Retorno de Trump não deve afetar relação EUA-China

Diálogo entre líderes gera otimismo, mas especialistas alertam para desafios nas relações sino-americanas.

  • Data: 19/01/2025 12:01
  • Alterado: 19/01/2025 12:01
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: FOLHAPRESS
Retorno de Trump não deve afetar relação EUA-China

Crédito:Reprodução

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Após a recente conversa entre Donald Trump e Xi Jinping, realizada na sexta-feira (17), o mercado financeiro reagiu com entusiasmo, com investidores direcionando suas apostas em fundos associados às ações chinesas. Durante o diálogo, conforme informado por Pequim, o presidente eleito dos Estados Unidos expressou que as economias dos dois países “devem se dar bem por anos“, ressaltando sua expectativa de “resolver muitos problemas junto” ao líder chinês, com foco inicial na busca por um equilíbrio comercial.

Essa declaração de Trump gerou otimismo no mercado financeiro, indicando uma possível disposição do novo presidente americano para negociar e alcançar acordos favoráveis. Contudo, dias antes dessa conversa, especialistas em política externa da China apresentaram uma perspectiva menos alentadora sobre as relações bilaterais.

Wang Jisi, Yan Xuetong e Zhang Yuyan, líderes dos principais institutos de relações internacionais das universidades de Pequim e Tsinghua e da Academia Chinesa de Ciências Sociais, respectivamente, discutiram por mais de duas horas as limitações e ilusões acerca do governo Trump. Wang alertou que “Trump superestima sua própria força” e que seu tempo na presidência será limitado a apenas quatro anos, o que torna difícil a realização de todas as suas promessas. Ele também enfatizou que as declarações do republicano devem ser interpretadas com cautela, pois podem não refletir suas verdadeiras intenções.

Zhang, por sua vez, apontou que a administração Trump provavelmente seguirá a estratégia americana de manter uma posição de superioridade sobre a China, sem implementar mudanças significativas. Ele concordou com Wang ao afirmar que as palavras de Trump não devem ser levadas ao pé da letra, embora tenha chamado atenção para promessas feitas durante a campanha, como a imposição de tarifas de 60% sobre produtos chineses.

Em relação à flexibilidade de Trump nas negociações internacionais, Yan demonstrou ceticismo. Embora reconheça a possibilidade de cooperação em questões como a situação no Estreito de Taiwan e diretrizes para o desenvolvimento da inteligência artificial, ele destacou que essa colaboração se baseia mais em interesses mútuos do que em eventuais características pessoais do novo presidente.

Quando indagado sobre o papel de Elon Musk nas relações entre China e Estados Unidos, Wang considerou positiva a influência do empresário devido ao seu conhecimento tecnológico e ao relacionamento prévio com a China. No entanto, ele alertou que não se deve depositar esperanças na política bilateral em um único indivíduo.

Yan complementou que mudanças nas relações internacionais dependem do poder político dos indivíduos em seus próprios países, reiterando que Trump é o principal ator capaz de influenciar essas transformações. Em uma análise mais ampla, Wang reconheceu que tanto Pequim quanto Washington veem-se como adversários atualmente, comparando a situação atual a um estado semelhante ao da Guerra Fria. Ele advertiu que as relações sino-americanas se tornaram tensas nos últimos dez anos e podem perdurar por longos períodos.

Apesar das tensões crescentes previstas para os próximos anos, Wang acredita que o risco de um conflito armado entre os dois países permanece baixo, concentrando-se mais nas esferas econômica e tecnológica. Para ele, existem fatores racionais suficientes para evitar uma guerra aberta. Yan também observou que a competição estratégica começou quando os EUA mudaram seu foco para a Ásia há 14 anos, posicionando a China como seu maior concorrente.

Diferentemente da Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética, Yan argumentou que nenhum dos lados se envolveu em guerras por procuração nesse período. No entanto, ele previu que sob a liderança de Trump haverá um aumento da desglobalização econômica sem necessariamente retornar ao cenário da Guerra Fria. Com isso, ele alertou que as potências globais tendem a adotar abordagens cada vez mais baseadas no poder ao enfrentar disputas.

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  • Data: 19/01/2025 12:01
  • Alterado:19/01/2025 12:01
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