Grande ABC identifica desafios e oportunidades para educação profissional
Discussões iniciadas em seminário sobre o tema darão base para estruturação de Plano Regional que apontará caminhos para a qualificação de mão de obra nas sete cidades
- Data: 04/03/2016 09:03
- Alterado: 04/03/2016 09:03
- Autor: Joyce Cunha
- Fonte: Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC
Crédito:AgABC
Os desafios enfrentados diariamente por jovens estudantes que se preparam para ingressar no mercado e por profissionais que buscam recolocação, através da complementação de conhecimentos, são também preocupações entre gestores públicos, educadores e estudiosos das áreas de educação, desenvolvimento econômico e trabalho. A necessidade de integrar sistemas de ensino ao tecido produtivo, de repensar o modelo da educação oferecida aos profissionais e, de modo mais amplo, da estruturação de novas políticas públicas que contemplem o setor, foram alguns dos pontos destacados durante o seminário regional “Educação e Trabalho: uma articulação possível”.
No segundo dia de atividades, na manhã desta quinta-feira (03), os “contextos: demandas e desafios da educação profissional” foram abordados por especialistas e profissionais da área. O técnico de planejamento e pesquisa do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão) – Aguinaldo Nogueira, trouxe à mesa de discussões dados analisados da RAIS sobre o aumento da qualificação de profissionais entre 2003 e 2013 e o descompasso dessa evolução em relação à necessidade de pessoas mais qualificadas sendo absorvidas pelo mercado.
No período em questão, o grau de escolaridade dos trabalhadores brasileiros subiu 15%. Em contrapartida, a escolaridade exigida para ocupações cresceu apenas 2%. Razões foram apontadas para explicar o movimento, como uma possível sobre qualificação dos profissionais, a queda da qualidade do ensino ofertado ou a estagnação dos tipos de ocupações.
Para ilustrar o cenário, Nogueira afirmou que, em média, 20% dos jovens possuem mais anos de ensino do que a ocupação exige. “O Brasil vem experimentando o aumento contínuo da escolaridade dos trabalhadores no mercado formal. Pode ser que o setor produtivo não tenha passado pela transformação necessária para oferecer melhores cargos”, ponderou.
Na avaliação do diretor técnico do SENAI São Paulo, Ricardo Figueiredo Terra, o futuro da qualificação profissional está diretamente relacionado à ampliação das políticas públicas para a educação, desde sua base. “A educação profissional tem que estar vinculada à demanda. As articulações entre as políticas econômicas e de educação precisam se aproximar no campo estratégico do governo”, afirmou.
A segunda mesa de debates do seminário, moderada pelo secretário executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, Giovanni Rocco, contou com a participação do diretor da Escola do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Cursinho da Poli, Gilberto Alvarez Giusepone, que listou desafios a serem incluídos na pauta de debates de gestores do setor, como a necessidade de rediscutir a Lei Federal que instituiu o Pronatec, permitindo às Centrais Sindicais a prerrogativa de ofertarem demanda. Entre outros pontos, Giusepone também reforçou a importância de incluir a educação profissional na reformulação curricular da Educação Básica.
A diretora da FATEC Diadema, Priscila Praxedes Garcia Branco, falou sobre a experiência dos cursos de tecnologia em cosméticos ofertados pela Faculdade em Diadema. O projeto, iniciado em 2010, atendia à demanda do município, que à época contava com polo de cerca de 100 empresas no segmento.
Para encerrar as apresentações, o coordenador de Qualificação Profissional da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, Jerônimo de Almeida Neto, fez a exposição de dados que constam no Guia da Educação Profissional e Tecnológica do Grande ABC, lançado na abertura do seminário pela entidade regional, em parceria com o Consórcio Intermunicipal Grande ABC.
De acordo com o levantamento, feito no 2º semestre de 2015, trabalhadores, empresas e estudantes da região do Grande ABC contam com 1.128 cursos em três diferentes níveis de educação profissional: Formação Inicial Continuada – FIC (cursos de curta duração, voltados às atividades operacionais); Cursos Técnicos de Nível Médio e Cursos Tecnológicos de Nível Superior.
Nas sete cidades, predominam as instituições privadas de ensino, com pouca participação do Poder Público na oferta de cursos. Apenas 14% das 122 escolas de Formação Inicial Continuada são públicas. Das 65 unidades que ofertam cursos técnicos de nível médio, 13% são públicas. Já em nível superior, apenas 14% das 34 escolas são públicas. A maior oferta na região é de cursos FIC, 989 no total.
A versão digital do Guia da Educação Profissional e tecnológica da região está disponível para consulta no site da Agência GABC – www.agenciagabc.com.br.
Neto explicou que o tanto o Guia da Educação Profissional e Tecnológica do Grande ABC como o seminário regional são o primeiro passo no processo de construção colaborativa de diagnóstico sobre o assunto, que irá compor, futuramente, o Plano Regional de Qualificação Profissional. O documento reunirá informações sobre o que existe atualmente na região e traçará diretrizes da Educação Profissional para as sete cidades nos próximos anos.
INVESTIMENTOS EM CAPITAL HUMANO FORAM DESTACADOS NO PRIMEIRO DIA DE DEBATES
Durante o primeiro dia do seminário regional “Educação e Trabalho: uma articulação possível”, nesta quarta-feira (02), foi iniciada série de discussões sobre os caminhos para promover o desenvolvimento econômico e social a partir de seu capital humano. As ações já existentes na área de qualificação de mão de obra – em níveis municipal, estadual e federal – bem como desafios e possibilidades, foram apresentadas e avaliadas sob diferentes aspectos, pontos de vista e por profissionais ligados ao setor em todo o país.
A solenidade de abertura do seminário contou com a participação de representantes do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho e Previdência Social, além de autoridades da região. No período da manhã, o secretário de coordenação de políticas europeias de desenvolvimento, escola, formação profissional, universidade, pesquisa e trabalho do Governo de Emília Romana – Itália, Patrizio Bianchi, ministrou palestra sobre a experiência de Educação Profissional na região italiana.
O secretário executivo do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, Luis Paulo Bresciani, moderou mesa temática sobre “Políticas Públicas de Educação Profissional”. A discussão teve a participação de Fausto Augusto Júnior, do Dieese, de Naira Lisboa Franzoi, pesquisadora de Educação Profissional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do secretário de Educação de São Bernardo do Campo, Paulo Dias, e do diretor do CIESP Diadema, Donizete Duarte da Silva.
O seminário regional “Educação e Trabalho: uma articulação possível” foi realizado pela Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e pelo Consórcio Intermunicipal Grande ABC nos dias 02 e 03 de março, no auditório Sigma da Universidade Metodista de São Paulo.