Êxito como fiador de Nunes empurra Tarcísio para corrida presidencial, mas expõe entraves
Bolsonaro, coligação e fala sobre PCC desafiam caminho ao Planalto, enquanto governador evita posição de presidenciável
- Data: 28/10/2024 11:10
- Alterado: 28/10/2024 11:10
- Autor: Redação
- Fonte: Carolina Linhares/Folhapress
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB)
Crédito:Isadora de Leão Moreira/Governo do Estado de São Paulo
Encharcado de suor após discursar em um comício de Ricardo Nunes (MDB), na última segunda-feira (21), Tarcísio de Freitas (Republicanos) negava gentilmente com a cabeça enquanto o prefeito afirmava em entrevista à imprensa que o governador era “a grande figura da eleição”.
Depois de enumerar elogios a Tarcísio reconhecendo seu empenho na campanha, Nunes foi questionado como poderia retribuir. O contexto implícito da pergunta era a corrida presidencial de 2026 e, enquanto o prefeito hesitou por um momento na resposta, Tarcísio emendou, desviando do assunto mais rapidamente: “É fácil. Trabalhando, entregando resultado”.
Depois da reeleição de Nunes neste domingo (27), porém, ficou mais difícil para o governador fugir do posto de presidenciável. Como mostrou a Folha de S.Paulo, aliados de Tarcísio já falam em pressão de políticos e empresários para que ele concorra ao Planalto -até aqui, o governador tem dito que prefere disputar a reeleição.
Em seu discurso, Nunes foi claro em seu compromisso de retribuição. “Tarcísio, seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro. Você vai poder contar sempre comigo”, disse o prefeito, que chamou o governador de líder maior, alicerce da vitória, amigo e irmão. Na campanha, chegou a compará-lo ao capitão “que põe o peito na frente” na hora da guerra.
O nome de Tarcísio se consolidou na direita e na centro-direita com o bom resultado em sua primeira eleição como articulador, padrinho e cabo eleitoral. É ele o herdeiro do palanque e da coligação de Nunes para 2026. Mas a campanha municipal também mostrou entraves em seu eventual caminho rumo ao pleito nacional.
A começar pela declaração, durante a votação no domingo e sem apresentar provas, de que integrantes do PCC orientaram voto em Guilherme Boulos (PSOL), que perdeu para Nunes por 59,35% a 40,65%.
O candidato do PSOL reagiu, chamou a fala de criminosa e entrou com ação na Justiça Eleitoral pedindo a inelegibilidade de Tarcísio e de Nunes.
Após a declaração do governador, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou em nota que “o Sistema de Inteligência da Polícia Militar interceptou a circulação de mensagens atribuídas a uma facção criminosa determinando a escolha de candidatos à prefeitura nos municípios de Sumaré, Santos e capital”.
Integrantes da campanha de Nunes condenaram a atitude de Tarcísio reservadamente. Embora descartem efeito eleitoral ou jurídico, afirmam que a declaração foi desnecessária, fruto de inabilidade política e contaminou o dia da vitória, que já era certa segundo pesquisas.
Além disso, avaliam que o assunto vai perdurar e será uma polêmica a ser resgatada sobre Tarcísio daqui por diante.
Outro desafio é o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também sai ganhando com a vitória de Nunes, dado que a cidade mais importante do país não será palanque para Lula (PT) em 2026. Seu apoio envergonhado e hesitante ao emedebista, no entanto, agora não lhe permite dividir o capital político com Tarcísio, que mergulhou na disputa.
Depois de ouvir exaltações em série a Tarcísio no almoço com empresários da última terça (22), dia em que o ex-presidente resolveu aparecer na campanha de Nunes, Bolsonaro disse à imprensa, ao lado do governador, que era o candidato da direita para 2026, ignorando sua inelegibilidade.
Questionado se quem disputaria seria ele ou Tarcísio, respondeu, em referência ao seu próprio nome do meio: “O nome é Messias”. “O candidato a presidente é Bolsonaro”, reforçou o governador.
Tarcísio não vai se opor ao seu padrinho político, ou seja, não iria concorrer caso Bolsonaro revertesse sua inelegibilidade e decidisse disputar o Planalto. Mas, na situação atual, o governador é tido como o principal sucessor e pressionado a se filiar ao PL.
Como Bolsonaro insiste em se colocar no páreo mesmo inelegível, a construção da candidatura presidencial de Tarcísio fica interditada -mais um motivo para que o governador indique publicamente que prefere a reeleição.
Foi nesse mesmo almoço que Fabio Wajngarten, braço direito de Bolsonaro e um dos poucos bolsonaristas a frequentar a campanha de Nunes, além de Tarcísio e do vice Ricardo Mello Araújo (PL), afirmou que a aliança de Nunes “é apenas um embrião para 2026”, no sentido de representar uma frente antiesquerda.
Wajngarten também elogiou Tarcísio, dizendo que o governador foi “gigante” e “incansável”. “Destruiu os sapatos e rodou a cidade como poucas vezes vi.”
A opinião de que a coligação de Nunes -com MDB, PL, Republicanos, União Brasil, PP, PSD, Solidariedade, Podemos, Avante, PRD e Mobiliza- é a prévia de uma união para alavancar o opositor de Lula em 2026, especialmente se for ele Tarcísio, apareceu de forma mais ou menos explícita entre caciques partidários ao longo da campanha.
A questão é que parte dessas legendas compõe o governo Lula, como o próprio Republicanos, PP, Solidariedade, MDB e PSD, cujo presidente Gilberto Kassab defende que Tarcísio concorra à reeleição e não ao Planalto.
Questionado neste domingo se o MDB estaria com Tarcísio ou com Lula em 2026, o presidente do partido, Baleia Rossi, que coordenou a campanha de Nunes, disse que a sigla tem correntes diferentes e que a democracia interna será respeitada. Nomes de peso na legenda defendem a reeleição do petista.
As eleições municipais também deixaram sequelas na relação entre Tarcísio e o PP, como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo. Presidente da legenda, o senador Ciro Nogueira (PI) afirmou que tem compromisso com uma candidatura de Bolsonaro em 2026, mas não com a do governador. E o acusou de, no interior de São Paulo, trabalhar contra o PP nas eleições e dividir a direita.