Elemento surpresa

O resultado do Mundial de Ginástica Rítmica, realizado no início de setembro na Alemanha, surpreendeu muita gente. O regulamento da Federação Internacional de Ginástica determinava que a vaga brasileira individual geral para as Olimpíadas de 2016 ficasse com quem obtivesse a maior pontuação no Mundial. E a paranaense Angélica Kvieczynski, quarta colocada nos Pan-Americanos de Toronto, era a mais cotada. Mas a capixaba Natália Gaudio, que no Pan ficou em oitavo lugar, terminou o evento alemão com 46.766 pontos contra 46.649 da ginasta paranaense. E garantiu a vaga nos jogos Rio-2016. “Eu e a Angélica disputamos o pódio há bastante tempo e os resultados sempre foram bem acirrados. Nos últimos cinco anos eu fui campeã brasileira quatro vezes”, explica Natália, que aos 22 anos trancou a faculdade de Direito para se dedicar integralmente aos treinos. “Quando tinha oito anos e me perguntavam qual era o meu sonho, eu dizia que era participar das Olimpíadas”, relembra a ginasta, que recentemente foi convidada para integrar o “casting” da agência de modelos Ford Models. Alguém que nasceu em uma cidade chamada Vitória e treina em um clube chamado Escola de Campeãs parece mesmo predestinada…

Jogos Cariocas – Como se aproximou da ginástica rítmica?
Natália Gaudio – Comecei a praticar com seis anos, na escola onde estudava. Umas amigas minhas faziam, me encantei ao vê-las treinando e quis fazer também. Com 8 anos, participei da minha primeira competição e ganhei minha primeira medalha… De vice-campeã estadual! Com 9, fui chamada para fazer um teste na seleção capixaba. A partir de então, comecei a aumentar os ritmos de treinos e participar de competições mais importantes. Em 2002 disputei meu primeiro torneio nacional e, em 2006, participei do primeiro campeonato internacional, o Pan-Americano juvenil, onde conquistei duas medalhas de bronze.

Jogos Cariocas – Na ginástica rítmica, são quatro aparelhos: arco, bola, maças e fita. São consideradas as três melhores notas de cada ginasta e a pior é descartada. Qual é o seu aparelho predileto e qual costuma ser descartado?
Natália Gaudio – Gosto de todos os aparelhos, mas sempre tive mais facilidade com o arco. O que eu preciso treinar mais é a bola, que considero o aparelho mais difícil de manejar.

Jogos Cariocas – Quais foram seus resultados mais importantes?
Natália Gaudio – Sou hexacampeã estadual, quatro vezes campeã brasileira, três vezes campeã sul-americana e vice-campeã geral nos Jogos Sul-americanos de 2014 em Santiago, no Chile, duas vezes vice-campeã e um terceiro lugar geral no Meeting Internacional. Em 2012, ganhei o prêmio de melhor ginasta do país. Mas o momento mais emocionante foi conquistar a vaga para as Olimpíadas de 2016.

Jogos Cariocas – Como é a sua rotina de treinos, num dia comum?
Natália Gaudio – Como estou com a faculdade trancada, treino mais ou menos 6 horas por dia na Escola de Campeãs, em Vila Velha, com a técnica Monika Queiroz. Faço ballet, treino as coreografias e faço preparação física. Fisioterapia ou massoterapia, para me recuperar das dores dos treinos, também são parte da rotina. É um ritmo bem intenso. Estamos fazendo muitas repetições dos elementos das séries para aperfeiçoar cada detalhe e diminuir ao máximo os erros. Perto das competições, aumentamos a carga para 8 horas diárias, em dois turnos de treinos.

Jogos Cariocas – O que espera das próximas Olimpíadas?
Natália Gaudio – Espero que seja um evento maravilhoso, bem organizado, que surpreenda a todos e entre para a história das Olimpíadas. Sempre sonhei em participar dessa competição e com certeza pra mim será uma oportunidade incrível! Acredito que a torcida e o público vão ajudar e incentivar muito os atletas brasileiros. As construções já estão bem avançadas e acredito que a organização será ótima.

Jogos Cariocas – Você é apontada como uma das musas das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Isso incomoda?
Natália Gaudio – Eu gosto. Sou musa porque a ginástica rítmica é um esporte no qual você precisa ser uma musa. Você precisa entrar linda e maravilhosa! Imagina uma ginasta descabelada, sem maquiagem… Não vai chamar atenção do público, nem da arbitragem. Levo isso para o lado da ginástica, não como uma questão pessoal. Não me incomoda em nada!