Funk e trap: potências que ainda enfrentam barreiras no mercado
GR6, produtora que já conquistou R$ 10 milhões em publicidade neste ano, fala sobre os diferenciais e desafios dos gêneros
- Data: 18/07/2024 17:07
- Alterado: 18/07/2024 17:07
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
Renan França é diretor-comercial e de criação da GR6
Crédito:Kennedy Richelly/Divulgação
O funk e o trap estão conquistando os ouvidos do mundo. Com números expressivos no mercado, os gêneros têm estado cada vez mais presentes na vida daqueles que, muitas vezes, não entendem a letra, mas se guiam pela batida.
Um exemplo disso aconteceu recentemente, com os jogadores da seleção da Espanha, Lamine Yamal e Nico Williams, usando músicas de funk brasileiro para promover o jogo contra a França. Enquanto o astro de 16 anos usou a canção ‘BumBum Granada’, de Jerry Smith, Williams optou por ‘Para com a mão no chão Vs joga pra trás’, do DJ Duarque.
Além disso, outro exemplo recente é o sucesso que a turnê ‘Funk generation’, da Anitta, com canções de funk em espanhol e em inglês, tem lotado os espaços de show nos países do EUA e Europa.
É inegável que os artistas que estão por trás dos beats movimentam multidões e, por trás de muitos deles, está a GR6, produtora musical e de entretenimento brasileira liderada por Rodrigo Oliveira, que tem feito sucesso não apenas nos charts, como também no mercado publicitário.
Só em 2024, por exemplo, a empresa já lucrou mais de R$ 10 milhões com campanhas para Ipiranga, Ruffles, Heineken, Lacoste, Vivo, Teatro Bradesco, Itaipava, Amazon, Heinz, Tiger, Itaú, Chivas e Netflix, entre outras.
Segundo Renan França, diretor-comercial e de criação da GR6, o valor das publicidades reflete a busca do mercado pela audiência que o funk e o trap carregam. “Hoje, todas as marcas e plataformas estão voltadas para o funk e o trap por conta da audiência. É surreal o que esses artistas têm de engajamento orgânico. Nós temos 42 músicas no top 200 do Spotify, por exemplo, e se juntarmos o trap, esse número passa para mais de 70. Hoje, a música urbana é o maior gênero musical do país“, explicou o executivo.
Além disso, a produtora soma dois Leões no Festival de Criatividade Cannes Lions em seu portfólio, sendo um bronze conquistado neste ano na categoria Outdoor com a peça ‘The Cruise Heist’, feita para a Netflix pela Galeria, e outro bronze em 2023 na categoria Social & Influencer com a peça ‘Others MC’s’, assinada pela Africa Creative.
Para a produtora, conquistar esses prêmios em um festival que movimenta fortunas e debate sobre a criatividade global representa um passo a mais na missão de furar a bolha e, consequentemente, do preconceito.
“As pessoas não entendem como que esses gêneros têm os números que têm, a conversão… Então, é muito bom termos vencido esses prêmios e a nossa ideia é ganhar muito mais. Nós temos que furar essa bolha e mostrar que somos um gênero musical como qualquer outro, só que conversamos com o pessoal da favela, da massa, diferente dos demais”, ressaltou.
Na onda do beat
As pessoas que têm o sonho de se tornarem artistas também carregam em si a vontade de “vencer na vida” e promover uma vida melhor para os seus. Esse é um dos desejos em comum que os nomes da GR6 possuíam e que, atualmente, usam suas músicas para falar sobre suas conquistas, citando marcas de luxo, como a própria Lacoste.
De início, França contou que as empresas não gostavam de serem citadas nas canções e que a produtora chegou a receber algumas notificações, mas que isso mudou com o tempo, com as empresas entendendo que estarem presentes ali era mais benéfico do que elas imaginavam.
“No início, a própria Lacoste não queria ser citada e nós já recebemos notificação da Johnnie Walker também. Essas são marcas que nós trabalhamos hoje porque elas viram a conversão e o engajamento que a gente tem. Todo mundo muda a cabeça quando vê os números. Fora isso, as músicas dos artistas são publicidade gratuitas para as marcas também e elas começaram a perceber isso”, explicou.
No caso da Lacoste, a marca conta com o MC Hariel entre os seus embaixadores e já realizou trabalhos com outros artistas como Kelvinho, Caveirinha e, mais recentemente, com o Livinho durante o show do cantor no Lollapalooza deste ano.
Apesar disso, França ressaltou que preconceito fez com que o mercado publicitário demorasse para entender o potencial que o setor carrega e que, no início dos trabalhos comerciais, a produtora precisou se provar e provar o valor dos seus artistas fazendo alguns trabalhos de forma gratuita.
“Isso acontece até hoje, então as vezes eu faço coisas de graça para mostrar que a gente é bom, que consegue furar a bolha e entregar mais do que qualquer outro gênero no Brasil. Temos que nos provar sempre, mas vamos chegar lá”, apontou.
Publicidade com propósito
Além de músicas para entreter, o funk e o rap também são ferramentas de conscientização da população. Entendendo isso, a GR6 já protagonizou diversos projetos voltados a pautas de relevância como a violência contra a mulher, a questão da Cracolândia e, mais recentemente, o racismo.
Com o manifesto ‘Os pretos no devido lugar’, a produtora juntou artistas como Ludmilla, MC Ryan SP, MC Livinho, MC Davi, MC Hariel, MC Don Juan e Ice Blue, dos Racionais para homenagear o jogador Vinicius Jr., que é uma das vítimas constantes de racismo na Europa.
Além dos artistas, a iniciativa também contou com o apoio da Vivo, por meio do ‘Presença Preta’, projeto criado em 2022 com objetivo de reforçar a representatividade de pessoas negras.
“Queríamos fazer uma espécie de grito de guerra e, quando terminamos a música, vimos que era a cara da Vivo, por conta do Presença Preta. Eu já estava negociando algumas campanhas com eles e apresentei o projeto, eles gostaram e nós produzimos tudo em 14 dias”, contou França.
O executivo também lembrou que esses projetos são pensados com base nas realidades vividas no país, inclusive pelos próprios cantores que usam da arte para expressar as suas vivências e, de certa forma, combater as violências do cotidiano.
Modelo de negócio
A GR6 é uma produtora que aposta na fast music, produzindo cerca de 40 músicas e 15 videoclipes por semana. Por isso, França explicou que os contratos das marcas com os artistas não podem ser de médio ou curto prazo — pelo menos no início — por ser algo que interfere diretamente na composição das canções.
“Eu não posso limitar o artista nesse ponto. Às vezes, eles entram como embaixadores de alguma empresa, como foi o caso do Livinho com a Itaipava, mas foi um contrato de curto prazo, uma ação, e depois, eu consegui renovar para um contrato maior, por exemplo”, afirmou.
Já em relação as produções, ele conta que existem duas formas de envolvimento. Na primeira, a marca procura a produtora pedindo apenas a liberação do artista, já na segunda, a GR6 pensa em toda a campanha, apresenta o projeto e fica responsável por toda a produção.
O contato com as marcas funciona da mesma forma. “Ou nós criamos e levamos para as marcas, ou a marca que busca por nós para inserir os artistas nas campanhas”, concluiu.
Case MC Binn
Além dos lançamentos, a GR6 também teve um de seus artistas no ‘Big Brother Brasil’ deste ano, o MC Binn (ex-MC Bin Laden). Atualmente, o 17º eliminado do reality show da Globo conta com vários contratos e, de acordo com França, já faturou mais do que o valor do programa com publicidade.