Desafios da inclusão: A luta de pessoas trans no mercado de trabalho

A experiência de Bruna Valeska ilustra os desafios da inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho, destacando a transfobia e a falta de oportunidades justas

  • Data: 29/01/2025 10:01
  • Alterado: 29/01/2025 10:01
  • Autor: Redação
  • Fonte: Agência Brasil
Desafios da inclusão: A luta de pessoas trans no mercado de trabalho

Crédito:Fernando Frazão/Agência Brasil

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Em um contexto marcado pela luta por igualdade, a experiência de Bruna Valeska ilustra os desafios enfrentados por pessoas trans na busca por oportunidades profissionais. Demitida há mais de um ano de uma loja de perfumaria e cosméticos, Bruna atribui sua saída à transfobia manifestada pela gestão do estabelecimento. Desde então, ela não recebeu a rescisão contratual e encontra dificuldades para reintegrar-se ao mercado de trabalho formal.

Bruna relata que foi atraída para o emprego com promessas de um salário competitivo e a possibilidade de financiamento para concluir seus estudos em Química. No entanto, após apenas quatro meses, ela foi dispensada. “É uma prática recorrente no setor. Muitas vezes, empresas contratam pessoas transexuais apenas para garantir uma imagem inclusiva, mas sem compromisso real com a diversidade”, critica.

No Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado hoje (29), a história de Bruna destaca as barreiras enfrentadas por muitos indivíduos trans, que lidam com preconceitos e dificuldades em diversas áreas da vida. Ela revela ter sido rejeitada pela família, ter deixado uma universidade pública devido à falta de apoio e até mesmo ter vivido nas ruas em momentos críticos.

Apesar das adversidades, Bruna perseverou na busca por qualificação profissional. Sua trajetória começou com um projeto da prefeitura do Rio de Janeiro, onde conseguiu um emprego como auxiliar de cozinha. Desde então, acumulou cinco anos de experiência formal, mas continua a perceber um tratamento desigual por parte das chefias em relação aos colegas trans.

“Existem muitas empresas que se autodenominam inclusivas, mas são rigorosas com as contratações de pessoas trans. Muitas vezes, a seleção é feita com base em aparência ou indicações pessoais, enquanto outros funcionários desempenham as mesmas funções sem enfrentar tais exigências”, aponta Bruna. “Não há equidade nas oportunidades de crescimento dentro das organizações. Não adianta abrir vagas específicas para pessoas trans se os salários e benefícios não são os mesmos oferecidos a outros funcionários na mesma posição”.

Atualmente, Bruna tenta complementar sua renda por meio de trabalhos online e está se especializando na área de estética e beleza. Ela aguarda ansiosamente uma oportunidade que valorize suas habilidades e experiências acumuladas ao longo dos anos.

“Meu sonho é retornar ao mercado de trabalho. Fiquei muito decepcionada com minha última experiência profissional, pois abri mão de muitas coisas para estar lá. Muitas pessoas como eu enfrentam esse ciclo de contratações temporárias, sacrificando suas vidas sem garantia alguma”, desabafa Bruna. “A sociedade possui um número considerável de pessoas trans acima dos 35 anos que merecem oportunidades justas e requalificação”.

A iniciativa Roda de Empregabilidade busca mudar essa realidade ao promover inclusão no mercado de trabalho para pessoas transexuais. O evento acontece hoje (29) em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, sob a coordenação do Instituto Rede Incluir. Estão disponíveis mais de 100 vagas em áreas como comércio e serviços gerais.

Além das vagas oferecidas, o evento contará com orientação profissional e preparação para entrevistas, visando encaminhar candidatos diretamente para empresas comprometidas com a diversidade. Nélio Georgini, coordenador de Diversidade e Inclusão do Instituto Rede Incluir, ressalta que garantir vagas é apenas um primeiro passo; é crucial também promover o reconhecimento profissional e dignidade para essas pessoas.

“O mundo tende a ser muito binário em suas definições sociais, limitando-se às categorias convencionais. Isso resulta em exclusão para aqueles que não se encaixam nesses padrões”, explica Nélio. Ele observa que o mercado historicamente tem sido desfavorável para as pessoas trans, dificultando o acesso a políticas públicas e mantendo condições precárias no que diz respeito à empregabilidade.

Nélio também destaca que o atual cenário exige uma postura firme das empresas brasileiras em defesa da diversidade. Ele menciona que movimentos globais têm buscado reverter políticas inclusivas desde a ascensão política em contextos adversos. “Estamos diante de um momento decisivo onde as corporações devem se posicionar favoravelmente à pauta da diversidade e inclusão, especialmente quando as condições se tornam desafiadoras”, conclui Nélio.

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  • Data: 29/01/2025 10:01
  • Alterado:29/01/2025 10:01
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  • Fonte: Agência Brasil









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