Redenção compacta
Em sua apresentação à imprensa mundial na Croácia, o novo Mercedes Classe A expressa bem a sua incrível trajetória
- Data: 10/05/2018 11:05
- Alterado: 10/05/2018 11:05
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: António Pereira/Absolute Motors/Portugal para Agência AutoMotrix
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Com o Classe A, a Mercedes contrariou uma velha máxima – provou que pau que nasce torto pode muito bem endireitar-se. E como! Apresentado no Salão de Genebra de 1997, o Classe A original protagonizaria, pouco depois, o inesquecível episódio em que, dirigido por um jornalista sueco, capotou ao fazer o célebre “Teste do Alce”– um teste de segurança automotiva que consiste em conduzir um veículo em alta velocidade numa estrada, subitamente desviar para a pista da esquerda e pouco depois retornar para a da direita. Suspensas as suas vendas e produção, regressaria ao mercado, meses depois, com uma suspensão mais firme e o ESP incluído em seus equipamentos de série. Em 2012, quando foi lançada a sua terceira geração, o Classe A deixou para trás esse conturbado início de vida. Duas décadas e três gerações após seu surgimento, acumula perto de três milhões de emplacamentos. Imaginado originalmente para clientes mais maduros, o Classe A passou a ser uma proposta bem mais juvenil. Desde sua primeira geração, reduziu sua faixa etária em 10 anos e 60% dos seus clientes desde 2012 vêm de outras marcas. É um modelo absolutamente decisivo para seu fabricante. A própria Mercedes afirma que a nova geração do Classe A é capaz de redefinir o conceito de luxo no segmento dos familiares compactos de marcas premium.
Logo num primeiro olhar, o novo Classe A – apresentado mundialmente no último Salão de Genebra, em março – é de imediato identificável como um Classe A. Com a aparência dinâmica e um certo toque esportivo herdado do seu antecessor, a nova geração exibe um estilo mais puro, assim como dimensões e proporções aperfeiçoadas – cresceram a distância entre-eixos e a projeção traseira. Assume-se como o passo seguinte da filosofia de design “Pureza Sensual” da Mercedes, mas com uma superior funcionalidade. Com uma plataforma totalmente nova, o Classe A cresceu 12 cm em comprimento (4,42 metros), 1,6 cm em largura (1,79 metro), 0,6 cm em altura (1,44 metro) e 3 cm entre-eixos (2,73 metros). Tal aumento das dimensões ganha ainda mais impacto visual com os opcionais faróis com leds e a grade com look diamante. As rodas aumentaram uma polegada face à geração anterior (variam, agora, entre 16” e 19”). E o coeficiente de penetração aerodinâmica passou de 0,26 para 0,25 cx – é anunciado como o melhor do segmento –, em parte, graças ao sistema opcional Airpanel, constituído por uma cortina ativa na grade frontal que ajuda a otimizar a aerodinâmica e o consumo.
A performance dinâmica foi outro trunfo que contribuiu para o invejável sucesso do Classe A da geração anterior. E o novo, é obvio, não pretende ficar atrás. Pelo contrário, aposta num desempenho de excelência e, para isso, conta com uma maior rigidez estrutural e suspensões mais evoluídas. A suspensão dianteira volta a adotar uma solução do tipo MacPherson com triângulo inferior, mas com uma geometria otimizada e maior quantidade de componentes em alumínio, para reduzir o peso. Já o eixo traseiro é do tipo semi-rígido nas versões de acesso, ou multi-link, com quatro braços, nas variantes mais potentes e em todas as que disponham de tração integral 4Matic. Opcionalmente, pode contar com uma configuração rebaixada em 15 mm e dotada de molas e amortecedores específicos, para um desempenho mais esportivo, ou mesmo dispor de amortecimento ativo. O sistema Dynamic Select – que permite optar entre os modos de Condução Eco, Normal, Sport e Individual (personalizável pelo motorista) – é de série em todas as versões.
A oferta inicial de motores inclui três unidades com turbocompressor e injeção direta de combustível. Na base da gama está o A200, movido pelo novo propulsor a gasolina de 1.332 cc desenvolvido em conjunto com a Renault, em substituição do anterior 1.6. Com 163 cv e 25,5 kgfm, conta com sistema de desativação de cilindros, que, em carga parcial, entre as 1.250 e 3.800 rpm, está apto a desligar dois cilindros por meio da inibição do funcionamento das válvulas de admissão e escape do segundo e terceiro cilindros, com o intuito de reduzir consumos e emissões. A Mercedes fala em 19,2 km/l no ciclo combinado. A opção diesel, tão ao gosto do mercado europeu, toma forma no A180d, que, mais uma vez, conta com o conhecido motor Renault de 1.5 litro, agora com 116 cv e 26,5 kgfm. O mais dotado da família é, por enquanto, o A250, equipado com uma evolução do anterior quatro cilindros de 2.0 litros com distribuição variável Camtronic, de 224 cv e 35,7 kgfm. Nas versões mais potentes, a transmissão é de dupla embreagem e sete velocidades 7G-DCT, uma evolução da conhecida geração anterior. Nas mais acessíveis, vem um novo câmbio manual de 6 velocidades.
