Frequentador da Virada Cultural fala em show seguro, só que mais restrito
Violência vista em edições anteriores fez com que parte do publico desistisse de ver as apresentações, mas estratégia usada neste ano foi eficaz e diminuiu a sensação de insegurança
- Data: 29/05/2023 15:05
- Alterado: 29/05/2023 15:05
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Foto: SSP
O palco principal da Virada Cultural de São Paulo, no Anhangabaú região central, ficou mais seguro – o policiamento ostensivo inibiu os arrastões e diminuiu a sensação de insegurança. Por outro lado, o público rareou. E a escolha de uma arena única no centro, isolada por tapumes, impediu a circulação em outras áreas – um dos objetivos da Virada quando foi criada. Em linhas gerais, essa foi a percepção – negativa e positiva – de frequentadores do evento.
Espectador desde 2015, o programador de TI Henrique Trindade, de 33 anos, lembra-se de percorrer vários palcos em edições anteriores, saindo da Praça da Sé. Isso se perdeu, em sua visão. “Ficou tudo num lugar só, mais restrito.”
A enfermeira Rafaela Belchior, de 35 anos, compara o novo formato a um festival musical, como o Lollapalooza ou o Rock in Rio. Contribuem para essa sensação, em sua opinião, as grades de contenção, a venda de bebida e comida feita majoritariamente por ambulantes credenciados e a entrada por um acesso totalmente controlado, com revista.
Para Trindade, o lado bom de shows mais seguros foi ter conseguido levar o filho, de 4 anos, para a primeira virada. Para o menino, as grades de contenção significaram liberdade de correr e transformar uma garrafa de água em bola de futebol imaginária. Foi possível ver outras famílias com crianças, principalmente moradoras da região central, curtindo os shows.
Triste memória
Mas a violência vista em edições anteriores ainda cobrava um “preço”, como o fato de apenas o advogado Lucas Brasiliano, de 34 anos, e o recrutador Elivaldo Gomes, de 26 anos, terem ido ao evento de uma turma de seis amigos.
Os outros desistiram ao se lembrar dos “perrengues” com os arrastões, furtos e roubos. Pensando nisso, os vendedores ambulantes do lado de fora da arena ofereciam pochetes para celular por R$ 30, como garantia “antifurto”.
Os frequentadores da noite e madrugada mantiveram os cuidados pessoais de segurança.
Poucos sacavam o aparelho celular do bolso – só arriscavam perto dos postos e viaturas policiais e sempre longe de grandes grupos. A estudante Priscila Alves colocou uma carteira e o celular dentro da blusa, apertados por um top que usa nas aulas de ginástica.
O aposentado José Luis Rodrigues, de 67 anos, já havia ido ao evento anteriormente, mas decidiu sair após meia hora por se sentir inseguro. Desta vez, ficou, mas evitou tirar o celular do bolso. “A situação está melhor, mas a gente teme que algo aconteça”, diz o morador de São Bento do Sul (SC).
Essa memória da violência motivou o rapper MV Bill a ter de explicar a maneira como alguns fãs dançavam a sua música na plateia – a roda de rap pode parecer uma briga em alguns momentos. “Ninguém está brigando. Não se assustem”, pediu ao público duas vezes.