Gestão Doria reduz fila para exames, mas aumenta a de consulta
Fila para exames cai, mas cresce demanda por consulta. Falta de centralização aumentou espera por consulta, diz secretário. Falta de médicos é outro dos geradores da demora nas consultas
- Data: 26/12/2017 09:12
- Alterado: 26/12/2017 09:12
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Com fortes dores na coluna e inchaço no corpo, a recepcionista Lilian de Andrade Trombim, de 39 anos, esperou 11 meses para ter agendada na rede municipal de saúde a tomografia na coluna que ajudaria a definir o seu diagnóstico. Foi finalmente atendida em fevereiro deste ano pelo programa Corujão da Saúde, iniciativa do prefeito João Doria (PSDB) em parceria com hospitais privados para zerar a fila de espera por exames na capital. A tomografia foi feita, mas Lilian ainda não sabe o que tem nem iniciou seu tratamento pois, até hoje, segue na lista de espera pela consulta com um reumatologista, médico que analisaria o resultado.
“Fiz o exame no Hospital Oswaldo Cruz, fui bem tratada, mas a consulta está demorando tanto que acho que terei de fazer o exame de novo porque esse nem vai valer mais”, diz.
A pasta de saúde disse ter agendado consulta com o reumatologista para 17 de janeiro e determinou a apuração dos motivos para a demora.
A situação faz com que relatos como o de Lilian – de pessoas que saíram da fila dos exames, mas seguem na espera pela avaliação médica – sejam comuns. Mesmo com o exame feito desde fevereiro, a instrumentadora cirúrgica Márcia Schiavino, de 59 anos, não conseguiu ainda vaga com um pneumologista. “Me encaixaram no Corujão e achei que logo teria a consulta, mas não teve jeito. No posto, me falaram para aguardar.” A solução para não ficar sem tratamento foi pagar uma consulta em uma clínica popular.
O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Wilson Pollara afirmou que não havia pedido pendente na regulação, e que entrou em contato com ela para esclarecer eventuais falhas no atendimento/agendamento e para agendar a consulta para 24 de janeiro.
Quase um ano após assumir a Prefeitura, Doria reduziu pela metade o número de pessoas que aguardam um exame no Sistema Único de Saúde (SUS) da capital, mas não teve o mesmo desempenho no enfrentamento das filas por consultas de especialidades e cirurgias, que cresceram em comparação com as do último mês da gestão anterior.
Hoje, cerca de 845 mil pessoas ainda aguardam algum atendimento na fila da rede municipal. O número total é 25% menor do que o 1,3 milhão de procedimentos que estavam na lista em dezembro de 2016, mas a queda não é uniforme.
Com o Corujão, iniciado em janeiro, o número de exames na fila caiu de 607 mil em dezembro de 2016 para 234 mil em novembro deste ano, último dado disponível. Já a lista de espera por consultas de especialidades cresceu, passando de 439 mil para 497 mil. Os pedidos de cirurgias na fila, que a partir de julho foram incluídos no Corujão (fase em curso), também aumentaram, de 91 mil para 113 mil.
Para Walter Cintra Ferreira, coordenador do Curso de Especialização em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), mutirões ajudam a aliviar o sistema, mas não são suficientes. “Ainda não conseguimos estruturar o SUS para dar conta de toda a demanda de consultas e outros procedimentos. A política de saúde não pode ser baseada em mutirões porque eles desafogam um nó crítico, mas logo aparecem outros.”
A aposta da gestão municipal agora é de reduzir as filas de cirurgias com a nova etapa do Corujão. Ao menos para o aposentado David Pacios Gonçalves, de 78 anos, o programa já teve um bom resultado. Ele esperava há mais de um ano por uma cirurgia de hérnia na virilha e foi atendido em setembro. “Meu pai sempre foi muito ativo e, com a hérnia, estava limitado. Agora voltou a fazer as atividades de forma independente”, conta a analista de importação Silmara de Queiroz de 43 anos.
Questionado sobre o aumento das filas para exames e cirurgias, o secretário municipal da Saúde de São Paulo, Wilson Pollara, afirmou que o problema se deve, principalmente, à descoberta de filas paralelas organizadas dentro de cada unidade e não reunidas em sistema único. “Havia um número de pessoas que aguardavam atendimento e que desconhecíamos. Agora estamos centralizando.”
Disse ainda ser normal, mesmo com programas como o Corujão, haver filas na rede porque novos pedidos de exames, consultas e cirurgias entram no sistema todos os dias. “Eles podem estar na fila, mas isso não quer dizer que vão demorar meses para ser atendidos.”
MÉDICOS
Em seu primeiro ano, Doria também enfrentou a falta de médicos. Em 2017, o número de profissionais caiu de 12.953 para 12.529. A promessa de campanha de contratar de imediato 800 médicos não foi cumprida. O motivo seria a falta de verba prevista para a medida. “Não teve orçamento, mas já fizemos a previsão orçamentária para 2018 e vamos contratar 600 até março.” Também é estudado um programa de incentivo para médicos na periferia. “Estamos tentando criar um bônus, vantagens adicionais para que médicos possam trabalhar na periferia com a motivação de terem ganho adicional”, disse o prefeito João Doria (PSDB).
GESTÃO ANTERIOR
Questionada sobre as declarações de Pollara, a gestão Fernando Haddad (PT) afirmou, por nota, que as “filas internas” dos hospitais para cirurgia ocorrem porque o paciente sai da fila geral para ser monitorado pelo hospital que o acolheu. Sobre a verba para contratar médicos, disse que fez dois concursos e deixou prontos “os trâmites necessários para convocar os aprovados”.