Itaú Cultural apresenta Cidade Gráfica

Mostra revela a poética visual nas ruas de diversas cidades do país e suas contaminações

  • Data: 13/11/2014 11:11
  • Alterado: 22/08/2023 21:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Conteúdo
Itaú Cultural apresenta Cidade Gráfica

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De 20 de novembro (19, em coquetel para convidados) a 4 de janeiro, o Itaú Cultural apresenta Cidade Gráfica, uma exposição que extrapola as fronteiras das mostras no gênero. Exibindo 40 trabalhos de 36 artistas e coletivos de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Pará, Bahia, e Paris e Mios, na França, ela reúne projetos gráficos, entre livros, cartazes, fontes, pesquisas acadêmicas e peças gráficas que navegam no limite entre o design gráfico e as artes visuais.

Com curadoria dos designers Elaine Ramos, Celso Longo e Daniel Trench, em Cidade Gráfica as demandas urbanas e a interpretação sobre as linguagens e as rotinas da cidade se sobrepõem ao chamamento por encomenda. Os curadores pinçaram estes trabalhos por meio de uma investigação realizada em campo pelo Brasil e, posteriormente, selecionando projetos inscritos em chamada aberta. Na mostra, aparecem todos juntos, sem distinção, seguindo apenas o percurso traçado pela linha curatorial.

 “Optamos aqui por alguns deslocamentos. As fronteiras do que é ou deixa de ser design foram postas em segundo plano, abrindo passagem para todo tipo de contaminações”, escrevem os curadores, em texto assinado em conjunto. “As soluções importam menos que as questões levantadas e que os processos por trás dos trabalhos. O foco está nas estratégias usadas, que, necessariamente, passam pela linguagem gráfica.”

A EXPOSIÇÃO
O Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, os pontos de ônibus da cidade, seus estádios como palco de mensagens visuais, o desaparecimento de edifícios tradicionais como o São Vito e o Mercúrio, e o grafite são alguns dos temas que permeiam a poética visual das ruas de São Paulo. Em Empenas, por exemplo, Andrés Sandoval apresenta desenhos de empenas cegas (faces sem janelas de edifícios) vistas ao longo de uma caminhada pelo Elevado. O olhar do repórter fotográfico Hélvio Romero resultou na série fotográfica Cidade Limpa, 2001 a 2007, um registro dos outdoors e grandes painéis publicitários no município e suas influências na paisagem e no cotidiano das pessoas, que hoje, depois da promulgação da lei Cidade Limpa, não existem mais.

Ainda na capital paulista, Movimento Tipográfico, assinada pelo Coletivo Oitentaedois, se apropria de elementos do break, estilo de dança que compõe a cultura hip-hop junto ao grafite e ao rap. Caio Yuzo, um dos integrantes do grupo, forma, em um vídeo, as 26 letras do alfabeto com o próprio corpo. Lambe-lambes com as letras formadas pela coreografia, foram produzidos e colados em pontos centrais da cidade chamando a atenção para um QR code que levava para a página do vídeo na internet.

Qual Ônibus Passa Aqui?, projeto de Marcelo Zocchio e Mariana Bernd, realizado nos anos 2000 e 2013, denuncia a falta de informações, substituídas por publicidade, nos pontos de ônibus em São Paulo.  A dupla colou sobre as chamadas publicitárias veiculadas nestes espaços públicos um cartaz com a pergunta que dá nome ao trabalho, e fez dessa ação um ensaio fotográfico. Persistiu com o questionamento por mais de 13 anos, sem ver o problema resolvido.

Este transporte público também é central na obra do cineasta Cao Guimarães, um dos artistas mineiros presentes nesta mostra. Em Coletivo, ele construiu uma dança tipográfica baseada em letreiros de ônibus, resultando em um vídeo que faz um jogo de nomes mesclando diferentes elementos da cidade, unidos pelo transporte coletivo.

Em Tipos Malditos, 1998-2014, o mineiro Marcelo Drummond começou a percorrer os estados de Minas Gerais, Bahia e Rondônia, em 1998, registrando placas e letreiros, e formando um banco de dados com 1.200 fotografias classificadas sob diversas ópticas: morfológica, linguística e geográfica. O conjunto das imagens impressiona pela inventividade das estratégias de comunicação, em geral motivadas pela necessidade primordial de sobrevivência.

Entre outras obras pinçadas em Minas Gerais, Praça Sete de Setembro, 2011, registra a ação da polícia na remoção forçada de ocupantes daquela praça de Belo Horizonte. A obra, assinada por Comum – artista urbano, que desenvolve pesquisas de linguagem com elementos como estêncil, lambe-lambe, pichação e rap e atua nas ruas da capital mineira desde 2006 –, traz essas cenas remontadas na sequência narrativa de um livro único, usando estênceis sobre papelões e papéis coletados na rua. O resultado é um objeto em que a cidade é tema, suporte e linguagem.

