Ministério Público Federal investiga racismo na campanha de Taka Yamauchi
Procedimento acolhe denúncia contra jingle do candidato que traz a frase “o chicote vai estalar nas suas costas”; Taka já havia usado frase racista em debate do G1 e seus apoiadores costumam usar termos racistas em ataques nas redes sociais
- Data: 22/10/2024 13:10
- Alterado: 22/10/2024 13:10
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
Taka Yamauchi (MDB)
Crédito:Divulgação
O Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação (00042145/2024) para apurar a prática de racismo em jingle do candidato a prefeito de Diadema Taka Yamauchi (MDB). Uma das músicas de sua campanha traz a frase “o chicote vai estalar nas suas costas”. A denúncia foi feita pelo Fórum de Promoção da Igualdade Racial Benedita da Silva e por integrantes do Conselho Municipal de Igualdade Racial de Diadema.
A denúncia expressa a “grande indignação” dos integrantes do Fórum e do Conselho com o jingle que “vem estimulando a violência e propagando atitudes racistas com a frase ‘o chicote vai estalar nas suas costas’”. A denúncia complementa que em pleno século XXI, não é possível admitir frases como essa sejam amplamente divulgadas na cidade de Diadema, que tem uma população majoritariamente parda e negra.
O documento, que foi protocolado dia 16 de outubro, destaca que Diadema é a quarta cidade em maior número de população negra no Estado de São Paulo, onde 50% da população se declara parda ou negra. “É notório que a frase remete à escravidão, onde homens, mulheres e crianças sequestrados do continente africano eram tratados pelos senhores de engenho à base de chicotada. Os chicotes/chibatas sempre representaram e representam tortura, são as marcas que até hoje o povo negro carrega em suas costas, marcas da desumanização e objetificação que são a própria essência do racismo.”
REINCIDENTES
Não é a primeira vez que Taka está associado a questões racistas. Durante o primeiro debate promovido pelo G1, ainda no primeiro turno, Taka questionou o prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior, sobre o que o candidato iria fazer para melhorar os indicadores da “cifra negra”, em referência aos crimes que não chegam a ser registrados pela polícia, utilizando uma expressão racista. Na ocasião, Filippi alertou que “não se deve usar esse termo. Isso é uma agressão aos afrodescendentes.”
Nas redes sociais, apoiadores de Taka também usam termos racistas para atacar apoiadores de outros candidatos. No Facebook, o internauta Diego Lopes pegou a foto de um homem negro, com a moldura de apoio a Filippi, foi postada com os seguintes comentários: “A cara do mano que fala ‘circo do taka (sic)’ e ‘o famoso macaco do circo'”. A vereadora eleita e vice-prefeita de Diadema, Patty Ferreira, gravou um vídeo em que também recriminou o jingle.
“O uso de termos como ‘chicote vai estalar nas suas costas’ em um jingle é inaceitável. Nós, enquanto povo preto, sabemos o peso e a dor dessas palavras. Diadema é uma cidade de luta, com uma vice-prefeita preta e 50% da população composta por pretos, pardos e afrodescendentes. Nossas escolas ensinam as crianças a combater o racismo”, escreveu na sua postagem. “Racismo é crime! Diadema merece respeito e dignidade. Vamos lutar por uma cidade melhor para todos, não vamos aceitar isso em nossa cidade!”, completou.
O também vereador reeleito Josa Queiroz, presidente do PT de Diadema, usou a tribuna da Câmara dos Vereadores para também repudiar o jingle racista. “Racismo é crime. É inadmissível que se tenha uma música de campanha na nossa cidade, onde mais de 50% da população é negra, que faz alusão à chicotada, à chibatada. Faz alusão ao pior período que nós vivemos na história mundial, que foi o período da escravidão. É um desrespeito a todo e qualquer homem e toda mulher que teve seus antepassados vítimas da maior atrocidade que foi cometida com nossos irmãos e irmãs que vieram da África”, afirmou. “Até quando vocês vão achar que esse tipo de prática é normal?”, questionou.