Rússia anuncia vacina personalizada contra câncer
Especialistas pedem cautela e reforçam a importância de estudos científicos
- Data: 19/12/2024 09:12
- Alterado: 19/12/2024 09:12
- Autor: Redação
- Fonte: G1
Crédito:Myke Sena/MS
Recentemente, a Rússia divulgou que está desenvolvendo uma vacina contra o câncer, com previsão de distribuição gratuita a pacientes a partir de 2025. O anúncio foi feito pelo Ministério da Saúde russo, que destacou que a nova vacina utiliza tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), similar à empregada nas vacinas contra a Covid-19 fabricadas por Pfizer e Moderna.
Segundo informações do Centro Nacional de Pesquisa Médica Radiológica, a vacina será personalizada para cada paciente. “A partir da análise genética do tumor, será criada uma vacina única capaz de treinar o sistema imunológico para reconhecer e atacar células cancerígenas”, informou o ministério.
O diretor do Centro Nacional de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, Alexander Gintsburg, mencionou em entrevista que os testes pré-clínicos indicam que o imunizante tem potencial para inibir o crescimento de tumores e metástases. No entanto, é importante ressaltar que até o momento não foram publicados estudos científicos que comprovem a eficácia e segurança da vacina ou especifiquem quais tipos de câncer ela poderá tratar.
A ausência de publicações revisadas por pares gera preocupação entre especialistas. Mariana Brait, gerente sênior de pesquisas do A.C.Camargo Cancer Center, destacou que não existem dados disponíveis sobre a vacina russa na literatura científica. “Não encontramos evidências de resultados promissores oriundos de grupos de pesquisa na Rússia voltados para a oncologia”, afirmou.
Os estudos publicados em periódicos científicos são fundamentais para garantir a qualidade e credibilidade das informações. Esse processo envolve uma revisão por especialistas independentes, assegurando que as metodologias e conclusões estejam corretas e fundamentadas.
“Divulgar informações sem respaldo científico gera desconfiança e pode ser considerado um desserviço à sociedade”, completou Brait. Durante a pandemia de Covid-19, ficou evidente que a criação de vacinas requer várias fases de testes para garantir sua segurança e eficácia. O processo normalmente inclui testes em animais antes da aplicação em humanos, além das fases 1, 2 e 3, que envolvem diferentes números de voluntários.
No contexto global, pesquisadores continuam explorando opções para vacinas contra o câncer. Em Londres, cientistas estão desenvolvendo uma vacina voltada para o melanoma, enquanto nos Estados Unidos está em andamento um teste com uma vacina brasileira contra o câncer de próstata.
As vacinas oncológicas têm como principal objetivo fortalecer o sistema imunológico e ensinar o corpo a identificar células cancerígenas. Elas podem ser classificadas em três categorias: preventiva, terapêutica e personalizada. As vacinas preventivas visam evitar o surgimento do câncer; as terapêuticas buscam combater células cancerígenas já existentes; e as personalizadas atuam com base nas alterações genéticas específicas do câncer do paciente.
Ainda segundo Mariana Brait, várias vacinas estão sendo estudadas na área da oncologia, incluindo aquelas que utilizam RNA para atingir alvos específicos relacionados ao câncer. Pesquisas estão sendo realizadas em diversos centros ao redor do mundo, incluindo Oxford, onde se busca desenvolver tratamentos inovadores para o câncer de ovário.