Fabiana Ramos será a primeira mulher intersexo a participar do Miss Universe São Paulo
Fabiana expressou sua determinação diante dos desafios que poderá enfrentar
- Data: 20/02/2025 20:02
- Alterado: 20/02/2025 20:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Assessoria
A modelo paulista Fabiana Ramos, de 37 anos, fez história ao ser eleita a representante de Franco da Rocha no Miss Universe São Paulo deste ano. Com essa conquista, segundo a organização do evento, Fabiana se torna a primeira mulher intersexo a participar de uma das etapas do Miss Universo mundial.
Natural de Caieiras e atualmente residindo em Franco da Rocha, ambas cidades situadas na Região Metropolitana de São Paulo, Fabiana é uma das 60 candidatas que competirão na pré-seletiva do concurso, programada para o dia 22 de abril, no Memorial da América Latina. A fase eliminatória determinará quais participantes avançarão para a final estadual, marcada para o dia 10 de abril, no Komplexo Tempo, localizado na zona leste da capital paulista.
Em entrevista, Fabiana expressou sua determinação diante dos desafios que poderá enfrentar: “Estou ciente do preconceito que poderei encontrar, mas minha luta vai além de mim mesma; é uma questão que envolve toda a comunidade intersexo. Meu objetivo é normalizar nossa presença em concursos de beleza e mostrar que isso deve ser encarado como algo natural. Se eu não abrir esse caminho, quem o fará?”.
A intersexualidade, anteriormente conhecida como “hermafroditismo”, refere-se à condição de indivíduos que nascem com características sexuais ou genéticas que não se encaixam nas definições tradicionais de masculino ou feminino. Enquanto alguns podem ter genitálias ambíguas, outros podem apresentar cromossomos diferentes dos padrões típicos associados ao sexo atribuído ao nascimento.
Fabiana enfatizou a importância da educação sobre essa temática: “É crucial esclarecer essas questões para combater a desinformação. Ser intersexo não é uma anomalia, mas sim uma variação natural da biologia humana. Minha meta como miss é transmitir essa mensagem de forma clara e acessível para que mais pessoas compreendam e aceitem essa realidade”. Atualmente, ela trabalha no Mercado Livre em São Paulo.
Fabiana compartilha sua própria experiência com a desinformação. Nascida com uma condição genética intersexual, foi inicialmente registrada como menino, apesar de sempre se identificar como menina. Ao longo dos anos e após entender melhor sua situação aos 12 anos, ela iniciou sua transição para o gênero feminino. Muitas vezes, pessoas intersexo são equivocadamente identificadas como transgêneros.
Desde criança, Fabiana sonhava em ser miss ao assistir às competições na televisão. Contudo, devido à sua intersexualidade e ao bullying que enfrentou, esse sonho parecia distante. “Assim que alcancei a maioridade, decidi me inscrever nos concursos de beleza. Ter um sonho é frustrante quando o mundo impõe barreiras”, relembra.
Ela recorda os desafios iniciais enfrentados: “A falta de maturidade e preparação tornaram o caminho ainda mais complicado. Já é desafiador competir como mulher cisgênero; para uma mulher intersexo, os obstáculos são ainda maiores. Comecei a participar, mas não estava pronta e acabei perdendo muitas competições”.
Superando o bullying que sofreu na infância, Fabiana transformou sua dor em força e perseverança: “Um dia fui chamada de ‘o menino mais feio da sala’ e hoje sou vista como a mulher mais bonita da cidade”, diz com orgulho. Antes de se tornar Miss Franco da Rocha 2025, Fabiana conquistou outros títulos relevantes, incluindo Rainha do Rodeio de Jaguariúna em 2022 e Miss Rodeio Franco da Rocha em 2023.
A autoaceitação e o ativismo tornaram-se fundamentais na vida de Fabiana: “Entendi que os concursos de beleza poderiam ser uma plataforma para informar sobre a intersexualidade e promover discussões importantes para desconstruir preconceitos”.
Além do bullying escolar, o ambiente familiar também moldou seu ativismo. Ela cresceu testemunhando violência doméstica e preconceito por parte do pai em relação à mãe: “Aprendi desde cedo a me fortalecer para enfrentar os desafios familiares e sociais”, revela.
No contexto do Miss Universo — um concurso historicamente exclusivo para mulheres cisgênero — Fabiana vê sua participação como um passo importante em sua missão pessoal: “Encontrei uma plataforma para dar visibilidade às questões intersexo. Essas questões precisam ser discutidas abertamente para proporcionar apoio adequado às crianças e suas famílias”.
O ativismo de Fabiana é apoiado pela ABRAI (Associação Brasileira Intersexo), uma organização dedicada a fornecer suporte psicológico e social às famílias que lidam com essa condição. A entidade trabalha na promoção dos direitos humanos das pessoas intersexo no Brasil.
“Ser miss transcende o simples título de beleza; trata-se de estar preparada e ter um propósito claro. O Miss Universo valoriza mulheres autênticas que têm um impacto significativo na sociedade”, conclui Fabiana com determinação.
Confira abaixo o momento emocionante da coroação de Fabiana Ramos como Miss Franco da Rocha 2025.