Operação Aedes: a guerra continua
Causam pânico as terríveis notícias sobre ataques de um inimigo de asas e pele rajada. Crônica de Nelson Albuquerque Jr. observa essa batalha.
- Data: 14/02/2020 12:02
- Alterado: 14/02/2020 12:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Nelson Albuquerque Jr.
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– Entrou um mosquito! Entrou um mosquito! – anuncia a capitã.
Foi fechar a janela do quarto e percebeu o inimigo biológico invadindo o território. Reinicia-se a operação de guerra, aqui denominada Operação Aedes.
Ela e o filho – digo, o soldado – colocam-se prontamente em alerta. Naquela casa já estavam disseminadas as informações sobre as terríveis moléstias da famigerada Dengue e dos temíveis Chikungunya e Zika. Suas violentas investidas pelos arredores, causando dores e morte, haviam implantado ali medo e terror. E, agora, um inimigo penetrava o território.
O velho general permanece em seu posto, no sofá, atento a um jogo de futebol na TV. Homem de outras guerras, ele não teme zumbidos e picadas. Acha que tudo é só pernilongo.
Já capitã e soldado os consideram ameaças à paz e à ordem. Começam as coordenadas:
– Repelente! Repelente!
– Acende as luzes!
– Pra quê?
– Pra ver melhor!
– Fecha as portas! Aquelas também!
– Fecha a janela do banheiro!
– Pega o jornal! O jornal!
– Me joga essa toalhinha!
– Quem vê, avisa! Quem vê, avisa!
O general tenta, em vão, prestar atenção à narração e comentários. Mexe a cabeça de lado a lado, desviando dos corpos que se alvoroçam em sua frente.
Os movimentos de batalha são bem curiosos: as pernas sambam para evitar o pouso do inimigo; cabeças e olhos giram como laser do teto ao rodapé; mãos espalmadas seguem acompanhando o nada; de repente, um tapinha assustado no próprio tornozelo.
Fica emocionante quando o alvo é localizado pelos radares. E partem os ataques: rajada de tapas no ar (à distância parece coreografia de axé: palminha lá em cima, palminha lá embaixo). Jornaladas na parede. Toalha disparada sem mira. E mais tapas no ar. Depois, confere as mãos e nada de sangue inimigo.
O velho general é criticado por sua inércia. Ele solta uma risada de bonachão. Mas, em seguida, é agredido verbalmente, com muita fúria. Levanta-se contrariado, arma-se com um rolinho de jornal e parte à captura do invasor.
O campo de batalha vai se silenciando. E nada. O inimigo some. Nos relatórios de guerra constam que foi impossível identificar se o inimigo era um perigoso aedes aegypti ou um raso pernilongo. O general chia:
– Perdi meu jogo por nada.
Novamente é achincalhado pela capitã e pelo soldado. Recompõe-se e discursa:
– Retornem às trincheiras. E lutem sempre! Agora, dá licença.