Mas o novo Classe A e as suas três opções de motor são só a primeira página do novo capítulo da história. Até porque a família de compactos da marca passará a contar com oito membros: o recém-mostrado hatchback, os já conhecidos Classe B, CLA, CLA Shooting Brake e GLA, os novos Classe A Limousine e GLB… E mais um que ainda está por ser revelado. Quanto a novas versões, as de tração integral 4Matic chegam em outubro ao mercado europeu. Para 2019, estão previstos o A35 AMG – que será revelado ainda este ano –, o A 200 d (movido pelo mesmo motor 2.0 turbodiesel de 150 cv do Classe E, combinado com caixa manual e automática), o A 45 AMG (com potência na casa dos 400 cv) e uma variante híbrida. A versão totalmente elétrica deverá ser uma realidade, embora o mais provável é que surja integrada à gama da EQ, a nova submarca da Mercedes para os elétricos. Na Alemanha, a fabricante propõe o A 200 pelo preço inicial de 30.232 euros, cerca de R$ 128 mil, enquanto o A 250 parte de 36.460 euros, perto de R$ 154 mil. Estão disponíveis, com todos os motores e vários pacotes de opcionais. No Brasil, os preços e a data de lançamento do novo Classe A não estâo definidos, Mas o modelo será um dos destaques do estande da Mercedes-Benz no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, em novembro.
EXPERIÊNCIA A BORDO
AMBIENTE FUTURISTA
O interior do novo Classe A é extremamente acolhedor. E mais ainda quando dotado de muitos opcionais, inclusive os mais refinados acabamentos e materiais de revestimentos. Mesmo assim, é possível identificar alguns (raros, reconheça-se) plásticos pouco convincentes para um automóvel premium, mesmo que destinado ao segmento dos compactos. O crescimento nas dimensões e no entre-eixos se traduz num espaço habitável mais generoso. A mala oferece 370 litros com os cinco acentos fixos (mais 29 litros que anteriormente) e a maior parte dos espaços destinados à arrumação de objetos também cresceu. Quanto à decoração, é marcada pelo tablier ininterrupto e pelas cinco saídas de ventilação em forma de turbina. Como opcional, há uma iluminação ambiente por leds capaz de variar entre 64 cores – o que oferece alguns efeitos espetaculares.
Como todos os Mercedes totalmente novos da atualidade, o novo Classe A estreia soluções que nem os mais exclusivos modelos da marca oferecem. A mais espetacular, que gradualmente integrará o restante da linha da marca da estrela, é o sistema de infoentretenimento MBUX (Mercedes-Benz User Experience). Ele foi apresentado em três níveis, que começam a distinguir-se pelas telas que os compõem – a que serve de painel de instrumentos digital e a instalada no centro do tablier. Na versão Homescreen, ambas são de 7”; na Basescreen, a central é de 10,25”; na Fullscreen, um verdadeiro “must”, as duas são de 10,25”. Além do aspecto futurista que conferem ao habitáculo, tudo é facilmente configurável por meio da tela touchscreen central, do novo e soberbo touchpad instalado entre os bancos dianteiros, ou dos botões sensíveis ao toque existentes no volante. Uma verdadeira tentação para os amantes das novas tecnologias.
São tantas as funções do MBUX que é impossível descrever todas, e muito menos em detalhes. Uma das mais admiráveis são os comandos vocais, iniciados pela expressão “Olá, Mercedes” e que permitem controlar inúmeras funções. A inteligência artificial confere ao sistema a capacidade de auto-aprendizagem – o MBUX coleta as preferências e necessidades do usuário para aprimorar suas sugestões. Também impressionante é a navegação com realidade aumentada, com indicações em tempo real por meio de imagens de vídeo projetadas sobre a cartografia tridimensional e funções baseadas na comunicação entre veículos. O aplicativo Mercedes Me ainda assegura diversos serviços conectados surpreendentes – caso do inédito compartilhamento do veículo. Disponível em julho na Europa, basta ao proprietário do Classe A criar e compartilhar uma chave digital com um grupo de usuários, e estes passam a poder localizar o veículo pelo smartphone e a utilizá-lo nos períodos pré-definidos.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE
Foi numa bela cidade histórica às margens do Mar Adriático que a Mercedes proporcionou à imprensa mundial o primeiro contato dinâmico com o novo Classe A. Os percursos não eram especialmente longos ou exigentes, mas bastaram para perceber que o rodar do compacto está bem mais refinado, mais próximo de modelos de segmentos superiores, como o Classe C. O comportamento convence. O Classe A é ágil nas curvas, estável nas retas e tem muita capacidade de retomadas de velocidade. Apesar do eixo de torção traseiro, o conforto é de bom nível, assim como o isolamento acústico. Mesmo na versão movida pela nova motorização 1.3 a gasolina que, em giros altos, não é das mais silenciosas.
Este é, também, o primeiro Classe A com condução semi-autônoma, herdada do Classe S. Entre muitos outros dispositivos, destaque para o cruise-control adaptativo com função stop&go nos engarrafamentos, assistência ativa à direção (mantém o veículo centrado na faixa de rodagem e muda de faixa autonomamente, bastando acionar a alavanca da seta) e ajuste automático da velocidade permitida na rodovia, assim como na aproximação de curvas, cruzamentos e afins. Outro destaque é o sistema de monitoração do ponto cego, que fica ativo mesmo com o veículo está parado, durante três minutos após a parada. O dispositivo até alerta o motorista quando esse pretende abrir a porta e sair do veículo com um objeto em movimento nas imediações – algo que nem o Classe S oferece.