Mestrado da USCS estuda como o grafite pode ser utilizado no resgate de memórias silenciadas

A orientação da pesquisa ficou a cargo do Prof. Dr. João Batista Freitas Cardoso, da USCS.

  • Data: 12/04/2024 11:04
  • Alterado: 12/04/2024 11:04
  • Autor: Redação
  • Fonte: USCS
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Campus Conceição

Crédito:Divulgação/USCS

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A servidora pública Kelsma Maria Silva Gomes, da Universidade Federal do Cariri (UFCA) partiu de uma questão cultural para desenvolver sua pesquisa no Mestrado Profissional em Inovação na Comunicação de Interesse Público (PPGCOM) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul). A pergunta que norteou seu trabalho foi: Tendo por base a estrutura arquitetônica e urbanística da UFCA campus Juazeiro do Norte, como se pode comunicar, por meio da arte do grafite, a memória amordaçada do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto? Caldeirão da Santa Cruz do Deserto foi um movimento messiânico liderado por José Lourenço Gomes da Silva, mais conhecido como beato José Lourenço. O Caldeirão era uma comunidade sociorreligiosa estabelecida nos moldes de um socialismo primitivo, em terras de posse de Padre Cícero, na zona rural de Crato (CE), que reuniu milhares de pessoas no início do século XIX, e que foi posteriormente massacrada e extinta. A orientação da pesquisa ficou a cargo do Prof. Dr. João Batista Freitas Cardoso, da USCS.

Kelsma conta que seu estudo tem como ponto de partida a escassez de elementos visuais representativos da memória histórica da região do Cariri cearense nos espaços da Universidade Federal do Cariri (UFCA), campus Juazeiro do Norte, onde trabalha. “Vale salientar que a escolha desta temática se desenhou pelo acompanhamento, enquanto servidora, dos embates ocorridos na Universidade; também pelos requisitos de um mestrado profissional que demanda uma aplicação prática para solucionar problemas de comunicação que venham a surgir em realidades com caraterísticas semelhantes; e ainda pela proximidade do programa com a cidade de São Paulo, que é um dos maiores centros de arte urbana do mundo, o que potencializa o acesso a grafites, pichos e seus autores”, explica a pesquisadora.

Ela relata que o interesse em estudar a memória amordaçada do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, recorte deste estudo, e grafitar seus indícios nas dependências da UFCA, de forma que comunicasse a memória coletiva da região, justifica-se pela ausência de elementos visuais nos espaços de convivência do campus que explicitassem a memória coletiva do lugar onde a Universidade está inserida. “Esses grafites-memórias, ao serem percebidos no caminhar cotidiano dos frequentadores ou na eventual circulação dos visitantes, cumprem também a função da memória coletiva enquanto construção social”, pondera a ex-aluna do PPGCOM-USCS.

O delineamento da pesquisa de Kelsma é misto, composto de documentos e entrevistas. Os relatos orais dos remanescentes do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto foram a fonte para a criação do grafite. Os registros fotográficos e os materiais audiovisuais foram recursos importantes para encontrar a forma das imagens narradas. A dinâmica de criação e execução compreendeu o Laboratório de Imagem e Estéticas Comunicacionais; visita à Lira Nordestina – gráfica inaugurada em 1932 que ilustrava as capas dos cordéis e que continua em atividade até os dias de hoje; o xilógrafo e cordelista Abraão Batista, três grafiteiros da região, autora e o orientador deste estudo. “As entrevistas foram iniciadas pela remanescente do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto Maria Ferreira (90 anos), em seguida Maria José Sales e por último Maria José Souza. Chegamos ao nome da primeira entrevistada após conversa com Maria José Sales que, junto ao irmão Pedro Sales, mantém uma ONG em Juazeiro do Norte. Eles organizam uma missa em memória do beato José Lourenço e certificam pesquisadores do Caldeirão na ocasião. Por realizarem o evento anualmente e manterem a página ativa no Facebook puderam ser encontrados com relativa facilidade”, conta a pesquisadora.

O produto da pesquisa de Kelsma foi a criação de grafites que comunicassem a memória coletiva silenciada do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Para tanto, foi reservada a lateral do prédio “G” da Universidade Federal do Cariri – campus Juazeiro do Norte, nas dimensões 4,85 x 7,35, e com acesso ao subsolo, conforme estabelece a Portaria Conjunta nº 01/2017, que regulamenta as intervenções dentro do campus. “As imagens foram produzidas pelos estudantes e professores do grupo de pesquisa após a sistematização dos relatos obtidos com a entrevista aos remanescentes e familiares. As amostras do produto foram acompanhadas e o resultado previamente avaliado pelo meu orientador para conferência quanto ao alcance dos objetivos e resposta da pergunta problema”, explica Kelsma.

Entre os resultados apontados pela pesquisadora, Kelsma relata que o caminho para responder à questão deu-se através do entendimento de que o tempo decorrido de vida e massacre do Caldeirão não aniquilou as memórias dos remanescentes e familiares daquele território. “Ao contrário, suas memórias estão presentes e encadeadas como as peças dos rosários que sustentam e representam a fé, o trabalho e a oração, ensinamentos aprendidos no Caldeirão. Ao não contemplar tais memórias, a universidade contribui para o silenciamento, no sentido de que o fazer cotidiano não deve ser tecido apenas pela comunidade acadêmica, mas, ao mesmo tempo, deve manifestar os interesses e anseios da comunidade em que está inserida. Nesse sentido, a universidade necessita promover esta inclusão. Por isso, assim como grafites provocam na urbe uma nova forma de significar os espaços, o grafite-memória do Caldeirão abre o horizonte para que os silenciamentos, nesta e em outras regiões, sejam apagados pelas vozes da comunicação”, conclui a pesquisadora.

Segundo o orientador da pesquisa de Kelsma, Prof. Dr. João Batista Freitas Cardoso, da USCS, “a principal importância do trabalho está na experimentação de novos procedimentos metodológicos para o desenvolvimento de produto em pesquisa aplicada. Esses procedimentos compreendem diferentes etapas com a participação de atores diversos, desde a concepção das figuras temas do painel até a sua pintura no campus da UFCA. Tais métodos podem ser replicados em outras realidades que apresentem problemas práticos equivalentes aos que nortearam essa pesquisa. Outro ponto que considero relevante é a busca por novas técnicas expressivas no uso das linguagens, narrativas e meios de comunicação, que tenham como objetivo o enfrentamento de problemas sociais e culturais. O resultado final gerou grande impacto nas comunidades locais”.

A íntegra da dissertação de Kelsma Maria Silva Gomes está disponível no link: https://www.uscs.edu.br/pos-stricto-sensu/arquivo/238.

O programa de Mestrado Profissional em Inovação na Comunicação de Interesse Público da USCS busca a capacitação de profissionais, nas diversas áreas do conhecimento, mediante o estudo de técnicas, processos, ou temáticas que atendam a alguma demanda do mercado de trabalho.

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  • Data: 12/04/2024 11:04
  • Alterado: 12/04/2024 11:04
  • Autor: Redação
  • Fonte: USCS









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