De Pernambuco, alguns dos trabalhos presentes na exposição registram preocupações semelhantes, em linguagens diferentes, de resgate da memória.  Abridores de Letras de Pernambuco, 2013, de Damião Santana, Fátima Finizola e Solange Coutinho, por exemplo, mapeia os “abridores de letras” remanescentes naquele Estado, com base em um amplo registro visual. O grupo percorreu cerca de 800 quilômetros do litoral ao interior do estado, passando por seis cidades e conhecendo o trabalho de 12 pintores letristas depois compilados em uma publicação. Na mostra estão expostos alguns originais que trazem a materialidade da tinta, do suporte e do gesto manual.

Em Dingbat Cobogó, o também pernambucano Guilherme Luigi parte da pesquisa iconográfica de Josivan Rodrigues sobre os cobogós de Pernambuco para construir vetorialmente 36 símbolos em versão positiva e negativa correspondentes aos caracteres digitais de uma família tipográfica. Disponíveis gratuitamente na internet para download, os dingbats podem ser utilizados para diversos fins: da simples ornamentação sobre variados suportes até projetos de arquitetura.

Rodrigues ainda está presente nesta mostra com uma obra pessoal, Cobogó de Pernambuco, de 2013. Vale informar que o cobogó é um elemento construtivo pré-fabricado, vazado e modular, criado naquele estado no início de século XX, para facilitar a ventilação natural e a proteção solar, que, justapostos, formam também uma estampa gráfica. O artista registrou as imagens e a história desta ferramenta, por meio de um ensaio fotográfico, exposto na mostra, e um livro publicado em 2013.

Três vieram do Rio de Janeiro. Editora Temporária, 2013, de Clara Meliande e Tania Grillo, apresenta publicações que tratam da cidade e têm o design como vetor. Remoções Forçadas, de 2013, obra de Radiográfico, da dupla Olivia Ferreira e Pedro Garavaglia, revela crítica e poeticamente a remoção forçada, muitas vezes truculenta, de 19 mil famílias de pontos estratégicos da cidade carioca devido às obras urbanas impulsionadas pela Copa do Mundo. Eu <3 Camelô, 2009, do coletivo Opavivará!, é uma série de oito cartões-postais distribuídos nas praias, com imagens que estampavam retratos de ambulantes junto ao slogan da campanha, , criada contra a limitação da atuação dos comerciantes nas praias, imposta pela prefeitura. Faixa de Areia, uma paisagem sonora das praias do Rio, ambienta a discussão promovida pelo grupo.

Utopia, 2001, é uma obra de Angela Detanico e Rafael Lain, de Caxias do Sul (RS), hoje residentes em Paris. Ela apresenta um conjunto de caracteres vinculados às letras do alfabeto na busca de refletir sobre o embate entre o controle e o caos nas cidades brasileiras.

DESIGN: MAIS UM FOCO DE ATENÇÃO DO ITAÚ CULTURAL
Cidade Gráfica complementa uma série de ações realizadas pelo Itaú Cultural ao longo deste ano, cuja proposta é introduzir o design gráfico como objeto de discussão, debate e difusão em sua programação anual.

Começou com a realização do AGI Open no Auditório Ibirapuera – casa que o Itaú Cultural gere desde 2011 em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura – realizado com os membros da AGI Brasil: Rico Lins, Kiko Farkas, Guto Lacaz, Elaine Ramos, Celso Longo, Daniel Trench, Flávia Nalon e Fabio Prata. Juntos, associação e instituto, promoveram, ainda, o workshop A Interpretação de Imagens: Interações e Sentidos, ministrado pelo designer ítalo-suíço Bruno Monguzzi.

Em agosto, o Itaú Cultural organizou a Ocupação Aloísio Magalhães, considerado um dos pioneiros na introdução do design moderno no Brasil, tendo ajudado a fundar a primeira escola superior de design no país, a Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro (ESDI).

Além disso, no dia 26 de novembro, às 20h, o instituto promove uma mesa de debate sobre o assunto abordado em Cidade Gráfica, com a participação dos três curadores, Celso Longo, Daniel Trench e Elaine Ramos, e do também designer, responsável pela curadoria da Ocupação Aloisio Magalhães, João de Souza Leite. O evento acontece na sala Itaú Cultural, com transmissão online e ao vivo pelo site www.itaucultural.org.br

SERVIÇO
Cidade Gráfica
Abertura para convidados: 19 de novembro
Em cartaz: de 20 de novembro a 4 de janeiro
Horário de funcionamento:
De terça-feira a sexta-feira, das 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Faixa etária: livre
Entrada franca
Piso 1 e -1
Acesso para deficientes físicos
Ar condicionado
Estacionamento com manobrista: R$ 14 uma hora; R$ 6 a segunda hora; mais R$ 4 p/ hora adicional
Estacionamento gratuito para bicicletas
Acesso para deficientes físicos
Ar condicionado

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1776/1777

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