aumentar a eficiência e reutilizar todos os resíduos provenientes das estações de tratamento é essencial. “Hoje capturamos água de onde ela vier, distribuímos, depois a coletamos novamente e a reutilizamos, fechando o ciclo completamente”, conta Awlaqi. Singapura também utiliza o processo semelhante sem desperdício.
A Sabesp já tem em suas instalações de forma separada a produção de biogás que abastecem a frota da Franca, a produção de água de reuso na estação de tratamento da região do ABC em São Paulo, que é utilizada de forma industrial, e produção dos fertilizantes a partir do lodo na cidade de Botucatu, São Paulo. Nos próximos anos, transformará as cinco estações de tratamento de esgoto da Região Metropolitana de São Paulo – ABC, Barueri, Parque Novo Mundo, São Miguel e Suzano – em Estações de Recuperação de Recursos Hídricos, com capacidade para fechar o ciclo de economia circular e ainda gerar energia fotovoltaica em suas grandes áreas.
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