Reforma Tributária – Lula e o Discurso Pra Quem Precisa Ouvir (Amém)

Mais que analisar as entrelinhas por detrás de um discurso, entender para quem foram as falas mais sutis do presidente Lula na tarde de ontem (durante a Reforma Tributária em meio a um congresso tão polarizado) é uma missão tão ingrata, quanto "abençoada"

  • Data: 21/12/2023 12:12
  • Alterado: 21/12/2023 19:12
  • Autor: João Pedro Mello
  • Fonte: ABCdoABC
Reforma Tributária – Lula e o Discurso Pra Quem Precisa Ouvir (Amém)

Lula destaca “fotografia histórica” da reforma tributária

Crédito:Lula Marques

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Na tarde de ontem (20), durante a cerimônia de promulgação que aprovou a reforma tributária, o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), discursou por entre aplausos efusivos e vaias em desacordo, no Congresso, em Brasília. Citando o que chamou de “compromisso com o povo brasileiro”, além de agradecer a Deus em meio a uma série de divergências com a oposição, o presidente Lula, pediu aos congressistas, que “guardassem o momento”, visto que todos ali presentes, de alguma maneira tiveram sua contribuição para uma aprovação histórica para o regime democrático como um todo.

Reforma Tributária

O presidente afirmou ainda que nosso país tem a economia que mais cresce, e que o posicionamento ideológico não deve interferir no interesse da nação, destacando também que a reforma tributária certamente não irá ser uma resolução para todos os problemas que temos a resolver, muito pelo contrário, entretanto, ela foi uma espécie de ensaio do Congresso Nacional, independente da postura política congressista. Ademais, Lula traçou um paralelo interessante acerca de um Congresso tanto rachado, quanto democrático, ao compará-lo dizendo se parecer um reflexo do nosso país.

“Esse Congresso, com direita, esquerda, (com) centro ou qualquer outra coisa, mulheres e homens, negros e brancos, este Congresso, quer goste ou não o presidente, é a cara da sociedade brasileira que votou nas eleições de 2022”, refletiu o presidente.

Promulgada, a proposta de Emenda à Constituição (PEC), visa simplificar a tributação de impostos no Brasil de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária, na prática, serão cinco os impostos que irão sofrer alteração (ICMS, ISS, IPI, PIS, Cofins). Na prática, eles serão substituídos por outros dois impostos de calor agregados (IVA): o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), nos estados e municípios, e pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), na esfera federal. Dentre os reflexos está também a criação de um imposto seletivo, como modo de conter produtos e serviços prejudiciais à saúde e o ecossistema do Brasil. Com quase quatro horas de sessão no plenário, o texto da PEC foi aprovado no segundo turno por 371 a 121 votos pelo plenário.

Vale lembrar de todos os agradecimentos feitos pelo presidente, muitos deles voltados a uma figura religiosa (específica), o que se pode depreender algumas reflexões e arriscar algumas leituras acerca desses movimentos. Senão vejamos, é importante destacar que, nas últimas eleições, muitos se elegeram senadores, governadores, entre outros cargos da bancada evangélica. Entretanto, mesmo em meio as eleições para presidente, (enquanto candidatos) já se sabia que no caso de uma vitória de Lula, ele necessariamente teria de lidar com aqueles eleitores que a “bancada de cristo” tanto suou para conquistar, aqueles que acabaram ficando de “herança”. Pois bem, sendo oposição ou não, eles estão aí.

Existe uma grande verdade na fala do presidente Lula sobre os congressistas não precisarem gostar do governo, ou até dele mesmo (e eu acrescentaria) mais: é bem verdade que Lula não precisa agradar a todos os gregos, mas é sempre importante ter cuidado também com os troianos, a gente nunca sabe o que pode vir de lá. Ao cuidarmos apenas da nossa vizinhança, a gente corre um risco de esquecer, primeiro que, ninguém governa sozinho e mais, não governa para um grupo apenas. Aqueles que esquecessem das regrinhas do bê-á-bá tupiniquim, sucumbem na primeira temporada de nossa tão jovem democracia, que mal compreende o significado de quando um vence o outro perde e não, quando um vence o outro pede impeachment.

