Governo Lula demite agente da Abin envolvido em ações clandestinas
A demissão de Thiago Quinália ocorre em meio a apurações da Polícia Federal sobre a "Abin paralela", que monitorava autoridades e disseminava desinformação durante o governo Bolsonaro
- Data: 20/12/2024 14:12
- Alterado: 20/12/2024 14:12
- Autor: Redação
- Fonte: Folha
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, nesta sexta-feira (20), a demissão de Thiago Gomes Quinália, um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A decisão ocorre em meio a investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) sobre supostas ações clandestinas realizadas na instituição durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A demissão de Quinália foi publicada no Diário Oficial da União e é assinada pelo ministro Rui Costa, responsável pela Casa Civil, que supervisiona a Abin desde março de 2023. A assessoria da Abin não comentou o assunto, e até o momento, não houve contato com a defesa do ex-agente.
Em janeiro de 2024, Quinália foi alvo de uma operação chamada Vigilância Aproximada, que também investigou o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente. Contudo, os mandados de busca e apreensão não puderam ser cumpridos, uma vez que Quinália estava fora do país.
O agente foi designado em 2022 como assistente do adido na França, um cargo que representa a Abin em território estrangeiro. Sua nomeação gerou desconforto entre os investigadores após a direção da agência, sob o comando do delegado Luiz Fernando Corrêa, tomar conhecimento do mandado expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A ordem para seu retorno imediato não foi atendida por Quinália.
A corregedoria da Abin instaurou um procedimento administrativo disciplinar e Quinália respondeu às acusações por meio de e-mail, alegando ser alvo de perseguição e temendo uma possível prisão.
As investigações indicam que Quinália fazia parte de um grupo conhecido como “Abin paralela”, cuja intenção era estabelecer vínculos entre autoridades públicas e membros do Primeiro Comando da Capital (PCC). O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, recentemente autorizou o compartilhamento das provas obtidas na investigação sobre essa trama golpista com as apurações relacionadas à Abin.
No relatório final da PF, que indiciou Bolsonaro e seus aliados por um suposto plano de golpe, foram ressaltadas as conexões com as atividades da “Abin paralela”. As investigações revelaram tentativas dos integrantes desse núcleo de encontrar laços entre ministros do STF e indivíduos alvos de outras investigações.
A PF também está apurando casos de monitoramento ilegal de autoridades utilizando sistemas da Abin e a disseminação de notícias falsas. O vereador Carlos Bolsonaro é mencionado como parte desse núcleo político, que teria se beneficiado de informações sigilosas obtidas pela agência durante a gestão do ex-presidente.
A quarta fase da operação, deflagrada em julho de 2024, identificou que o grupo envolvido publicava desinformação nas redes sociais com foco em alvos específicos, principalmente no senador Alessandro Vieira (MDB-RS), após ele solicitar a quebra dos sigilos fiscal e bancário do vereador na CPI da Covid.