Nunes diz ainda manter respeito por Marta e minimiza impacto para Boulos
Segundo o prefeito, Marta lhe confirmou ter aceitado ser vice na chapa de Boulos.
- Data: 10/01/2024 22:01
- Alterado: 10/01/2024 22:01
- Autor: Carolina Linhares
- Fonte: FOLHAPRESS
Ricardo Nunes e Marta Suplicy
Crédito:Reprodução
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) minimizou nesta quarta-feira (10) os impactos eleitorais da saída de Marta Suplicy de seu governo para reforçar a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), adversário dele na eleição para a Prefeitura de São Paulo.
Nunes disse ainda manter respeito pela ex-prefeita e evitou falar em traição, mas deixou claro seu descontentamento com a postura da agora ex-secretária municipal de Relações Internacionais.
Segundo o prefeito, Marta lhe confirmou ter aceitado ser vice na chapa de Boulos. A articulação para a formação da chapa Boulos-Marta foi revelada pela Folha de S.Paulo em novembro.
Em um movimento para voltar ao PT, Marta deixou a gestão de Nunes nesta terça-feira (9), após uma conversa entre eles na prefeitura. No dia anterior, ela esteve com o presidente Lula (PT), em Brasília, e indicou a ele que aceitava voltar ao partido e integrar a chapa do psolista, o que ensejou sua demissão.
“A página está virada. Quando eu tive a confirmação do que estava acontecendo, me coube chamá-la para conversar e entender. Nossa relação é boa. […] Ela fez um bom trabalho. […] Não vai abalar a questão do meu respeito por ela, mas não tinha como continuar numa situação dessa”, disse Nunes.
Questionado se havia sofrido uma traição, o prefeito respondeu que não atribuiria isso a Marta. “Essa palavra é muito forte. […] Foi desencontrado, evidentemente. Não preciso falar, vocês acompanharam, os fatos estão aí.”
Nos bastidores, a atitude de Marta é tratada abertamente como uma traição na prefeitura uma facada nas costas. Aliados do prefeito ressaltam que ela traiu anteriormente o PT e o MDB.
Para eles, Nunes fez bem em não demiti-la logo que surgiram as notícias sobre a união com Boulos, porque demonstrou ter confiança nela, enquanto Marta é que ficou no papel de desleal e falsa. Segundo interlocutores de Nunes, o prefeito chegou a questioná-la, em dezembro, por mensagem de WhatsApp, sobre esse assunto, mas Marta não respondeu.
Nunes não escondeu sua decepção, ressaltou ter agido com transparência e até alfinetou a ex-aliada em entrevista à imprensa na manhã desta quarta (10), durante o evento de posse dos conselheiros tutelares da capital que acabou cancelado por falta de energia.
Ao comentar, por exemplo, a motivação apresentada por Marta para mudar de lado, que é a aliança entre Nunes e Jair Bolsonaro (PL) na eleição, Nunes afirmou que essa justificativa “não cola”, já que o apoio do ex-presidente era algo sabido por Marta e por todos há meses.
“A gente nunca vai agradar a todos e a gente tem que ter transparência nos processos. Transparência é fundamental. […] Eu sempre falei. Não foi o presidente Lula que contou para ela que eu quero o apoio do Bolsonaro. O fato está posto. Isso não cola. O [ex-]presidente Bolsonaro foi almoçar comigo na prefeitura”, disse.
Nunes afirmou que Marta estava a par da estratégia eleitoral dele, ou seja, do plano de obter o voto bolsonarista para fazer frente a Boulos, que aparece na dianteira das pesquisas.
“Ela era minha conselheira, discutia as estratégias políticas. […] Conversou com Lula e mudou? Por que antes não? Me desculpe, isso não cola.”
O prefeito também lembrou as críticas de Marta a Boulos, enquanto relatou que ela fez, na conversa entre eles, diversos elogios à gestão dele, indicando que a própria ex-prefeita poderia não estar convencida da sua escolha eleitoral.
“O que eu posso dizer de uma forma ampla, isso eu fico feliz, é que ela disse que conhece muito pouco ele. O que a gente tem é o histórico do que ela já disse sobre ele no passado, tanto ela quanto o marido [Márcio Toledo]. […] E ela citou vários avanços da nossa administração”, disse.
Questionado sobre o impacto eleitoral da união entre Marta e Boulos, Nunes minimizou o eventual fortalecimento do rival e disse que vai apresentar seus feitos na campanha. Também alfinetou o deputado do PSOL e a própria ex-secretária.
“[Marta como vice de Boulos] Não representa risco nesse momento, vamos saber isso mais pra frente, quando houver pesquisas. […] Tenho bastante coisa para mostrar. Eu vou colocar as coisas que estou fazendo”, disse.
“Acho que tem uma questão fundamental que é a segurança jurídica. Nunca invadi nada de ninguém, sempre respeitei as leis. Sou uma pessoa educada e cordial. Esse episódio mostra isso, não fiz nada nas costas de ninguém”, completou.
Estrategistas e aliados de Nunes têm dito que a chegada de Marta não agrega nada para Boulos e que seu recall na periferia é menor do que se imagina. Na opinião deles, seria mais prejudicial que o pré-candidato do PSOL tivesse um vice mais conservador, que acenasse para a direita, o que não é o caso de Marta.
O chiste que corre na prefeitura é que o PT não tinha um candidato a prefeito, pois optou por apoiar Boulos, e agora tampouco tem um candidato a vice, já que Marta não seria bem aceita de volta pela militância depois de ter criticado o partido e votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Do lado de Nunes, a escolha do vice passará por Bolsonaro, pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, mas não há definições.
Depois da reunião desta terça, Marta e Nunes divulgaram que a demissão foi em comum acordo. A exoneração registrada no Diário Oficial nesta quarta, porém, não registra que a saída foi “a pedido”.
Nesta quarta, Nunes reafirmou que a saída “foi uma decisão de comum acordo”. “Ela segue o caminho dela normal. Eu sigo o meu. O que aconteceu, aconteceu. É da avaliação, da interpretação de cada um”, completou.
Ainda de acordo com Nunes, a conversa desta terça foi civilizada e Marta falou sobre o carinho que tem por ele e pela administração, além de relembrar a ajuda dele na eleição de 2016, que ela perdeu. Ele disse ainda que, ao chamá-la para conversar e não apenas demiti-la, agiu de forma correta.
“A Marta era uma conselheira minha, ela não precisava marcar hora. Três anos não é pouco tempo.”