S20, braço científico do G20, tem início nesta segunda (11) no Rio de Janeiro
'A visão política é muito tacanha', diz a brasileira Helena Nader, que lidera a edição 2024 do evento
- Data: 09/03/2024 14:03
- Alterado: 09/03/2024 14:03
- Autor: Redação
- Fonte: Phillippe Watanabe/Folhapress
Crédito:Divulgação
Assim como o G20, presidido pelo Brasil neste ano, o S20 (Science20) também ocorrerá por aqui e buscará apontar recomendações e ações para os líderes mundiais das maiores economias do mundo.
O S20 surgiu em 2017, sendo um grupo de engajamento ligado ao G20 relativamente recente, em comparação ao próprio G20, que é de 1999. Trata-se da união das 19 academias nacionais de ciências dos países com maiores PIB (Produto Interno Bruto) e a representação científica da comunidade europeia.
Enquanto a discussão em outras instâncias do G20 acaba tendo maior foco em economia e desenvolvimento, o negócio do S20 é a ciência. Não que sejam discussões distantes. “Tudo isso é dependente de ciência”, diz Helena Nader, presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciências).
O Brasil será a oitava casa das reuniões do S20, que já passaram por Alemanha, Argentina, Japão, Arábia Saudita, Itália, Indonésia e Índia.
Nader já é basicamente uma veterana no evento. A edição no Rio de Janeiro será a quinta da qual ela participará. A diferença é que nesta será a sherpa –uma espécie de líder geral.
Segundo Nader, as diversas reuniões que compõem o S20 – a abertura e divisão de trabalhos ocorrerão nesta segunda (11) e terça (12) – buscam apontar para o que todas essas academias científicas propõem como relevante para todo o mundo, inclusive para países de fora do G20.
A edição de 2024 do S20 tem como lema “Ciência para a transformação mundial” e se debruçará sobre cinco eixos temáticos centrais: bioeconomia, desafios da saúde, inteligência artificial, justiça social, processo de transição energética.
Nader reforça a importância de olhar para todos esses temas sem deixar de lado o aspecto social. “Estamos falando de bioeconomia. Todo mundo sabe o que é, mas ela precisa estar olhando o social. A bioeconomia não pode estar desvinculada do território, assim como a transição energética. Se olhar só o econômico e não olhar o social, não vai dar certo”, afirma a sherpa.
As reuniões, assim como ocorre com o G20, vão se espalhar pelo ano.
De acordo com Nader, o Brasil, como sede do S20, chega sem a pretensão de empurrar um documento final pronto para as outras nações, uma estratégia de liderança que já trouxe problemas, por exemplo, na edição da Índia. “Os países não queriam assinar o documento”, afirma.
A ideia é construir um documento que reflita o que pensam todos os atores presentes. Basicamente, ao final do S20, é elaborado um documento detalhado que é compartilhado entre as academias. Esse documento maior gera um menor e as indicações que são encaminhadas para o G20.
Nader afirma que a convergência de ideias também é importante por causa da agenda 2030, que pode ser resumida, de modo genérico, como um plano de ação para o desenvolvimento sustentável.
“Sem convergência não vai acontecer”, diz a sherpa. “A agenda 2030 está chegando ao fim e estamos longe de atingir os 17 objetivos.”
Além das academias nacionais, a edição brasileira traz como novidade a presença de outras organizações científicas internacionais. Estão confirmadas as participações da IAP (Parceria InterAcademias), ISC (Conselho Internacional de Ciência), TWAS (Academia Mundial de Ciências), IANAS (Rede Interamericana de Academias de Ciências), e da AASSA (Associação de Academias e Sociedades de Ciências da Ásia).
Por fim, as tensões geopolíticas presentes no G20 não ganham tanto corpo no S20, de acordo com Nader.
Mas, logicamente, a política e a ciência se sobrepõem em diversos aspectos. A sherpa cita o que vem ocorrendo com a política científica argentina sob o governo de Javier Milei. A Argentina também é parte do G20.
O presidente argentino cortou da estrutura do país o Ministério da Ciência e Tecnologia e reduziu significativamente o orçamento da Conicet (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnica).
Tem havido reação internacional por causa da situação científica argentina. A própria ABC já demonstrou, em nota, “profunda preocupação diante das recentes declarações e ações do governo” Milei e prestou solidariedade à comunidade científica argentina.
Recentemente, 68 ganhadores do Prêmio Nobel afirmaram, em carta ao presidente argentino, que a ciência do país “se aproxima de um perigoso precipício”. Os laureados pedem que Milei recue nos cortes orçamentários a instituições de ensino e pesquisa argentinos.
“A visão política é muito tacanha. Não entende para que serve a ciência”, afirma Nader.