Mais da metade dos casos de demência da América Latina podem ser evitados, mostra estudo da USP

Atualmente, são reconhecidos 14 fatores de risco para demências considerados de maior importância

  • Data: 24/10/2024 09:10
  • Alterado: 24/10/2024 09:10
  • Autor: Redação
  • Fonte: ACÁCIO MORAES - Folhapress
Mais da metade dos casos de demência da América Latina podem ser evitados, mostra estudo da USP

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Crédito:Divulgação/Governo de SP

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Um estudo realizado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) analisou dados do Brasil, da Argentina, da Bolívia, do Chile, de Honduras, do México e do Peru e mostrou que 54% dos casos de demências, como o Alzheimer, na região são causados por fatores de risco ditos modificáveis, isto é, que poderiam ser evitados ao longo da vida, como obesidade, sedentarismo e depressão. A média mundial, de 40%, revela que o subcontinente ainda tem um caminho a percorrer na prevenção dessas doenças.

Claudia Suemoto, professora da USP e principal autora do estudo, afirma que o trabalho fornece um panorama geral inédito capaz de estimar o potencial de prevenção em toda a região. “Infelizmente, a América Latina é o local com a maior prevalência de demência no mundo. Estima-se que 8,5% dos nossos idosos têm algum tipo de neurodegeneração.” Para Suemoto, é por meio da prevenção que poderemos diminuir esses números.

Atualmente, são reconhecidos 14 fatores de risco para demências considerados de maior importância. Dentre eles, os pesquisadores analisaram 12: baixa escolaridade, perda de audição, hipertensão, obesidade, tabagismo, depressão, isolamento social, inatividade física, diabetes, consumo excessivo de álcool, poluição do ar e lesão traumática no cérebro. A coleta de dados para a pesquisa aconteceu entre 2015 e 2021.

Atualmente são reconhecidos 14 fatores de risco para demências considerados de maior importância oneinchpunch Adobe Stock A imagem mostra um casal idoso, com foco nas mãos entrelaçadas. A mulher, com cabelo branco e óculos, está à esquerda, enquanto o homem, com cabelo grisalho e óculos, está à direita. Ele segura uma bengala com a mão direita, enquanto a mão esquerda da mulher repousa sobre a dele. O fundo é desfocado, destacando a conexão entre eles.

No total, a pesquisa incluiu dados de mais de meio milhão de sul-americanos. O trabalho foi publicado na prestigiada revista científica The Lancet Global Health. Suemoto diz que não existe um estudo sobre fatores de risco modificáveis tão amplo como esse para nenhuma outra região do planeta, já que os estudos atuais, em geral, concentram-se nos dados de um país específico.

Como um todo, a região apresenta certa similaridade na prevalência de alguns fatores, mas particularidades são reservadas a alguns países. Embora a média estimada de casos de demência atribuídos a fatores modificáveis seja de 54% para a América Latina, esse número foi maior para o Chile (61,8%) e Argentina (55,8%) e menor para Brasil (48,2%) e Peru (44,9%).

“Cada um dos sete países incluídos na pesquisa agora sabem o potencial de prevenção e quais os principais fatores de risco. Isso é muito importante para o planejamento de políticas públicas. Eles podem colocar como alvo principal os fatores de risco mais relevantes para sua população”, afirma Suemoto.

Quanto aos fatores, em termos proporcionais à população, a perda auditiva, a baixa escolaridade e o tabagismo foram os prevalentes. A falta de acesso à educação também foi um aspecto principal dos casos observados em Bolívia, Brasil e Honduras. Honduras também revelou um maior número de ocorrências atribuídas ao tabagismo, bem como o Peru.

Outros fatores que se destacam em alguns países são a obesidade, falta de atividade física, depressão e isolamento social, que figuram entre os mais prevalentes de México, Bolívia, Chile e Argentina. O estudo foi feito com base em dados coletados por sete diferentes estudos de abrangência nacional que mediram os 12 fatores de risco modificáveis, por meio de um estudo de meta-análise.

Suemoto acredita que essas informações podem ajudar os países da região a desenharem novas políticas públicas mais eficazes no combate à demência, assim como foi feito no Brasil. Em 2022, a professora e seu grupo de pesquisa publicaram um estudo feito a partir de dados de mais de 9.000 brasileiros de 12 locais diferentes do país que mostram uma prevalência de casos associados principalmente a baixa escolaridade, hipertensão e perda auditiva.

A pesquisa foi incluída no 1° Relatório Nacional de Demências publicado pelo Ministério da Saúde, e serve para orientar o poder público no planejamento de campanhas de informação e prevenção. Estima-se que só no Brasil existam cerca de 2 milhões de pessoas convivendo com algum tipo de demência. Destes, quase 5 em cada 10 casos são atribuíveis a fatores modificáveis.

O conhecimento dos fatores de risco modificáveis pode contribuir também para a busca de hábitos de vida mais saudáveis. Kátia Omura, professora da UFPA (Universidade Federal do Pará), destaca a importância da prática de atividades físicas e de uma alimentação equilibrada, que cada vez mais têm sido apontadas nos estudos recentes como fatores importantes

Em 2024, a perda de visão e níveis elevados de colesterol LDL foram adicionados à lista de fatores da Comissão da Lancet, após um analisarem os principais estudos publicados na área. De acordo com a lista atualizada, sobe para 45% o número de casos de demência no mundo que poderiam ser evitados.

Segundo a própria comissão, os países de renda baixa e média são aqueles com maior potencial de redução de riscos.

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  • Data: 24/10/2024 09:10
  • Alterado:24/10/2024 09:10
  • Autor: Redação
  • Fonte: ACÁCIO MORAES - Folhapress









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