O poder da vela
Maior medalhista olímpico brasileiro, Robert Scheidt quer que sua sexta medalha seja a terceira de ouro
- Data: 30/11/2015 08:11
- Alterado: 30/11/2015 08:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Jogos Cariocas
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Quando se fala das esperanças brasileiras para as Olimpíadas do Rio, Robert Scheidt é nome certo. O velejador paulistano participou das últimas cinco Olimpíadas e trouxe uma medalha de cada – é o maior medalhista olímpico brasileiro, empatado com o também velejador Torben Grael, atual técnico-chefe da seleção brasileira de vela. Na Laser, foi ouro em Atlanta 1996, prata em Sidney 2000, e ouro em Atenas 2004. Na Star, levou a prata em Pequim 2008 e bronze em Londres 2012. Como a classe Star não estará nos Jogos de 2016, retornou à Laser e foi novamente campeão mundial em 2013 – já havia conquistado dez mundiais pela Laser, entre 1991 e 2005, e três pela Star, entre 2007 e 2012. “A Star é muito técnica, agrega conhecimento sobre vela, sobre mastro e o entrosamento com o proeiro é essencial. A Laser é mais física, exige preparo. É mais simples e depende mais da intuição do velejador. Como costumo dizer, um velejador de Laser está preparado para qualquer outra classe”, compara.
Aos 42 anos, Sheidt acredita que as Olimpíadas de 2016 sejam as suas últimas como velejador. E não esconde seus planos para encerrar a trajetória olímpica. “Receber uma medalha olímpica, principalmente o ouro, é um momento único na vida de qualquer atleta, inesquecível”, relembra o bicampeão olímpico.
Jogos Cariocas – Como se aproximou da vela?
Robert Scheidt – Meu pai praticou muitos esportes e fez questão de ensiná-los aos filhos. Meu irmão foi campeão mundial da classe Pinguim e minha irmã também velejou. Comecei a velejar aos nove anos, no Optimist. Tínhamos um grupo de crianças com muitos amigos e eu ia velejar pela farra. Aos poucos, começamos a correr regatas. Aos 11 anos, venci o Sul-Americano de Optimist, no Chile. E no ano seguinte fui bi. Daí, tomei gosto pela coisa e comecei a levar a vela como profissão. É também o meu prazer. Velejar é uma ótima forma de se manter saudável, em contato com a natureza e com você mesmo.
Jogos Cariocas – Como é a sua rotina de treinos?
Robert Scheidt – Treino a maior parte do ano em Garda, na Itália, onde moro com minha família. Tenho feito um trabalho forte de musculação e fisioterapia, focado mais em prevenir lesões. Já não sou tão jovem para a classe Laser. Além do tempo que passo na água, velejando, faço exercícios aeróbicos e musculação, mais para aumentar a resistência e não para ganhar massa muscular, como na Star.
Jogos Cariocas – Como encarou a saída da classe Star das Olimpíadas?
Robert Scheidt – A Isaf (Federação Internacional de Vela) se contradiz ao dizer que quer uma diversidade de biótipos. A Star atende ao que eles querem. Fora a classe Finn, é o único barco em que alguém com mais de 85 kg pode velejar. Outro fator é a tradição da Star no Brasil, com Torben e Lars Grael, Gastão Brun e tantos outros excelentes velejadores. Não ter a Star no Rio é algo muito triste.
Jogos Cariocas – Como estão suas chances para as Olimpíadas de 2016?
Robert Scheidt – Meu foco é me preparar para atingir o auge da minha forma física e do nível técnico durante os Jogos, para ter chances de brigar por medalha. Nas Olimpíadas, é uma semana para definir um trabalho de quatro anos. Como já passei por isso algumas vezes, estou acostumado a lidar, mas a ansiedade sempre existe.
Jogos Cariocas – O fato de estar “em casa” pode representar uma vantagem para os atletas brasileiros? Ou será que pode atrapalhar?
Robert Scheidt – Essa vantagem dos brasileiros tende a diminuir conforme vão se aproximando os Jogos. Muitos estrangeiros têm passado longas temporadas no Rio, estudando as condições climáticas, do mar. E as raias olímpicas têm condições bem variadas, com locais dentro e fora da Baía de Guanabara, o que vai exigir uma grande versatilidade dos velejadores. Sem dúvida, o apoio da torcida brasileira dará uma emoção a mais para o evento.
Jogos Cariocas – Apesar de ser o maior medalhista olímpico brasileiro, junto com o Torben Grael, você aparece pouco na mídia. A baixa visibilidade da vela no Brasil ainda incomoda os velejadores de ponta?
Robert Scheidt – A vela é pouco divulgada porque o acesso do público é restrito. Isso acaba fazendo com que se perca um pouco o interesse. As regatas normalmente são disputadas longe da costa. A gente só entra em contato com os torcedores antes e depois das regatas. Nas Olimpíadas é diferente, a proximidade com o público é maior. E isso conta muito.