Knotfest tem show histórico do Slipknot e ‘puxadinho’ para as bandas brasileiras
Festival de música pesada mostra por que grupo americano é um dos principais do metal, e palco menor vira alvo de críticas
- Data: 21/10/2024 16:10
- Alterado: 21/10/2024 16:10
- Autor: Redação
- Fonte: João Perassolo/Folhapress
A banda Slipknot
Crédito:Jonathan Weiner/Divulgação
Nem o vento frio nem a chuva insistente do inverno que tardou a chegar em São Paulo tiraram a excitação do público com o show do Slipknot neste sábado. A banda, uma das mais importantes e populares na cena do heavy metal, fechou o primeiro dia de seu próprio festival, o Knotfest, na capital paulista.
Antes e no intervalo das músicas durante o show, dezenas de milhares de vozes gritavam “Eloy”, uma homenagem ao baterista Eloy Casagrande, que assumiu as baquetas no Slipknot depois de sair do Sepultura no início deste ano. Era a primeira vez que o público brasileiro via o músico em ação em sua nova posição, consagrado como um mestre de seu instrumento.
Sua bateria veloz e seca dava o ritmo para o show teatral dos americanos – nesta turnê, que comemora os 25 anos do Slipknot, eles resgataram e atualizaram os macacões vermelhos com que apareceram na capa do primeiro disco. Também deram um trato nas máscaras originais, de modo que os olhos do vocalista Corey Taylor viraram pontos de luz vermelhos, look muito comentado pelos fãs e que ninguém ainda tinha visto.
Sob a indumentária de filme de terror da sessão da tarde, a banda mandou hit atrás de hit, e foi impossível não se emocionar com o Allianz Parque lotado cantando todas as letras – às vezes, o coro dos fãs era tão alto que não se ouvia o vocalista. As músicas do Slipknot têm melodias e refrões grudentos, não só peso, o que deixa o som da banda acessível a um público amplo, não apenas aos fãs tradicionais de metal.
Com flâmulas com o logo do grupo e uma bandeira gigante estampando o nome da banda ao fundo, a cenografia do palco era relativamente simples. Foi a iluminação em vermelho e branco que deu o clima, transportando o público para o imaginário criado pelo Slipknot no final dos anos 1990, quando o conjunto tomou de surpresa o mundo da música pesada com seu figurino de macacão de presidiário.
Mas o Knotfest, que rolou este ano pela segunda vez no país, é um festival de contrastes. Mais cedo no sábado, os suecos do Meshuggah foram o contraponto da atração principal. Todos vestidos de preto, e sem qualquer efeito visual, eles mal se mexiam no palco enquanto tocavam seu death metal intrincado e pesadíssimo. A inegável qualidade técnica, contudo, não animou a plateia.
Horas mais tarde, o Mudvayne, banda que surfou a onda do movimento “new metal” no início do século 21, tocou para um público ansioso pelo show. Um dos músicos tinha uma bandeira do Brasil pintada no rosto, e o vocalista estava maquiado como se tivesse levado um tiro na testa. Ele parecia feliz, interagindo com o público e pulando no palco junto à levada cheia de groove do som do grupo.
Pela primeira vez sediado no estádio do Palmeiras, o Knotfest teve acertos – o som estava alto e cristalino e os shows foram pontuais. Já havia sido assim na primeira edição do evento, em 2022, no Sambódromo do Anhembi, um sinal de que a produção se preocupa com o principal. A seleção de bandas desta edição, centrada em grupos estrangeiros que ganharam destaque a partir dos anos 2000, trouxe uma boa amostra do heavy metal de hoje.
Por outro lado, o palco menor não era mais do que um puxadinho do principal, e o evento foi criticado por isso. O espaço micro sobrou para as bandas brasileiras, uma atitude desrespeitosa com os artistas, que tocavam enquanto o palco maior era montado para receber os shows internacionais. Nada justifica que Ratos de Porão, uma das principais bandas punk da história, tenha se apresentado no espaço pequeno enquanto nomes que ninguém nunca ouviu falar, como Orbit Culture, estivessem no maior.
É verdade que com dois palcos os fãs só ficaram poucos minutos sem música ao vivo durante as 11 horas de apresentações, mas era melhor ter apenas o palco principal e dar um intervalo entre os shows do que relegar a um lugar secundário os grupos que fazem o metal brasileiro. Este tipo de atitude, de viés colonizador – e sobretudo num país que legou ao gênero o Sepultura – , já saiu de moda faz tempo.