É bastante perceptível a maneira como Lula, (eu diria até que de forma bastante hábil), realiza sutis acenos para esse público da “direita órfã”, pois são justamente nestes instantes que vemos o petista — ao falar sobre Deus, quando dialoga diretamente com essas pessoas, agora há quase um ano, tem “ovelhas “pra chamar de suas —, portanto, não há mais razão para discursos do “Nós x Eles”, ao menos não um chefe de Estado, assim, deixe isso para as “torcidas/eleitores”.

Estes acenos ficam mais claros, após receber a informação de que boa parte da oposição estaria babando pra grudar no seu cangote, então ele se precaveu, o discurso foi um movimento orquestrado, mais do que isso, alguns especialistas da semiótica diriam até que existe por detrás de tudo um discurso, ou uma “agenda” (com interesses escusos, aqui, os alvos e proteções poderiam muito bem ser para) a bancada da bala, ou os evangélicos, ou seja, toda a ala bolsonarista de maneira geral. Existe um lado bastante curioso de se observar como o petista fez questão de agradecer a Deus, ainda sobre os acenos discretos de Lula.

O presidente fez referências ao divino em seus agradecimentos acerca da promulgação da reforma tributária, ele acrescentou que “apenas o todo poderoso” tem poder de mobilizar todo um Congresso Nacional contrário para poder mudar novas políticas de impostos do Brasil quando lados opostos não costumam se entender.

“Tenho certeza que temos que agradecer a Deus, somente o todo poderoso é capaz de fazer com que um Congresso tão adverso como esse vote, pela primeira vez, uma política tributária para começar a resolver o problema do povo pobre desse país”, afirmou o presidente Lula.

Se não fosse irônico, seria dramático pra senhora oposição, mas creio que em meio a tantas cobras, cobranças e lagartos, talvez alguém lá de cima considere o petista, o vencedor dessa batalha, ao menos nesse round.

Então o que se viu no despertar do dia foi, um homem assustado ao adentrar no congresso, parecia não esperar por tantos leões famintos, mesmo assim não se intimidou, parecia um camisa 10 na torcida adversária, jogando na Bombonera, e o adversário com o perdão do trocadilho, tinha um(a) Boca cheia de dentes e opiniões aos berros. Para que se possa ter uma ideia, na “equipe” adversária, jogava o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que liderava uma turba raivosa. O petista não se intimidou, não caminhou sob as águas ou tão pouco fez chover, ele fez algo muito maior, nesse dia, Luís Inácio, pode-se dizer, fez um milagre, de fato conseguiu, foi crucificado por uns e aclamado por outros tantos, mas é claro que não conseguiria agradar a todos. Um dia Deus disse, faça-se a luz, a luz houve. Após, Deus ordenou que houvesse o firmamento e assim houve. Ontem, alguma forma divina parecia protegê-lo das raias da oposição, das vaias de seu medo em vão e assim parecia um craque após o gol, correndo para os braços da sua torcida, comemorando um título, e a vitória e claro, dando glória a Deus, ao passo em que vestindo vermelho ansioso por essa taça divina por 30 anos de espera de tramitação no Congresso Nacional.

E mesmo que nomeados pelos “interÉsses” (de Brizola), nesse dia, a chuva se fez temporal pra quem precisou de um milagre. A voz se fez clara com alto e bom som em meio a multidão de berros em contrários, mas somente pra quem precisava ouvir, e assim, ele foi abençoado. Em nome do pai, do filho e do espirito santo.

Amém.

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  • Data: 21/12/2023 12:12
  • Alterado:21/12/2023 19:12
  • Autor: João Pedro Mello
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