Pequenos Problemas em Prosa – Parte II

É como se pudéssemos clicar uma ideia e guardá-la em poucas palavras. O registro instantâneo de um momento. Uma fotografia revelada em texto. De Nelson Albuquerque Jr.

  • Data: 23/05/2020 11:05
  • Alterado: 23/05/2020 11:05
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Nelson Albuquerque Jr.
Pequenos Problemas em Prosa – Parte II

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QUER SABER?

Você pode ser da esquerda ou da direita. Pode dar ou receber. Ser louco ou ser careta. Tudo você pode ser. Até blue moon, Jimmy Hendrix, rock, funk, samba, pop. Do Bope ou da ONG dos animaizinhos.

Tudo você pode ser. Leitor ou escritor. Cristão ou não. Bola de cristal ou porre de Carnaval. Bola de sabão ou o próprio sabão. Pode gostar de pastel ou de cinema. De sossego ou de problema. De Ibirapuera ou motel. Dr. Sócrates ou Papai Noel.

Quer saber? Você pode ser Dom Quixote. Dom Casmurro, o Corvo ou Sidarta. Grilo, tigre, urso, águia, barata. Original, segunda via ou barbante. Titular ou amante. Vinho ou refrigerante. Sem cebola ou com pimenta. Hard ou lenta. Oito ou oitenta.

Tudo você pode ser. Homo, hetero, bi. Ou todas as anteriores. Morrer de amores ou viver de brisa. Ser pseudo-gringo ou latino-americano. Ou até Mudar tudo a cada ano.

Só não seja, irmão, aquele idiota que julga, ataca, atira. Porque na sua mira tem também alguém que pode ser o que bem entender.

SER UMA ÁRVORE NA AMAZÔNIA

Uma porção de verde cercada de verde por todos os lados. Paisagem agrião. Textura brocólica. Imensidão verde. E ao ver de perto, acho uma árvore. Verde.

Tímida, balançante, de galhos moles e folhas claras. Num fremido desajeitado. Olhei pra ela, pensei: O que é ser uma árvore na Amazônia?

Talvez insignificância. Um quase nada, nada mesmo. Um imperceptível pingo diluído no oceano. Ou talvez partícula essencial. Um tudo no todo. Completude em si.

Eu vi uma Amazônia. Passiva, quieta, estática. E paradoxalmente vívida, pulsante. Abrigo de seres que se movem sobre a terra e sob o verde. Ocultos seres. Casa de todos. Até de uma árvore mole e insignificante. Que é ela própria a casa e o hóspede. Ao mesmo tempo.

Aliás, o tempo. Nesse lugar o tempo não existe. E percebo, sem querer, que não é o tempo que nos envelhece. Mas o mal ao qual nos abraçamos.

Ser uma árvore na Amazônia talvez seja ser o infinito, o eterno. A razão de existir deste mundo inteiro.

TEM MULHERES (A REGÊNCIA FEMININA)

Tem mulher que dá choque. Que precisa de um segundo pra explodir um mundo. Tem mulher que não. Tem mulher que é cobertor em dia frio de chuva. E tem mulher que é a chuva. Tem mulher que é vento, sopro, brisa. É ao ar livre. Um suco de uva. Sim. Tem mulher que é suco e tem mulher que é soco. No estômago. No nariz. No olho. Tem mulher e mulheres. Tem mulheres e molières. Tem moles e firmes. Tem de músicas e de filmes. Mas sempre protagonistas. Fortes com doçura. Ternura com coragem. A imagem do mundo atual. O papel principal.

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  • Data: 23/05/2020 11:05
  • Alterado:23/05/2020 11:05
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  • Fonte: Nelson Albuquerque Jr.









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