Debate discute a insegurança alimentar e nutricional no Brasil
O evento reuniu Gilmar Mauro da coordenação nacional do MST e Luísa Gazola Lage do NUPENS
- Data: 21/10/2022 10:10
- Alterado: 15/08/2023 20:08
- Autor: Iara S. Luz
- Fonte: PMD
Gilmar Mauro
Crédito:Dino Santos
A volta da fome no Brasil e a realidade de 33,1 milhões de brasileiros que vivem em situação de insegurança alimentar e nutricional grave, por não conseguirem comer ao menos uma refeição por dia, foram assuntos que marcaram o debate realizado na tarde de ontem, no auditório do Quarteirão da Saúde, em Diadema.
A discussão com o tema “Não Deixar Ninguém para Trás – Melhor Produção, Melhor Nutrição, Melhor Meio Ambiente e uma Vida Melhor”, integra a ações da Semana Municipal da Alimentação que a Secretaria de Segurança Alimentar realiza, em Diadema, e que vai até a próxima segunda-feira.
Este slong é o mesmo adotado pela Organização das Nações Unidas para o Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro, e que serve para refletir sobre a alimentação humana no planeta.
Durante o debate, Gilmar Mauro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Luísa Gazola Lage, doutoranda no Programa Nutrição e Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública (USP) e integrante do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS), expuseram para o público aspectos relevantes que provocam a fome no país e quanto isso afeta a vida de milhares de pessoas.
Fazendo uma apanhando do quadro atual da fome e citando José de Castro, que há muito tempo disse que a fome no Brasil é estrutural, Luísa Gazola argumentou que o desmatamento, o plantio de produtos que interessa ao agronegócio e questões governamentais contribuíram para essa situação alarmante.
“O desmatamento que acontece no Brasil tem favorecido o crescimento do plantio de soja e milho e, em contrapartida, tem diminuído, por exemplo, a plantação de feijão e arroz. Muitos dizem que a fome aumentou no país por causa da pandemia, mas não é isso. Como falarmos de insegurança alimentar e nutricional se temos recordes de produção de alimentos? Em 2014 o Brasil saiu do mapa da fome e agora voltamos novamente a ela. O que acontece é que estamos vivendo um momento de desmonte das políticas pública e isso afeta a todos”, disse.
A integrante do NUPENS falou, ainda, que a falta de alimentação atinge todas as regiões do Brasil e que as mulheres são as mais expostas. E concluiu: “As 33,1 milhões de pessoas que passam fome representam 15,2% da população brasileira. Isto quer dizer três vezes a população de Portugal. Penso que é necessário mais políticas públicas e conversas com os diversos setores da sociedade para que problema da fome diminua no país”.
Para Gilmar Mauro do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra a fome no Brasil não é atual. É histórica. O dirigente do MST disse que é momento de acabar com o problema, mas a dificuldade é que tudo para o capital vira mercadoria. “A lógica do capital é o lucro. Tudo e todos são mercadorias. Até o sequestro do carbono é vendável”, afirmou.
Gilmar ressaltou, ainda, o excesso da utilização de agrotóxicos na lavoura, que causa doenças graves na população, e sobre a grande produção de alimentos que o país realiza, segundo ele, o agronegócio a utiliza para atender aos seus interesses. “O Brasil produz muito trigo, mas os donos dos negócios preferem vender para fora, porque, a Lei Kandir lhes dá isenção de imposto sobre as exportações. Aí temos que comprar o produto de outros países”, afirma.
Ele também chamou atenção sobre a diminuição do plantio de arroz e feijão, alimentos da cesta básica dos brasileiros, e falando sobre o aquecimento global e a destruição dos biomas nacionais, alertou sobre impacto que essas duas questões podem causar aos povos. “O efeito estufa é grave e o desmatamento da Amazônia Brasileira pode tornar a região desértica, situações que serão devastadoras para a vida no planeta”, declarou.
Gilmar disse que é possível alimentar toda a humanidade de forma ecológica e que para isso novas tecnologias precisam ser inventadas. Ele ressaltou a importância da participação do estado neste setor, principalmente com políticas públicas voltadas para o pequeno produtor e a agricultura familiar.
Falando sobre iniciativas que garantem o abastecimento da população, a preços acessíveis, o dirigente do MST lembrou dos sacolões municipais que funcionaram nos anos 80/90, na capital paulista, nos governos da Montoro e Erundina. “São soluções que atendem ao consumidor e também fomenta trabalho para os pequenos produtores”, afirmou.
Antes do debate teve a apresentação musical do cantor Givaldo e estiveram no evento representantes da sociedade civil, a vice-prefeita Patty Ferreira, o secretário da Segurança Alimentar Gel Antônio, o integrante do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (CONSEAD) José Helvécio Arcanjo , secretários municipais e vereadores .