Polícia Federal faz buscas no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador
Operação Placebo cumpre mandados de busca e apreensão no Rio e em São Paulo para colher provas da investigação de desvios de recursos da Saúde durante a pandemia na gestão de Wilson Witzel
- Data: 26/05/2020 09:05
- Alterado: 26/05/2020 09:05
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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A Polícia Federal cumpre, na manhã desta terça, 26, no Palácio Laranjeiras, mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao governo estadual do Rio de Janeiro. Agentes estão no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador Wilson Witzel, na zona sul da capital fluminense, casa em que o mandatário morava antes de assumir o governo Rio, no Grajaú, zona norte, e ainda no Palácio da Guanabara, sede oficial do governo fluminense.
A ação faz parte da Operação Placebo, desencadeada para apurar indícios de desvios de recursos públicos destinados ao atendimento do estado de emergência de saúde pública do coronavírus no Rio. Segundo a PF, há indícios de um esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do Estado do Rio de Janeiro.
Agentes cumprem 12 mandados de busca e apreensão em endereços de São Paulo e no Rio de Janeiro. No Rio, além de Laranjeiras, os agentes também estão em endereços nos bairros do Leblon e Grajaú. Um dos alvos é o escritório de advocacia da primeira-dama Helena Witzel. Já em São Paulo, os agentes vasculham a sede da Organização Social IABAS, que celebrou contrato de R$ 850 milhões com o governo do Rio para implantação de hospitais de campanha no Estado.
As ordens foram expedidas pelo Superior Tribunal de Justiça – em razão das menções a Witzel, que tem foro privilegiado. Em nota, a Polícia federal informou que foram compartilhadas com a Procuradoria-Geral da República, dentro da investigação em curso no STJ, provas obtidas durante as investigações iniciadas no Rio de Janeiro pela Polícia Civil, pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal.
No último dia 14, a Polícia Federal desencadeou uma nova etapa da Lava Jato, batizada como Favorito, e prendeu o ex-deputado estadual Paulo Melo, que já presidiu a Assembleia Legislativa, e o empresário Mário Peixoto, apontado como figura ‘do capo’ de organização criminosa investigada por supostos desvios na saúde do Rio. Na representação apresentada à Justiça para abertura da ofensiva, o Ministério Público Federal apontou indícios de participação ou influência do empresário sobre a Organização Social IABAS, contratada pelo Estado do Rio de Janeiro implantação de hospitais de campanha para tratamento de pacientes contaminados pelo novo coronavírus.
Os investigadores da Favorito interceptaram mensagens do empresário Alessandro Duarte, apontado como principal operador de Peixoto, e de Juan Neves, apontado como contador do grupo criminoso, referentes ao dia seguinte à contratação do hospital. Os e-mails contém planilhas com números detalhados dos custos dos hospitais de campanha implantados pelo IABAS, arquivos detalhando o cronograma físico de implantação dos hospitais de campanha e documentos com custos detalhados de aquisição de equipamentos médicos e de serviços de infraestrutura.
Simultaneamente à ‘Favorito’ da Lava Jato, o Ministério Público do Estado também realizou no dia 14 operação para investigar contratos na área de Saúde. As ofensivas tiveram um alvo em comum: o empresário Luiz Roberto Martins, preso na ocasião. Controlador de Organizações Sociais (OSs) que atuam em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) no Rio por meio de contratos com o governo, Martins é acusado de comandar uma organização criminosa que produzia contratos superfaturados para o fornecimento de refeições às unidades. Segundo a Promotoria, o grupo acusado de peculato e organização criminosa teria desviado R$ 3,9 milhões dos cofres públicos.
Grampos da Lava Jato mostraram ainda Martins e Peixoto promoveram ‘negociação espúria’ com funcionários públicos estaduais, inclusive pagando propina a um servidor ainda não identificado, para que fosse revogada a desqualificação da organização social Unir Saúde, envolvida no esquema de desvios, de maneira que a mesma pudesse contratar com o poder público livremente. “O zero 1 do palácio assinou aquela revogação da desclassificação da Unir”, afirmou Martins em diálogo interceptado pela Lava Jato.
Além dessa operação, uma outra – do MP estadual – já havia prendido dois ex-subsecretários executivos da Saúde do governo Witzel por fraudes na compra de respiradores, que teriam sido superfaturados. Esse escândalo levou o governador a exonerar o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos – que, porém, foi nomeado logo depois para comandar outra pasta, voltada para o acompanhamento de ações de combate à covid.
No final de abril, em entrevista exclusiva ao Estadão, Witzel disse que não se sentia seguro com o que o presidente Jair Bolsonaro poderia fazer ao interferir na PF, dando a entender que o órgão seria usado como arma política. “Ele, por exemplo, me tem como desafeto. Eu não me sinto seguro ao saber que o presidente pode fazer interferência na PF”, afirmou.