Julho das Pretas e as lutas antirracistas
Sarau no dia 25 vai celebrar e reverenciar o combate ao racismo e refletir sobre a vida das mulheres negras
- Data: 05/07/2024 16:07
- Alterado: 05/07/2024 16:07
- Autor: Redação
- Fonte: PMD
Crédito:PMD
Inicio trazendo a lembrança da professora, antropóloga, pesquisadora mineira e militante antirracista Lélia Gonzalez, que foi pioneira em desenvolver estudos sobre a cultura negra e as desigualdades que são construída a partir da hierarquização em relação de gênero e raça. Sabemos por meio de seu estudo que as mulheres negras sofrem diversas opressões de gênero, raça, classe, territorial, além de vivenciar todas as formas de violências que recaem sobre seus corpos e os corpos dos seus filhos e familiares.
Ainda persiste no Brasil um projeto político patriarcal e racista, que coloca as mulheres e a população negra numa posição de inferioridade e de subordinação de exploração do capitalismo.
Quando avaliamos os indicadores sociais de formulação e avaliação das políticas públicas neste país, no campo do mercado de trabalho e segurança pública em relação a vida das mulheres negras, percebemos que por mais que tenhamos avançado, ainda encontramos grande parte das mulheres negras recebendo salários menores em relação aos homens e às mulheres brancas. Segundo apontou pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, no primeiro trimestre de 2023 a remuneração média das mulheres negras era de R$ 1.948, o que equivale a 80% do que os homens negros ganham, 62% do que as mulheres brancas recebem e 48% do que homens brancos ganham, na média.
Em relação a saúde e segurança pública, grande parte dos estupros cometidos no Brasil têm como alvo as meninas negras e a violência doméstica recai majoritariamente sobre as mulheres negras. Dados de um estudo feito pelo Núcleo de Estudos Raciais do INSPER, com base em informações do Sistema Nacional de Atendimento Médico do Ministério da Saúde, mostra que cerca de 40% das vítimas de estupro são crianças e adolescentes negras, o dobro da incidência registradas com meninas brancas, e que 50% dos agressores pertencem ao convívio familiar.
Para que haja mudança nesta estrutura da sociedade, faz-se necessário que o movimento social cobre a inclusão da categoria de gênero e raça nas políticas públicas e sensibilize os gestores públicos para que se comprometam no enfrentamento ao machismo, racismo, sexismo e todo tipo de violências e desigualdades, garantindo, assim, dignidade às vidas das mulheres, sobretudo das mulheres negras.
Outra referência importante de mulher negra na vida pública, que demonstra uma ação antirracista dentro da Secretaria de Educação, no Centro de Formação Carlos Kopack, foi incorporada na inauguração de uma sala de robótica onde crianças da comunidade poderão desenvolver projetos tecnológicos e que leva o nome da primeira engenheira negra do Brasil: Enedina Alves Marques.
Grande parte do público, dentre crianças, gestores, professores que estavam no evento, ficou surpreso em saber que na década de 40-50, uma mulher negra, que superou tanta barreira de preconceito e discriminação, foi a responsável pela construção da Usina Hidrelétrica dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu, no estado do Paraná. Ao apresentar o legado de vida de Enedina para nossas crianças, sobretudo para meninas negras, dá-se esperança de que é possível por meio da educação entrar em áreas tradicionalmente dominadas por homens, como a Engenharia e a Construção Civil.
Sabemos que nesta caminhada, mesmo dentro da universidade e na profissão, teremos que continuar na luta para sermos respeitadas enquanto mulher e negra neste país.
No dia 3 de julho celebramos o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, que remete à Lei Afonso Arinos, de 1951, a primeira lei contra o racismo, que tornou a discriminação racial uma contravenção penal. A lei surgiu depois de um caso de racismo que envolveu a bailarina afro-americana Katherine Dunham, impedida de se hospedar em um hotel em São Paulo devido à cor da sua pele. O episódio teve pouca notoriedade no Brasil, mas teve enorme repercussão negativa no exterior, trazendo à tona a pauta do racismo no país.
Já o dia 25 de julho será dedicado ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Criado em 1992, pela Organização das Nações Unidas (ONU), durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, a data tem como objetivo lembrar a luta e a resistência das mulheres contra o racismo, o machismo, a violência, a discriminação e o preconceito dos quais ainda são vítimas.
O 25 julho também celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela viveu no século 18 e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho, até ser assassinado por soldados. Também conhecido como Quilombo do Quariterê, o refúgio ficava na atual fronteira entre o estado de Mato Grosso e a Bolívia. Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a líder do quilombo, que era o maior do estado, e, sob sua liderança, resistiu à escravidão por duas décadas
Por tudo isso, no dia 25 de Julho teremos um Sarau Cultural construído por vários afrocoletivos, como os afroempreendores, as trancistas, entidades culturais, artistas negros e movimentos sociais. A programação conta com concentração às 17h30 na Praça da Moça, para depois seguir em cortejo até o Teatro Clara Nunes, onde ocorrerá o Sarau.
RECOMENDAÇÕES DE VÍDEO PARA ASSISTIR SOBRE MULHERES NEGRAS
• Olhos azuis, Jane Elliot- EUA-1968/ Documentário
• Sarafina- O som da liberdade- Darrell Roodt / ÁFRICA DO SUL/1992
• A cor púrpura- Drama- Steven Spielberg/- 1995;
• A negação do Brasil- O negro na Telenovela Brasileira- Joel Zito Araújo/BRA/2000;
• Carolina de Jesus- Jefferson De/BRA/Curta/2003
• Vista a minha Pele- Direção Joel Zito de Araújo/BRA/ 2004;
• Heróis de todo mundo- Projeto a Cor da cultura/BRA/2004
• Xadrez das cores- Curta metragens/BRA/2004
• Filhas do vento- Direção Joel Zito de Araújo/BRA/2005;
• Princesa e o Sapo- Desenho infantil-EUA/2009
• Preciosa- Lee Daniels/EUA/2009
• Eu, escrava- Gabriel Range- Reino Unido/ 2010
• Vênus Negra- Abdellatif Kechiche/ França/2011
• Histórias Cruzadas- Drama/EUA/2012
• O Dia de Jerusa-Curta metragens/ Direção Viviane Ferreira/BRA/2014
por Márcia Damaceno, coordenadora da Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Diadema (CREPPIR)