Entenda por que metástase de câncer ocorre com frequência no pulmão
Cientistas belgas identificam o aminoácido aspartato como responsável pela alta incidência de metástases pulmonares, oferecendo novas perspectivas para tratamentos oncológicos direcionados.
- Data: 13/01/2025 15:01
- Alterado: 13/01/2025 15:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Cientistas da Bélgica realizaram uma pesquisa inovadora que aponta a disponibilidade do aminoácido aspartato nos pulmões como um dos fatores que contribuem para a alta incidência de metástases nesses órgãos em pacientes com câncer. A descoberta, que promete enriquecer a compreensão sobre a biologia do câncer, também abre novas possibilidades para o desenvolvimento de tratamentos direcionados a doenças metastáticas.
A metástase é uma fase da evolução de certos tipos de câncer, caracterizada pela disseminação das células tumorais. Embora inicialmente se desenvolvam em um órgão específico, essas células podem migrar pela corrente sanguínea ou linfática e estabelecer-se em outras partes do corpo. Segundo Giseli Klassen, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), as células metastáticas contêm uma proteína que funciona como uma chave, procurando um ligante em outros tecidos.
Cada tipo de tumor apresenta preferências por determinados órgãos ao metastatizar; os pulmões são um local comum para muitos, incluindo cânceres de mama, rim e esôfago. Outros locais frequentes incluem o cérebro e os ossos. Klassen observa que, apesar dos avanços no diagnóstico de metástases nos últimos anos, ainda não existem tratamentos eficazes disponíveis. No entanto, ela expressa otimismo quanto à possibilidade de que novas terapias sejam desenvolvidas na próxima década, à medida que aumentam os investimentos globais em pesquisa nesta área.
No estudo recente, os pesquisadores focaram em compreender a função dos pulmões na progressão da metástase. Para isso, analisaram células metastáticas pulmonares agressivas e investigaram a expressão gênica dessas células. O código genético humano atua como um guia para a produção de proteínas, e os cientistas notaram que a interpretação desse código estava alterada entre camundongos e pacientes com metástases pulmonares, favorecendo a disseminação das células cancerígenas. A raiz dessa alteração foi identificada como sendo o aspartato.
O aspartato é um aminoácido normalmente encontrado em baixas concentrações no sangue, mas em pacientes com metástase ele aparece em níveis significativamente elevados nos pulmões. Os pesquisadores belgas conseguiram elucidar o mecanismo pelo qual essa pequena molécula pode comprometer o funcionamento normal do organismo.
Essa descoberta fornece aos médicos e cientistas um novo alvo na busca por tratamentos para metástases. Os autores do estudo mencionam que existem medicamentos já disponíveis que podem ser adaptados para atingir esse mecanismo identificado. O trabalho foi publicado na revista científica Nature.
Simone Fortaleza, pneumologista da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), enfatiza que a prevenção da metástase depende essencialmente do diagnóstico precoce e do tratamento eficaz dos tumores nas fases iniciais da doença, evitando assim a propagação das células cancerígenas.
A presença de metástase geralmente resulta em uma drástica redução da expectativa de vida dos pacientes. Somente casos muito simples, limitados a um único órgão, são candidatos à cirurgia, oferecendo uma chance maior de sobrevida comparado às opções de quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia.
Com o advento de tecnologias baseadas em inteligência artificial e aprendizado de máquina, novas perspectivas surgem para prever o risco de metástase, potencializando o acesso a tratamentos preventivos para pacientes oncológicos. Um estudo realizado por pesquisadores chineses no ano passado revelou que métodos de aprendizado de máquina são capazes de prever metástases distantes com alta precisão.
A Folha lançou recentemente Vita, uma ferramenta de inteligência artificial voltada para responder dúvidas sobre câncer de mama com o auxílio de especialistas do Hospital Sírio-Libanês. O chatbot oferece respostas e vídeos exclusivos com orientações profissionais.
No mesmo contexto, pesquisadores dos Estados Unidos investigaram o uso da inteligência artificial para prever a disseminação tumoral para o cérebro em pacientes com câncer de pulmão. Com dados coletados durante cinco anos sobre 158 pacientes — dos quais 65 desenvolveram metástases — os resultados mostraram que um algoritmo baseado em modelos de aprendizado profundo conseguiu prever a progressão da doença com uma precisão de 87%, superando a taxa média de acerto de 57,3% obtida por quatro patologistas.